sábado, 23 de março de 2019

Ridículo protagonismo


O presidente da Câmara avisou ao ministro da Economia que deixará a articulação política pela reforma da Previdência, em razão de ter lido post do vereador filho do presidente da República, com fortes críticas a ele, o que causou-lhe irritação, tendo decidido, se achando cheio de ressentimentos,  dizer que “ser atacado nas redes sociais por filhos e aliados de Bolsonaro, o governo não precisa de sua ajuda.”.
O presidente da Câmara mostra-se irritado com a ofensiva contra ele, nas redes sociais, a falta de articulação do Palácio do Planalto e a tentativa do ministro da Justiça de ganhar mais protagonismo na tramitação do pacote anticrime.
Um dos filhos do presidente compartilhou, nas redes sociais, a resposta do ministro da Justiça à decisão do presidente da Câmara, que deixou de dar prioridade, agora, ao projeto que prevê medidas para combater o crime organizado e a corrupção, possivelmente por não haver interesse na moralização da administração do país.
O texto transcreveu o recado do ministro da Justiça, rebatendo ataques do presidente da Câmara à insistência do ministro, em apressar a tramitação do pacote, com os seguintes dizeres, verbis: "Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais".
O filho do presidente arrematou o texto, lançando a seguinte dúvida: "Por que o presidente da Câmara está tão nervoso?", como se ele tivesse insinuando que o deputado carioca estaria preocupado com alguma investigação.
Ao ler essas mensagens, o presidente da Câmara ficou enfurecido, tendo concluído que “não era possível ajudar a obter votos favoráveis ao governo nem mesmo construir a base aliada de Bolsonaro na Câmara, sendo atacado desse jeito.”.
O presidente da Câmara entende que, “ao não condenar a ofensiva de ataques na internet, o presidente do país está desprezando o seu trabalho de articulador político para angariar votos favoráveis à reforma.”.
O deputado carioca disse, em conclusão, que "Eu estou aqui para ajudar, mas o governo não quer ajuda. Eu sou a boa política, e não a velha política. Mas se acham que sou a velha, estou fora.".
É muito importante que o presidente da Câmara se conscientize, de vez, de que se trata de monstruoso equívoco ele entender que “ajuda” o governo, como se fosse a prestação de favor ele cuidar da normal e regular coordenação da tramitação do projeto da reforma da Previdência, na Casa que comanda, porque isso que ele chama de ajuda não passa de mera obrigação, do estrito cumprimento do dever funcional que incumbe a ele, como presidente de um dos órgãos que têm a incumbência constitucional de aprovar as leis do país.
É preciso que o governo não aceite isso como sendo ajuda, em forma de sacrifício pessoal, e tenha coragem, no âmbito da sinceridade e da transparência necessária na administração pública, de deixar o assunto muito claro, dizendo que o presidente da Câmara tem a responsabilidade, quer queira ou não, de cuidar da tramitação, o mais rapidamente possível, do projeto da reforma em causa, tão somente no âmbito da sua obrigação ínsita de dirigir os trabalhos legislativos na Câmara, que esteja satisfeito ou insatisfeito com o mundo, porque isso não pode prejudicar os interesses nacionais.  
Cada vez mais fica claríssimo de que, enquanto não houver a conscientização de que cada poder precisa exercer, com competência, eficiência, efetividade e responsabilidade, a sua missão constitucional, no sentido de que o Executivo cuida da execução das políticas públicas e da gestão orçamentário-financeira e o Legislativo tem o dever primordial de aprovar as leis necessárias à satisfação do interesse público e do aperfeiçoamento do ordenamento jurídico, absolutamente nada se resolve para a implementação das medidas necessárias ao atendimento do bem comum.
A função do presidente da Câmara é coordenar os trabalhos da Casa visando à aprovação das leis, sob à sua incumbência constitucional, dizendo para os deputados eleitos pelo povo, por meio de agenda, que tem projeto para ser examinado quanto à admissibilidade, juridicidade, constitucionalidade e ao interesse público e isso é o bastante para quem quiser ser favorável ou contra a medida, conforme a sua conveniência política, sem necessidade de ficar alimentando ambiente de baixaria no submundo da política, em que matéria importante pode deixar de ser votada ou até mesmo retardada a sua aprovação somente porque alguém disse algo nas redes sociais e isso é motivo para o presidente da Câmara se irritar, ficar na bronca, e dizer que deixa de se interessar pela reforma em exame porque ele não é da velha política ou coisa que o valha.
O “zangadinho” presidente da Câmara precisa saber que o projeto da reforma da Previdência precisa ser examinado por ser do interesse não do governo, tendo por finalidade o saneamento do déficit fiscal, ou seja, o rombo nas contas previdenciárias que afeta diretamente os orçamentos federais, mas sim do país, o que vale dizer que aprovado ou não o projeto a situação do presidente brasileiro se mantém completamente inalterada, apenas continua o Estado em situação calamitosa, na parte que se refere ao sistema previdenciário, que já foi sinalizado que ele carece de profundos consertos, para que possa funcionar com margem de eficiência, caso alcance o desejado superávit.
O episódio em comento mostra, com bastante nitidez, de forma explícita e com propriedade, o sentimento vil de políticos tupiniquins, que, propositadamente, misturam os assuntos públicos com interesses privados, com a gravidade de que estes são sempre colocados em supremacia àqueles, em que importante político resolve abandonar matéria de relevância nacional pelo simples fato de ter sido merecidamente desmascarado, nas redes sociais, sobre seu desempenho funcional nada republicano.
Em termos político-democráticos, o Brasil está ano-luz a reboque das republiquetas, onde os homens públicos valorizam sentimentos pessoais em detrimento dos interesses nacionais e o pior de tudo isso é que a sociedade ainda permite que essa pouca-vergonha, em forma de indignidade, prevaleça, na atualidade, quando já deveria haver regras sérias e civilizadas para o enquadramento de situação como essa, permitindo que os políticos irresponsáveis sejam afastados, definitivamente, da vida pública, possibilitando a renovação dos quadros políticos, para o bem do interesse público.
          Os senhores congressistas precisam ter a santa paciência, como se diz no jargão popular, para se conscientizarem de que a sua missão constitucional é de extrema responsabilidade pública, em especial na intransigente defesa do interesse da população, no sentido de cumprir com zelo, cidadania e civismo a sua obrigação de bem representar o povo, com dignidade e responsabilidade patrióticas, simplesmente porque isso se insere nas precípuas e inarredáveis atividades políticas.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 23 de março de 2019

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