sábado, 9 de março de 2019

O fim da impunidade na Igreja Católica?


O Vaticano, em gesto inédito na sua história milenar, acaba de dar verdadeira demonstração de que é preciso, finalmente, resolver a massacrante questão relacionada com os abusos sexuais de crianças e adolescentes na Igreja Católica.
Foi realizado, na Cidade Santa, a conferência que foi denominado de “A Proteção dos Menores na Igreja” e contou com a presença de 114 representantes de Conferências Episcopais — instituições que congregam os bispos de países -, além de autoridades e especialistas relacionadas ao tema do encontro.
Às vésperas da conferência, o papa, quase que a propósito, cuidou de expulsar da Igreja Católica um cardeal, que foi arcebispo de Washington, nos EUA, justamente em razão da comprovação da prática de pedofilia.
A atitude do pontífice teve o condão de reforçar o discurso e o tom que se esperavam do encontro, nada mais, nada menos, de gestão representativo de “tolerância zero”.
O para asseverou, de forma enfática, que “A Igreja não se cansará de fazer todo o necessário para levar à justiça qualquer um que tenha cometido tais crimes. A Igreja nunca tentará encobrir ou subestimar nenhum caso”.
Na ocasião, um cardeal alemão fez marcante pronunciamento, tendo reconhecido que “A Igreja Católica destruiu arquivos sobre os autores de crimes sexuais contra crianças e adolescentes.”.
Ele, como é conhecido por uma postura mais progressista, pediu maior transparência nas investigações sobre os casos de pedofilia.
Os escândalos da Igreja Católica, acontecidos no Chile e no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos da América, são outros exemplos importantes na história recente da Igreja Católica, por mostrarem o verdadeiro círculo de poder e proteção, que são capazes de esconder, por anos a fio, situações de enorme degradação moral e religiosa.
 No caso chileno, o papa teve de reconhecer que a igreja falhou em assistir as vítimas e investigar as denúncias, bem antes da deflagração dos escândalos.
Já na Pensilvânia, foi descoberto ainda um modus operandi para evitar grandes repercussões, por meio do qual os crimes não eram levados à justiça e, sim, simplesmente silenciados e abafados pelas autoridades eclesiásticas.
Um exemplo recente de abusos sexuais na igreja aconteceu no Brasil, conforme escândalo apurado na Paraíba, em que a Justiça do Trabalho condenou a arquidiocese local a pagar R$ 12 milhões em indenização por casos de exploração sexual de menores.
O padre diretor do curso de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) avalia e reconhece que ainda existe postura equivocada por parte de dioceses que preferem, de forma errada, proteger a instituição da igreja, em vez de priorizar o cuidado com as vítimas e classifica isso como imperdoável falha da instituição católica.
Ele disse que “É uma ilusão defender a instituição nesses casos. Isso faz com que ela mesma se enfraqueça. Se a Igreja não despertar, as consequências serão desastrosas”.
O padre entende que “há necessidade de uma maior fiscalização dos bispos que descumprem as orientações do Vaticano e não investigam as denúncias.”.
Nesse contexto da maior preocupação para a igreja, o papa tem demonstrado postura diferenciada de seus antecessores, em muitos aspectos, e isso é reconhecido pelos estudiosos e especialistas, que afirmam já ter havido passado o momento para a maior autoridade da igreja ser sensível e auscultar as denúncias e tomar as medidas cabíveis.
No enfrentamento ao abuso sexual, não há a menor dúvida de que o papa segue na vanguarda, sendo o primeiro e mais atuante pontífice a encarar a questão com coragem e determinação, principalmente à vista das atitudes dos seus dois antecessores, que se não acobertaram a pedofilia na igreja, nada fizeram para punir os envolvidos nessa deprimente realidade da instituição, talvez com base na falsa e irresponsável concepção de que os crimes dessa natureza poderiam prejudicar a imagem da Igreja Católica, embora em crescente estágio de perda de credibilidade moral.
Comenta-se que, em especial o último papa que renunciou ao pontifício, teria, por meio de carta a todos os bispos, proibido, sob sigilo pontifício, que “padres pedófilos fossem entregues à justiça civil”, ou seja, ele demonstrava interesse em punir os pedófilos da igreja, mas, ao que parece, temia pelo escândalo da transparência, o que foi grave erro dele, porque a sua omissão contribuiu para a fragilização alarmante da igreja.
Com base no resultado da conferência, o Vaticano deve elaborar, nos próximos meses, documentos com diretrizes para as dioceses sobre os pontos principais discutidos no evento.
Os novos protocolos devem envolver, entre outras questões, orientações a respeito do processo de formação de futuros padres, no intuito de prevenir novos abusadores na Igreja Católica, tendo por base a perseguição de orientação à formalização de parâmetro de seleção mais eficaz dos futuros clérigos, de modo que isso leve senão a eliminar a pedofilia na igreja, mas a reduzir drasticamente a incidência desse câncer no seu seio.
A propósito, o arcebispo de São Paulo disse que as arquidioceses esperam as decisões formais do Vaticano sobre o resultado da conferência em causa, para tomarem providências cabíveis, visto que “Estamos aguardando as normativas que serão enviadas da Santa Sé”.
Não tem o menor significado a pregação terrena de um Deus misericordioso, que opera as maravilhas do plano celestial, quando a sua igreja, aqui na Terra, é pusilânime e ainda não tem condições do reconhecimento das suas fraquezas e de seus erros, totalmente incapacitada para punir os malfeitores que infelizmente agem em nome da instituição, sob o manto da impunidade.
É preciso sim mudar, com urgência, essa situação, para mostrar determinação e coragem das verdadeiras autoridades eclesiásticas, no enfrentamento dos poderosos negligentes e omissos da igreja e tentar mudar todo conceito de comodismo que imperava com o beneplácito inclusive da sua cúpula igualmente omissa e irresponsável, tendo como princípio a recuperação da ética e da moralidade da Igreja Católica, de modo a fortalecê-la como instituição séria de atributos e capacidades em condições tais que possam contribuir para a revitalização da sua finalidade primária de evangelização dos ensinamentos de Jesus Cristo.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 9  de março de 2019

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