sexta-feira, 8 de março de 2019

Incompatibilidade moral

Nos governos recentes, houve verdadeira esculhambação protagonizada com a disseminação desavergonhada do escrachado fisiologismo, em clara demonstração de vulgaridade da dignidade na gestão dos recursos públicos, em que partidos políticos formavam aliança ou coalizão de governabilidade, em apoio aos projetos formulados pelo Palácio do Planalto ao Congresso Nacional e, em compensação, eram agraciados com ministérios e empresas estatais, além de emendas parlamentares.     
Até então, o Brasil exibia uma das mais impudicas qualidades de administração pública, tanto que essa prática indecente recebeu a denominação deprimente de “toma lá, dá cá” e, nem por isso, de indiscutíveis e corriqueiras as práticas vis, os governantes e, muito menos, os indecoros congressistas tinham suas caras ruborizadas, diante da oficialização de prática extremamente desmoralizante na administração pública.
O atual presidente do país enxergava nesses procedimentos indignos práticas incompatíveis com a moralidade intrínseca da administração pública, como sendo algo errado que precisava acabar e logo resolveu, ainda no calor da campanha eleitoral, quando tudo pode ser ingrediente do jogo eleitoral - vejam-se como compromisso palanqueiro -, que “jamais se renderia ao fisiologismo rasteiro do toma lá dá cá.”.
Ele jurou que pretendia inaugurar nova prática de relações com o Parlamento, tendo por base o exclusivo atendimento ao interesse público, respaldado em programas e condutas de civilidade e responsabilidade políticas, com o descarte do desonesto e deplorável balcão de negociatas envolvendo recursos públicos, com a finalidade de regatear apoios em troca de emendas, cargos e verbas.
Em que pese a palavra do capitão ter sido piamente acreditada por seus eleitores, o diabo da política entrou no circuito e o eleito mandatário da salvação da pátria, o venerado mito impoluto da maioria de seus simpatizantes, é desmentido logo no início do seu governo, quando foi constatado que foram oferecidos pelo Palácio do Planalto benesses e paparicos a deputados e senadores, em clara demonstração de que realmente tudo não teria passado de promessa de campanha, sendo jogada para o espaço sideral belíssimo compromisso em favor da ética e da moralidade na gestão pública, com a abertura dos cofres públicos e a entrega de cargos públicos a parlamentares, com a finalidade da aprovação da reforma da Previdência.
Fala-se que as emendas a serem liberadas estariam em torno do valor de R$ 7,5 milhões, como cota em obras e repasses federais para cada deputado recém-eleito e de R$ 10 milhões aos caciques da velha guarda reeleitos, tudo em forma de emendas e endossos aos seus respectivos projetos regionais, fato este que caracterizariam o mais novo “toma lá, dá cá” do governo da chamada “moralização”.
          À toda evidência, o governo demonstra enorme dificuldade para o diálogo, que faz parte da dialética política, como mola propulsora para a prática da democracia entre poderes da República e é evidente que isso impede o vicejar da aproximação do governo com o Parlamento, restando daí a arte do diálogo mudo e rasteiro da barganha venal, em forma da vergonhosa partilha de emendas e cargos envolvendo recursos públicos, para o convencimento de aproveitadores eleitos pelo voto popular, que deveriam primar pela dignidade no exercício de cargo público eletivo.
Acredita-se que o governo teria criado até nome sugestivo para a distribuição de cargos nos segundo e terceiro escalões, qual seja, o “Banco de Talentos”, que concederia outorga aos parlamentares para decidirem quantos e quem serão os seus afilhados a ocuparem funções na esfera federal, mas, atenção, é preciso que seja preenchido o exigido “currículo”, não podendo ser qualquer um apaniguado sem mérito, que não faz nenhuma diferença em termos de moralidade, porque esse requisito já foi, impiedosamente, para o brejo, juntamente com seus protagonistas.
A história ridícula e risível é remontada na “nova” República, com o mesmo drama de tragicidade e esculhambação visível à luz do dia, que não pode ser engolida sem o mais veemente repúdio, principalmente porque isso só demonstra falta de dignidade do governo e tremendo desprezo à credibilidade dos eleitores que acreditaram na palavra dada pelo candidato, que ela deveria ser honrada, custasse o que custasse.
Essa é a triste realidade política, em que o homem público deixa de honrar a sua palavra, em momento de descuido e fraqueza moral, em busca de objetivo de governo, sem sopesar o tamanho do estrago de seu vacilo decisório, com pútrida formalização do vergonhoso e indigno fisiologismo, acomodado no governo por necessidade de satisfazer a vaidade presidencial com a aprovação de projeto importante, que seja, mas é imperdoável o indelével pecado da entronização no seio dele, que apenas se inicia com a clássica degradação da moral e da dignidade, além, principalmente, da inadmissível negação da palavra dada nos palanques, de que o profano fisiologismo não tinha vez no governo de “mudanças moral”.
Brasil: apenas o ame!
       Brasília, em 8 de março de 2019

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