segunda-feira, 11 de março de 2019

Perversidade ao principio republicano da dignidade


Em crônica recente, foi abordada a horrorosa esculhambação como o degradante fisiologismo foi banalizado nos governos passados e que o atual estaria prestes a inaugurar o idêntica prática na “República das mudanças”, em total desmoralização dos princípios da ética e da moralidade, tão arduamente defendidos pelo presidente da República, ao que parece da boca para fora, quando da sua campanha eleitoral, tendo prometido que essa baixaria seria banida da sua gestão.
No passado, era normal o governo e os partidos políticos formularem aliança ou coalizão de governabilidade, tendo por propósito apoio aos projetos do Palácio do Planalto enviados ao Congresso Nacional em troca, como suja compensação, eles eram agraciados com o loteamento de ministérios e empresas estatais, além da distribuição de emendas parlamentares, selando assim verdadeira farra com recursos públicos, em completa indignidade celebrada à luz do dia.     
Talvez em momentos de lucidez de consciência moral, ainda no calor da campanha eleitoral, o atual presidente do país entendia que a indignidade desses atos espúrios não podia existir na administração pública e garantiu que “jamais se renderia ao fisiologismo rasteiro do toma lá dá cá.”.
O presidente deixou claro que iria inaugurar nova prática de moralidade perante o Parlamento, à luz da conceituação sobre a satisfação do interesse público, com supedâneo em programas e condutas de civilidade e responsabilidade políticas, abandonando, em definitivo, o aviltante e desonroso balcão palaciano de negociatas envolvendo recursos públicos, com a finalidade de satisfazer à inescrupulosa sanha de aproveitadores de recursos públicos, na consistência de emendas parlamentares e cargos públicos.
Em que pese a palavra do capitão ter sido piamente acreditada por seus eleitores, no presente, o diabo da política entrou no circuito e o eleito mandatário da salvação da pátria, o venerado mito impoluto da maioria de seus simpatizantes, é desmentido logo no início do seu governo, quando foi constatado que foram oferecidos pelo Palácio do Planalto benesses e paparicos a deputados e senadores, em clara demonstração de que realmente tudo não teria passado de promessa de campanha, sendo jogada no lixo importante  compromisso em favor da ética e da moralidade na gestão pública, por meio da abertura dos cofres públicos e da entrega de cargos públicos a parlamentares, com a finalidade da aprovação da reforma em apreço.
Diante da urgente necessidade da aprovação da reforma da Previdência, que simboliza a menina dos olhos do presidente ou a coroa da República, fala-se que o capitão estaria disposto a aceitar a ideia de sacramentar humilhante acordo com congressistas, no sentido de liberar verbas e nomear apadrinhados desses deformados e despudorados políticos, que comprometeriam a aprovar projeto que apenas estaria na incumbência da sua deliberação, sem qualquer recompensa espúria. ação”.
Motivado pelo conteúdo da aludida crônica, o nobre conterrâneo Xavier Fernandes, em alentado texto, discorreu, com muita propriedade, acerca do tema em discussão, dizendo que, verbis: “Sua crônica é bastante lúcida e pertinente, fala do que são realmente teorias, palavras e depois a prática, o real. Estou quase que convencido que qualquer governo, mesmo o mais bem intencionado e rigoroso, radical, não consegue muita coisa se não ceder algo para essa turma do Parlamento. Ou cede ou vai ficar engessado. Nada vai sair do papel. É lamentável! Contudo, tem que abrir de mão para que seja possível começar algo na direção lógica. Infelizmente não há quem consiga ser 100% radical... até então. Quanto às emendas, elas são ações de bons benefícios voltadas para as regiões dos parlamentares. Agora, devem ser rigorosamente acompanhadas e fiscalizadas para que sejam usadas nos seus verdadeiros objetivos... É uma tarefa impossível não flexibilizar, pois essa filosofia política vai levar décadas para ser desfeita. Contudo, é uma terapia que vai precisar de muitos governos que deem continuidade a esse processo de depuração. Eu ainda acredito que muita coisa pode melhorar, mas é impossível sair como foi planejado... A nossa engrenagem política vem totalmente fora dos trilhos há mais de 40, sei lá, 50, 60 anos. Então, é uma operação lenta e de muita rejeição, haja vista o que vemos todos os dias na grande imprensa e em muitos setores, pois há muitas resistências com a intenção de prejudicar, atrapalhar, paralisar e bagunçar o governo. Tudo isso fruto de uma politicagem mesquinha, de um aparelhamento total da máquina pública, pois, até que se desarme essa montagem, será às custas de muitos sacrifícios e muitos desgastes perante a opinião pública. É uma faca de dois cortes... É muito difícil..., mas acho que já foi um primeiro passo pelo tudo que já vimos como operações, prisões de medalhões, investigações, condenações. Enfim, está começando um horizonte. Só não há condições é de que automaticamente tudo seja resolvido com uma varinha de condão. Claro que o governo apresenta suas falhas, mas num labirinto complicado desses é possível. Eu torço que uma nova era tenha começado. Ainda é muito cedo e precoce avaliar com mão de ferro algo tão embrionário... São dificuldades de toda natureza. Quero novamente parabenizá-lo por tão importante opinião, que faz uma análise bem fundamentada dentro da lógica e dos fatos. É sempre um aprendizado ler as suas matérias, pois nos põem numa posição privilegiada de conhecimento e informações precisas...”.
Com base nas lições emanadas pela cátedra do mestre Xavier Fernandes, a par de agradecer a sua valorosa mensagem, rica em sapiência e ensinamentos, mostrando o real contexto da politicagem tupiniquim, que tem objetivos diametralmente diferentes do interesse público. conquanto seja essa o que bem se aproxima da melhor compreensão sobre a tragédia que grassa na vida política brasileira, escrevi o seguinte texto, que sintetiza meu pensamento sobre o que se poderia compreender sobre dignidade na gestão dos recursos públicos, em relação ao tema em discussão: fisiologismo.
É possível ousar se imaginar um cenário um pouco mais próximo do misto de suicídio político ou de vitória consagradora, conforme a digressão feita a seguir.
Já até tive a oportunidade de escrever algo sobre essa questão, dizendo exatamente  que cabe ao presidente da República, na qualidade de titular do Poder Executivo, com base na contextualização constitucional e legal, auscultar, em princípio, a população, à luz de seus anseios prioritários, levando-se em conta as deficiências pertinentes à educação, à saúde, à segurança, ao saneamento básico etc., e formular precisa e adequadamente os projetos decorrentes, para a consecução das ações governamentais, tudo no âmbito da sua competência institucional.
Na forma preceituada na Carta Magna, os projetos legais são enviados ao Congresso Nacional, com as justificativas devidamente fundamentadas de que as matérias circunstanciais traduzem fielmente a vontade da população, em estrita ressonância com a necessidade da satisfação do interesse público.
É de suma importância ser assinalado, de forma bastante clara, que os projetos são fruto de estudos que identificaram graves problemas que precisam ser solucionados na forma dos textos de que se tratam, cabendo ao Poder Legislativo a incumbência, na forma constitucional, de aprovar ou não, na medida de seus compromissos e responsabilidades perante os seus representados, ou seja, o povo.
A decisão presidencial precisa ser firme, curta e grossa, dizendo que foi providenciada a parte que, primariamente, lhe compete e a matéria enviada  para o Legislativo, que tem competência constitucional de examinar, concordar, discordar, aprovar ou não, tirando do Executivo qualquer tipo de culpa pela falta de aprovação ou até mesmo pela aprovação daquilo que simplesmente não atende plenamente aos objetivos originários.
Com esse entendimento, acaba, em definitivo, a pouca-vergonha de negociata, compreendida no espúrio fisiologismo inexiste nas Repúblicas dignas, sérias e civilizadas, em termos de moralidade e decoro dos parlamentares, onde não há essa forma de prostituição da consciência legislativa, visando à busca de recompensa espúria para aprovação de matéria que cabe organicamente ao Legislativo.
Para tanto, é tomado como exemplo a reforma da Previdência, em que o governo precisava, na forma clássica como afirmado acima, apenas promover estudos detalhadíssimos pertinentes à matéria, já que o problema é notório, para possibilitar o fornecimento de informações precisas sobre a origem do rombo das contas previdenciárias, a real situação deficitária e a projeção financeira do quadro acerca o desempenho das contas previdenciárias, para o futuro, tanto no caso de aprovação do projeto como se nada for feito para modificar o caos que o sistema se encontra e isso seria mais do que suficiente para que o Congresso Nacional examinasse a reforma, a aprovando ou não, conforme o seu entendimento acerca da questão.
É evidente que não há a menor necessidade de o Executivo precisar dizer senão algo que não ficou claro para discussão ou apenas esclarecer as dúvidas ou complementar as possíveis deficiências normais de informação, em se tratando de projeto complexo e substancioso, obviamente sem o envolvimento de recursos públicos para o seu exame, na forma legal.
Conforme o resultado do Parlamento, o governo apenas informa à população se o texto aprovado satisfaz ou não às carências informadas a quem tem poder para bater o martelo sobre elas, quando então pode-se dizer, se for o caso, que a responsabilidade pela solução da grave crise da Previdência é exclusivamente do Congresso, que não quis entendê-la, tendo deixado de aprovar as medidas que propôs como ideal para solucioná-la.
Simples assim, cabendo tão somente a cada Poder da República assumir as suas responsabilidades, na medida das suas atribuições ou omissões constitucionais e legais, mantendo-se a legitimidade sobre a autonomia e independência de cada poder.
Enquanto não se agir com a devida responsabilidade, nos termos estabelecidos na Constituição, os aproveitadores dos recursos públicos sempre encontram espaço para agirem de forma inescrupulosa e espúria, exatamente em consonância com a precariedade que ainda impera livremente no sistema político brasileiro, infelizmente alimentada por quem tem poder para desmascarar tamanha indignidade, de extrema perversidade aos consagrados princípios republicano e democrático.
          Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 11 de março de 2019

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