quinta-feira, 28 de março de 2019

Convite à sensatez


O presidente da Câmara dos Deputados rebateu declaração do presidente da República, que voltou a provocá-lo em entrevista à TV Bandeirantes, ao avaliar seu governo e comentar a relação com o Congresso Nacional.
Ao negar ter qualquer problema com o parlamentar carioca, o presidente do país disse que o presidente da Câmara “está um pouco abalado por questões pessoais que vêm acontecendo na vida dele”.  
Imediatamente, o presidente da Câmara rebateu, com palavras fortes, duras e absolutamente dispensáveis para o momento político, tendo afirmado que “Abalados estão os brasileiros que estão esperando desde 1º de janeiro que o governo comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, 15 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza e o presidente brincando de presidir o Brasil”.
O presidente do país ainda tentou disfarçar o estado belicoso entre ambos, tendo contemporizado, adiantando que quer a normalidade de entendimento, exatamente quando regressar da próxima viagem, ao afirmar que, “Na volta de Israel, com toda certeza, a gente vai se encontrar. A minha mão está sempre estendida para ele (para o presidente da Câmara) e ele tem responsabilidade, assim como eu”.
Após a declaração do presidente do país, o presidente da Câmara, em tom de menosprezo, a classificou como irresponsável e disse que ele está “brincando de presidir o país”.
Incontinenti, o presidente brasileiro, demonstrando estranheza, disse que “Se foi isso mesmo que ele falou, eu lamento. Não é uma palavra de uma pessoa que conduz uma Casa. Muita irresponsabilidade. Não existe brincadeira da minha parte. Muito pelo contrário, eu lamento palavras nesse sentido. Até quero não acreditar que ele tenha falado isso”.
Diante das palavras agressivas de ambas as partes, o presidente da Câmara houve por bem pedir para cessar a troca de farpas entre eles, tendo afirmado, verbis:Faço um apelo ao presidente de que pare, chega. Que o presidente peça para o entorno parar de criticar; pare de criticar. Vamos governar. Eu a Câmara e ele, o país. Chega. É natural que quando se faz uma crítica tenha uma reação, mas vamos parar. Vamos cuidar do Brasil, que está precisando: são 12 milhões de desempregados. Não é brincadeira”.
O presidente da Câmara ressaltou que, com os embates, quem mais perde é o país e arrematou, afirmando que “Eu acho que o Brasil perde. A bolsa tá caindo. A expectativa dos investidores está diminuindo. Daqui para frente, eu não respondo mais nenhuma gracinha, nenhuma insinuação nada. O que a gente precisa é que ele trabalhe. O Brasil precisa da reforma. Só vou ter uma pauta com vocês (a imprensa), que é a Previdência”.
É preciso se reconhecer que, em absoluto, não é de bom tom que o presidente do país fique fazendo juízo de valor sobre o estado emocional de ninguém, a justificar possível desequilíbrio quanto às opiniões que forem deduzidas sobre os fatos da vida.
Nem precisa de muito esforço para se perceber que a interlocução entre principais autoridades da República precisa melhorar não só urgentemente, mas em especial quanto ao seu nível, à luz da liturgia dos relevantes cargos que elas ocupam na estrutura da administração pública, que não pode ficar à mercê de pessoas insensatas, despreparadas e desafinadas não somente com relação à responsabilidade político-administrativa, mas, sobretudo, pela notória grandeza da importância das decisões de extremo interesse nacional.
É bastante visível que o baixíssimo nível das agressões mútuas se equipara a dois representantes de botequins do mais inexpressivo nível de ponta de rua, em clara demonstração de nenhuma responsabilidade senão com seus próprios umbigos, sem a menor preocupação com as suas consequências, inclusive econômico-financeiras.
À toda evidência, não se pode ignorar que os investidores, principalmente internacionais, decidem aplicar suas econômicas em país cuja administração esteja sob a responsabilidade de pessoas com firmeza e equilíbrio, além de cônscias da importância desse momento de transição político-administrativo do país, que já evidenciou que precisa, como nunca, que os homens públicos incumbidos de solucionar as monstruosas crises estejam tão somente sintonizados com os componentes necessários à sua solução, de modo que o Brasil possa retomar, o mais rapidamente possível, os trilhos do tão sonhado desenvolvimento.
É mais do evidente que as insensatas trocas de farpas entre as principais autoridades da Repúblicas, por meio de palavras ásperas e agressivas, nem mesmo empregadas em briga de inimigos mortais, somente contribuem para elevar o distanciamento entre as autoridades que mais precisam de compreensão, entendimento e convergência de ideias capazes de aplainar as estradas possíveis para o vislumbre de fórmulas superadoras das crises que precisam de efetivos combates, com a firmeza de medidas à altura das dificuldades.
Pelo menos a maioria dos brasileiros, que votou nos representantes que foram legitimados com os poderes para solucionarem as gravíssimas questões de natureza político-administrativa, não pode se frustrar ainda mais diante dos inadmissíveis entreveros sucessivamente expostos à opinião pública, em clara demonstração de injustificável disputa entre autoridades da República, emplumadas de puras vaidade  e prepotência, cuja insensibilidade política reflete de forma extremamente prejudicial sobre os interesses nacionais, em completa deformação dos objetivos ensejadores das politicas visando ao saneamento dos entraves ao progresso socioeconômico.
Urge que os princípios do bom senso, da razoabilidade e da racionalidade possam permear, com luminosidade cívica, as consciências das autoridades da República, no sentido de que as suas atitudes tenham por propósito exclusivamente ideias capazes de convergir para a busca de medidas propositivas, no âmbito dos poderes instituídos, de modo que as vaidades egocêntricas sejam superadas, em definitivo, em benefício da construção de projetos para combater as cruéis dificuldades político-econômica-administrativas e que vicejam e floresçam o equilíbrio, a compreensão e especialmente a vontade política para a aprovação de medidas pertinentes ao eficiente e eficaz saneamento das mazelas que martirizam a vida da população.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 28 de março de 2019

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