sexta-feira, 1 de março de 2019

A importância da auditoria


O atual governo, que havia prometido rios de bondades, muitas novidades e imprescindíveis mudanças, por ter sido eleito com essa bandeira e ainda pela excepcional montagem da equipe de auxiliares com nomes qualificados e renomados, sendo uns conhecidos e outros nem tanto, por enquanto, transcorridos dois meses de existência, tem conseguido colecionar muitas atrapalhadas, muitas expectativas e ainda poucos resultados positivos, evidentemente em função das imensuráveis mudanças prometidas na campanha presidencial.
É óbvio que o seu maior benefício, em termos de extraordinário resultado político fica por conta da descontinuidade de governos do passado, diante dos gigantescos malefícios causados ao progresso do Brasil, à vista, principalmente, da precariedade da prestação dos serviços de incumbência do Estado, consistente nas persistentes e progressivas degeneração e decadência das políticas educacionais, de saúde pública, segurança pública, saneamento básico, infraestrutura etc., tudo funcionando absolutamente em condições imprestáveis, por que comprovadamente de forma ineficiente, sem controle, fiscalização e efetividade dos gastos públicos.
Para piorar esse quadro de desgraçada ineficiência administrativa, governos do passado conseguiram sofisticar a tragédia com a introdução de ingrediente cancerígeno, que foi banalizado na esfera federal, com a potencialização da famigerada e recriminável corrupção, tendo sido  institucionalizada justamente de forma sub-reptícia por meio do desvio de recursos de contratos celebrados por estatais, a exemplo da lamentável roubalheira perpetrada na Petrobras, onde a sangria do dinheiro público era processada por meio de propinoduto abastecendo partidos políticos e desavergonhados políticos, empresários, executivos, lobistas,  entre outros inescrupulosos aproveitadores de dinheiro público.
Certamente que  os brasileiros, com o cérebro por mais mínimo que tenha na caixa encefálica, nutrem desesperada esperança no sentido de que o atual governo tenha dignidade suficiente para não permitir que os cofres públicos sejam tão desgraçadamente arrombados e devassados como foi no passado recente, conforme mostram os horrorosos resultados das investigações levadas a efeito pela competente Operação Laja-Jato, o mais eficiente e genuinamente sistema brasileiro de combate à corrupção e à impunidade, que teve condições de desvendar terríveis sistemas maquiavelicamente engendrados para a subtração de recursos públicos, tendo como eficiente viés o patrocínio de atividades políticas destinadas à continuidade no poder, por meio da absoluta dominação das classes social e política, sendo, neste último caso, operada por meio da espúria compra da consciência de congressistas, em clara demonstração do aviltamento das atividades políticas, em detrimento da prestação dos serviços públicos de qualidade.
Nesse pequeno interregno, o governo já foi capaz de mostrar muitos empirismo, despreparo e inexperiência, que a sensibilidade recomendaria que seria bem melhor que muitos atos fossem evitados por meio de esforços de avaliação quanto ao momento ideal para a sua implementação, notadamente no que diz respeito à indevida participação de membros da família do presidente em assunto de Estado, que jamais seriam possível nem mesmo nas republiquetas, onde, em muitos casos, ainda se permite o respeito aos princípios do bom sendo e da razoabilidade, tendo em vista que os assuntos de interesse da República não podem ser confundidos com questões estranhas às autoridades constitucionalmente revestidas da competência para tanto.
Em se tratando de começo de governo, seriam de extremas conveniência e importância, para satisfação do interesse nacional, que as matérias relevantes pudessem ser resolvidas ou encaminhadas para a sua solução por meio da prévia auscultação da população, mediante a exposição minuciosa dos problemas a serem enfrentados pelo governo, sopesando então a conveniência ou não da sua implementação, já então com base na consagradora manifestação dos brasileiros.
Vejam-se, a propósito, que os principais assuntos já definidos no âmbito do governo, mesmo sob o reconhecimento da maior urgência possível, não resultaria maior prejuízo para a população se houvesse um pouco de demora para a sua definição, porque eles perduram de longa data e mais tempo para a sua solução, de forma adequada e possivelmente definitiva, poderia se traduzir em mais benefício para os brasileiros, depois que eles dissessem sobre a melhor maneira de como gostariam que eles fossem feitos, não apenas sob a imposição do governo.
Os casos mais emblemáticos dizem respeito à pressa para a expedição dos decretos referentes à liberação das armas, as reformas dos sistemas penal e carcerário e a reforma da Previdência, que foram definidos, no âmbito do governo, quando todos os assuntos a que eles se referem são de reconhecida importância, mas o amadurecimento sobre eles, com a participação da sociedade, poderia contribuir para o seu aperfeiçoamento, em benefício da população.
Vejam-se, em especial, a reforma da Previdência, que poderia ter sido facilmente palatável pela sociedade e principalmente pela população alvo das medidas pertinentes, que será obrigada a engolir a seco, goela abaixo, importantes transformações na sua vida, sem que tenha havido o devido respeito sobre a necessidade de ela ser  esclarecida, como é dever de governo digno e responsável, sobre as reais motivações pelas quais a reforma em causa precisa realmente ser implementada, em toque de caixa.
Diante da gigantesca importância na vida da população de trabalhadores, com enorme reflexo no seu patrimônio, em termos de Previdência Social, como o tempo de contribuição e especialmente a expectativa de aposentação, conviria que o governo tivesse a pertinácia de, antes de qualquer medida pertinente à reforma da Previdência, promovesse auditoria, com abrangência de, no mínimo, nos últimos cinquenta anos, para o completo levantamento dos recursos arrecadados e principalmente sobre a sua destinação, com vistas a se averiguar a origem dos gigantescos rombos nas contas do sistema previdenciário, tendo em conta a inobservância do princípio atuarial, que tem muito a ver com o seu equilíbrio econômico-financeiro.
Não é novidade que, desde o ingresso do trabalhador no mercado, já existe ou deveria existir previsão, na atualidade, de que o dinheiro arrecadado dele, durante 35 anos, é suficiente para bancar a sua aposentadoria e isso é feito exatamente com base no sistema atuarial, o que vale dizer que, se observada a norma de regência, jamais seria possível haver déficit na Previdência, sob a garantia de que as contribuições seriam guardadas e somente aplicadas quando o trabalhador se aposentasse, com a garantia de que seu dinheiro foi rigorosamente guardado e controlado sob os cuidados de quem de direito, que pode ser o governo ou a iniciativa privada, conforme o caso legalmente estabelecido.     
Certamente que, nos países sérios, civilizados e com o mínimo de racionalidade, em termos de respeito à dignidade das pessoas envolvidas no problema a ser discutido, apreciado, modificado e reformado, como é o caso específico da Previdência, o governo deveria previamente consultá-las, mas, sobretudo, com a obrigação de mostrar os estudos pertinentes à questão, informando o histórico sobre a origem - com base na auditoria -, com os detalhes acerca do rombo das contas, ou seja, o por que disso, a desgraça econômico-financeira do porvir, com a continuidade da manutenção do sistema falido, a projeção pretendida com as mudanças e principalmente os governos irresponsáveis que contribuíram para os astronômicos déficits previdenciários, certamente com o desvio dos recursos para outras finalidades de Estado.
Todo esse histórico precisaria ser feito com o adjutório de números, em quantidades e valores, de modo que não restasse a mínima dúvida de que realmente ou se faz a reforma ou então somente sobra o pesadelo em forma de abismo sem fim, com relação à contas previdenciárias, ficando a critério dos brasileiros quanto ao que realmente precisa ser feito ou se do jeito que se encontra está bom demais, conquanto ao governo, que foi eleito pela maioria dos brasileiros que compareceram às urnas, só tem única alternativa de cumprir a vontade soberana da população: ou pela realização da reforma da Previdência ou não, simples assim.
Em síntese, os brasileiros esperam e acreditam que já aconteceu o tanto que era permitido ao governo errar em todo o seu mandato, por ter dada clara demonstração de falta de firmeza, coerência e preparo na sua gestão, permitindo que até familiares interviessem em questões de Estado, o que é absolutamente inadmissível para país com as potencialidades do Brasil, e que, doravante, ele passe a concentrar suas atenções para a prioridade das questões de interesse público, não permitindo que elementos estranhos possam ter influência nos destinos e nos negócios que dizem respeito exclusivamente à autoridade do presidente da República, que também precisa ter a humildade de auscultar a população em assuntos de relevância do interesse da população e do Brasil.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 1º de março de 2019

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