terça-feira, 5 de março de 2019

Questão de princípios religiosos


Recentemente, em atitude histórica, o Vaticano realizou a primeira cúpula para discutir um dos temas mais relevantes para a Igreja Católica, que tem sido o seu preocupante calcanhar de Aquiles, nesse momento difícil, qual seja, o abuso sexual de crianças e adolescentes no seu seio, que tem sido objeto de constantes e perturbadoras denúncias.
A expectativa sobre o resultado positivo do encontro foi plenamente atendida, tendo sido decidido, com a liderança do papa, que a igreja não pode aceitar mais que crimes tão hediondos continuem a ser cometidos sob o manto da impunidade, sendo necessária, em contraposição, resposta dura à questão da pedofilia, diante do enorme e iminente risco do rebanho de Jesus Cristo debandar cada vez mais, exatamente por completo descrédito das autoridades eclesiásticas.
As dificuldades para a discussão de tema bastante espinhoso para a igreja se arrastam de longa data, mas, desde o início de pontificado do atual papa, vez por outra, ele vinha à tona, sempre contando com a disposição dele para o enfrentamento desse câncer que tem sido capaz de não somente de infernizar, mas de vergonhar a Igreja Católica.
Mesmo se tratando de tema de notória degradação da ética e da moral cristãs, existe, de maneira absolutamente incompreensível, a ala conservadora da igreja que se opõe e resiste à sua discussão, justamente porque ela é composta por religiosos que ainda dominam parte importante da instituição e participa, em cumplicidade, em complô para dificultar a apuração dos casos de pedofilia na igreja, talvez por acreditar que a melhor forma de abafar o horrorosa escândalo é manter os religiosos criminosos escondidos em paróquias nos confins do mundo ou não se fazendo comentários sobre eles.
No discurso de abertura do encontro, sob o sugestivo título de “A proteção de menores na igreja”, o papa foi bastante enfático, ao afirmar que “O povo de Deus nos olha e espera não condenações óbvias e simples, mas medidas concretas e eficazes”.
Nem precisa de esforço para se compreender que são visíveis e alarmantes os estragos, principalmente psicológicos, causados por membros da igreja às vítimas de abusos sexuais e isso exige punições severas e extremamente exemplares, para que haja solução, em benefício tanto para a própria instituição como para a comunidade religiosa de todo mundo.
Convém que os delinquentes pedófilos sejam identificados, punidos e sejam obrigados a pagar por seus terríveis pecados, porque a impunidade tem o condão de estimular as mentes doentias e perversas contra vítimas inocentes e indefesas.
No encontro, o papa disse que ”Estendia a mão a todos que foram violentados na sua inocência e assegurou que a escória que se apresenta como representante de Deus será varrida do mapa.”.
A comunidade católica mundial nutre a esperança de que esse vaticínio papal seja realmente objeto de efetividade, com a limpeza moral da Igreja Católica, medida essa extremamente necessária, que já vem com bastante atraso, depois de muito martírio vivido pelas vítimas.
A verdade é que alguns bons exemplos já vêm sendo mostrados pelo papa, que, na véspera do encontro histórico no Vaticano, decretou a excomunhão de um padre goiano, em razão de ter abusado sexualmente, pelo menos, 11 ex-freiras e ex-noviças, além de outro caso modelar da eliminação de um cardeal da igreja, diante da constatação de violência contra seminaristas e outros religiosos.  
A igreja católica precisa compreender que a sua sobrevivência depende não somente da transparência e da verdade, mas, em especial, da implacabilidade contra os abusos que são cometidos em nome de instituição de extrema respeitabilidade, que precisa restabelecer a sua dignidade perante o rebanho de Jesus Cristo, que foi indiscutivelmente o modelo de ser humano a ser sempre seguido, por ter sido indiscutivelmente a maior autoridade, em termos de amor ao próximo.  
Não há a menor dúvida de que a solidez e a pertinácia nas boas intenções do papa, na tentativa de colocar a Igreja Católica no plano da modernidade da história, constituem verdadeiro galardão capaz de coroar o seu pontificado, a despeito da inconciliável fúria dos religiosos incomodados e insatisfeitos com a destemida atitude de transparência, modernidade e limpeza moral da instituição de Jesus Cristo.
Embora a Igreja Católica não represente toda humanidade mundial, já merecia ter sido dado esse grito de reafirmação e de libertação da sua clausura bastante prejudicial aos anseios apenas de evangelização, com base nos princípios instituídos por quem mais teve o dom da influência religiosa mundial, justamente porque a palavra de Deus não pode ceder à deturpação que vem sendo dada por religiosos imbuídos de sentimentos demoníacos.
Há que se reconhecer o valoroso empenho do papa em resistir à força da ala tradicional da igreja, na sua missão espinhosa e corajosa de combate aos casos indignos que não podem continuar no seio da instituição que tem o dever da disseminação somente das práticas do bem e do amor entre os seres humanos, tal qual assim era o verdadeiro desejo de Jesus Cristo.  
Percebe-se, com muita clareza, que nasce real esperança, à vista da demonstração de interesse do papa, tanto de enfrentar os trogloditas da ala conservadora da igreja como de punir os criminosos que agem desrespeitosamente em nome Deus, de que os tempos de impunidade e de olhos fechados para as atrocidades contra vítimas inocentes podem estar por um fio ou até mesmo com os dias contados, porquanto, doravante, não haverá perdão para a omissão das autoridades eclesiásticas, à vista da obrigatoriedade da purificação moral da igreja, que precisa ser irreversível.
Espera-se que, com o resultado desse importantíssimo encontro para a discussão de abusos sexuais a menores, onde foi batido o martelo sobre a necessidade da limpeza ética e moral da Igreja Católica, não somente as excomunhões, mas outras punições duras aos religiosos com índole criminosa e deformada passem a ser frequentes, justamente para a eliminação, em definitivo, das práticas tão perversas e desumanas contra fiéis ingênuos e indefesos, por serem atos dissonantes dos saudáveis princípios e fundamentos do cristianismo, que se funda em linda, relevante e valiosa missão evangelizadora dos ensinamentos construtivos e edificantes disseminados desde Jesus Cristo, o idealizador e fundador dessa santa instituição milenar, que precisa urgentemente restabelecer, na prática, o verdadeiro sentido da pureza moral. 
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 5 de março de 2019

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