terça-feira, 19 de março de 2019

É preciso rigor na cobrança


Em crônica recente, eu disse que a reforma da Previdência precisa ser debatida também pela sociedade, sobretudo pensando na contribuição não somente no combate ao déficit contas previdenciárias, mas especialmente na garantia de que haja mais justiça na gestão do sistema, que atualmente beneficia muito mais aqueles que estão no topo e prejudicam em especial quem está na parte de baixo.
Ressaltei, na oportunidade, que muito pouco se tem conhecimento sobre os números do real rombo financeiro da Previdência, os principais motivos pelos quais ele alcançou patamar tão alarmante e quais as perspectivas, no caso da aprovação das mudanças propostas pelo governo ou até mesmo se nada acontecer, ficando tudo na precariedade do momento, em que o déficit previdenciário continuará sob a responsabilidade dos brasileiros.
Diante das informações vindas do governo, a presente reforma visa a se evitar o colapso das contas públicas, em geral, porque o déficit da Previdência tem reflexo no conjunto dos orçamentos públicos, em todos os níveis da federação.
Ou seja, a Previdência tem enorme dependência às arrecadações de outras fontes orçamentárias, inclusive exigindo a contratação de empréstimos no mercado para bancar o déficit, que já se tornou crônico e insustentável, nas condições atuais.
Diante dessa explanação, um cidadão que leu a crônica em referência, demonstrando justas indignação e insatisfação com a reforma em comento, disse o seguinte: “Só sei que perdoar dívidas dos banqueiros não parece uma solução que beneficia o país. A conta é só para o pobre... Fala um pouco sobre a DRU, dinheiro tirado da previdência que é nosso e dos 600 bilhões para distribuir nas pastas do governo...”.
Imediatamente, eu respondi ao referido senhor, dizendo que, a par de muitas lacunas que precisam ser esclarecidas com relação à matéria em debate no projeto em apreço, eu defendo auditoria nas contas da Previdência, à luz do princípio da transparência, com vistas a se verificar para onde foi o dinheiro que nós já pagamos e o gato comeu e ninguém viu.
Com o que o referido cidadão, de pronto, retrucou, tendo questionado o seguinte: “Mas e a isenção dos grandes empresários?”.
Nessa parte, eu tentei ser um pouco mais prolixo, tendo afirmado que, na verdade, há alarmante deficiência na gestão da Previdência, de longa data, não só pela indevida retirada de dinheiro do sistema para o emprego em outros interesses próprios do governo e diferentes da finalidade da Previdência, mas com a concessão de benefícios, igualmente indevidos, a empresas devedoras, com jeitinho brasileiro de perdão de dívidas e a falta da aplicação da lei para a cobrança da dívida das empresas devedoras, que ainda continuavam sendo privilegiadas com empréstimos e benefícios fiscais e creditícios, ou ainda com a exoneração da folha de pagamento de determinadas empresas, tudo contribuindo para o crescente déficit das contas da Previdência, cujo rombo é realmente contabilizado em bilhões de reais.
Há muitos casos em que as empresas recolhem o dinheiro do trabalhador e não o repassam para a Previdência e, o mais grave, não há punição contra esses crimes contra o contribuinte, que terminam agravando a saúde das contas previdenciárias, cujo déficit é repassado para os ingênuos brasileiros, por meio do endividamento público, muitos dos quais nem têm vinculação com a Previdência, ou seja, o déficit previdenciário tem o poder de afetar os brasileiros em geral.  
É evidente que não adianta mudar a Previdência se não houver eficiência no sistema, no seu conjunto, principalmente na necessária arrumação daquilo que funciona precariamente e de forma ineficiente, notadamente no que diz respeito à arrecadação, que precisa de urgente e adequado ajustamento à realidade das contas, para que as cobranças, tanto na via administrativa como judicial, das grandes empresas sejam aperfeiçoadas e modernizadas, com a exigência de que as contribuições da Previdência passem a ser recolhidas rigorosamente no devido tempo legal, tanto as contribuições devidas pelas empresas como as dos empregados, de modo que haja punição dura para quem descumprir as normas aplicáveis à espécie.
Isso o governo precisa cuidar, com a devida prioridade, não tentando organizar somente o sistema previdenciário, com a promoção das necessárias correções de notórias injustiças, mas cuidando do imprescindível controle, com vistas às eficiência e otimização do sistema de arrecadação, sem descurar do mesmo tratamento de esmero e empenho com relação às cobrança dos devedores, que são contumazes, justamente por falta do devido rigor do controle e da fiscalização.
Ou seja, não adianta somente se promover a reforma das regras básicas da Previdência em si, com a correção pontual das distorções e injustiças, se não houver o necessário aprimorado também no sistema pertinente ao controle e à arrecadação de contribuições previdenciárias, porque a conta termina sendo entregue aos brasileiros, i.e., aos contribuintes, porque as contas são sempre pagas pelo Tesouro Nacional.
Não há a menor dúvida de que o rombo das contas previdenciárias chegou a tal ponto por exclusiva culpa de seu principal gestor: o governo, não o atual, mas os anteriores, que tinham conhecimento sobre a gravidade da situação, mas nenhuma medida saneadora foi adotada, com vistas a se evitar o coas que tem sido a Previdência, sob ameaça de não ter dinheiro para pagar os aposentados, que já contribuírem a vida toda para o sistema, diante da corrosão que destruiu os seus pilares, que não têm condições de resistência para seguir adiante sem as famigeradas reformas, que se tornaram inadiáveis, por sua real imprescindibilidade.         
A verdade nua e crua é que bastante coisa precisa ser feita concomitantemente à reforma em apreço, inclusive com a participação da sociedade, que tem o dever de cobrar providências do governo, para a adoção das necessárias e pertinentes medidas de aperfeiçoamento do sistema previdenciário, no seu conjunto, com especial enfoque também para a cobrança das dívidas das empresas que deixam de cumprir a sua obrigação e terminam onerando até quem não tem vínculo com a Previdência.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 19 de março de 2019

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