O envio de mensagem, em tom de cobrança, pelo
ministro da Justiça e Segurança Pública ao presidente da Câmara dos Deputados
levou o parlamentar a disparar duras e pesadas críticas ao auxiliar do
presidente da República, por não aceitar a insistência sobre a celeridade no
pacote anticrime, apresentado pelo governo ao Congresso Nacional.
No texto, o titular da Justiça teria lembrado ao presidente
da Câmara sobre a falta de cumprimento de acordo para que o projeto anticrime
tramitasse concomitantemente com a reforma de Previdência.
Em resposta bastante ríspida e mordaz, o deputado
carioca pediu respeito ao ministro, tendo lembrado que era ele o presidente da
Câmara, cargo que tem a atribuição de definir a pauta de votações da Casa,
medidas essas deselegantes.
A aliados, o deputado disse que o ministro estava
sendo inconveniente pelo gesto e que não havia descumprimento nenhum de acordo.
Ele disse ter acordado com o Palácio do Planalto
que priorizaria na pauta da Câmara a aprovação da reforma da Previdência,
considerada crucial para a gestão do presidente do país e que, na sequência,
colocaria o texto do pacote anticrime para tramitar.
Em menos de uma semana, o ministro cobrou duas
vezes diretamente ao presidente da Câmara, o que contribuiu para este ficasse
chateado e descontrolado.
A irritação do presidente da Câmara o fez
desqualificar e até apequenar o projeto anticrime em causa, tendo dito que o
texto é "copia e cola" de
proposta sobre o mesmo tema que já havia sido apresentada pelo então ministro
da Justiça do governo anterior.
O presidente da Câmara disse, em resposta a um
questionamento sobre se o ministro da Justiça estava se intrometendo na Câmara,
o seguinte: "O funcionário do
presidente Bolsonaro? Ele conversa com o presidente Bolsonaro e se o presidente
Bolsonaro quiser ele conversa comigo. Eu fiz aquilo que eu acho correto. O
projeto é importante, aliás, ele está copiando o projeto direto do ministro
Alexandre de Moraes. É um copia e cola. Não tem nenhuma novidade, poucas
novidades no projeto dele".
O deputado negou estar irritado com o ministro da
Justiça e disse que ele "conhece
pouco a política. Eu sou presidente
da Câmara, ele é ministro funcionário do presidente Bolsonaro”, tendo
afirmando, em conclusão, que “O presidente
Bolsonaro é quem tem que dialogar comigo. Ele está confundindo as bolas, ele
não é presidente da República, ele não foi eleito para isso. Está ficando uma
situação ruim para ele. Ele está passando daquilo que é a responsabilidade
dele. Ele nunca me convidou para perguntar se eu achava que a estrutura do
ministério estava correta, se os nomes que ele estava indicando estavam
corretos".
Em
princípio, tudo que o presidente da Câmara disse, com relação à interferência
do ministro na tramitação do pacote anticrime em comento parece que tem plena
pertinência, ressalvadas as dispensáveis grosseria e dureza, diante da falta de
competência legal para que ele possa se manifestar senão no âmbito e
exclusivamente do ministério comandado por ele.
Na
verdade, em hipótese alguma, é adequado ministro ficar especulando sobre tramitação
ou momento do exame, no âmbito do legislativo, de matéria de interesse do
governo, que somente estaria sob a incumbência, se for o caso de excepcionalidade,
do presidente da República, que também pode, no máximo, ponderar no sentido de
se atribuir prioridade ao examine da alçada do Legislativo, à luz da sua
importância para o interesse nacional, mas, mesmo assim, jamais no que se
refere a projetos que tenham por finalidade combater o crime de corrupção,
diante de o fato constituir, em si, acinte ao Congresso, permeado por homens
públicos nem tanto interessados em privilegiar o combate à corrupção, diante de
muitos exemplos nesse sentido.
Os
fatos mostram que muitos congressistas estão encalacrados com os crimes
capitulados no projeto enviado pelo Palácio do Planalto ao Parlamento, cuja
tramitação certamente não atende à conveniência de quem têm a incumbência constitucional
do seu exame e da sua aprovação, diante da implicação de muitos parlamentares
com a Justiça.
Ou
seja, não resta a menor dúvida de que o ministro da Justiça, embora tivesse
demonstrado especial interesse, por ser o responsável pelas políticas da
segurança pública, no âmbito do Executivo, simplesmente não foi muito feliz ao
insistir na celeridade na aprovação de legislação que tem o condão de
enquadrar, mais especificamente parlamentares, fato que, no mínimo, não passa
de algo, digamos assim, espetaculoso e provocativo, para os parâmetros do
Parlamento tupiniquim.
Agora,
o presidente da Câmara poderia ter agido, em resposta ao ministro, no mínimo,
com diplomacia e polidez, sem arrogância e prepotência, diante do envolvimento
de autoridade que se dirigiu a ele com o máximo de respeito e educação, embora
apenas não tivesse competência legal para fazê-lo, à luz da hierarquia que
precisa ser observada nas relações entre os poderes constitucionais.
Em
termos civilizatórios, algo diz que não é de bom tom que o presidente da Câmara,
diante da sua relevância quanta à representação política, dissesse que o
projeto é mera cópia de outro já encaminhado pelo governo anterior e muito
menos que o ministro não entende nada de política, por ter ficado a péssima
ideia de que o ministro não passa de pessoa despreparada e incompetente, que
não produziu absolutamente nada de novidade e ainda fica provocando a
autoridade de presidente de importante órgão da República.
Por
via de consequência, ao afirmar isso aquela autoridade deixa em aberto a sua
estranha marca de incompetência e irresponsabilidade de ter recebido de governo
anterior, há bastante tempo, e nada fez sobre o seu exame, importante matéria
anticrime, ante a calamidade da segurança pública nacional, e simplesmente
mantê-la engavetada sob a sua gestão, desde quando a recebeu, enquanto a
população continua padecendo em razão da falta de legislação que poderia ter
contribuído para minimizar a gravidade da violência e da criminalidade.
Ou
seja, ele demonstrou, ao relembrar o projeto anterior, que o seu sentimento é o
de que não está nem aí para o sofrimento causado pela monstruosidade da
insegurança pública, com a banalização da criminalidade, que poderia ter sido
diminuída, em benefício da sociedade, se o projeto a que ele se refere já
tivesse sido aprovado, se não tivesse sido esquecido, de forma desidiosa, em gaveta
abarrotada, recheada de projetos importantes para a população, fato este que tem
o condão de dá razão e respaldo aos reiterados pedidos formulados pelo ministro
da Justiça, que serviram para irritá-lo, justamente por sua falta de zelo no
cumprimento do seu relevante cargo de presidente da Câmara dos Deputados.
A
bem da verdade, percebe-se que esse imbróglio apenas contribui para empurrar,
com a barriga, o exame de importante pacote anticrime, que a generalização
raivosa do presidente da Câmara o colocou na vala comum dos inúmeros projetos
que tramitam nessa Casa ou nem tramitam, com igual finalidade, e simplesmente
não merecerem os mínimos cuidado e prioridade ansiados e esperados pela
sociedade, sendo com bastante razão que isso aconteça, diante da cristalina
contrariedade à conveniência e ao interesse dos congressistas, quando se sabe
que a tipificação e o enquadramento de muitos crimes estão na contramão da
situação de muitos daqueles que têm a atribuição de examiná-la e aprová-la.
Trata-se
de fato extremamente preocupante diante desse impasse que se cria no âmbito das
autoridades dos Poderes da República, justamente para prejudicar diretamente o
interesse público e de resto a sociedade, que, embora tenha o poder da delegação
da incumbência aos seus representantes políticos, é flagrante a impotência para
dizer diretamente a eles que se esforcem na busca de solução para combater, com
serenidade, seriedade, civilidade e responsabilidade, as questões de moralidade
e segurança pública, que estão infernizando a vida da população.
Não
há dúvida quanto à relevância da aprovação do pacote anticrime em pauta, em
especial diante da desmoralização da administração pública, sufocada com tanta
corrupção, que foi banalizada nos últimos tempos, conforme mostram as
investigações levadas a efeito pela Operação Lava-Jato, e da precariedade da
segurança pública, que foi dominada pelas organizações criminosas e pela horrorosa
delinquência, ficando tudo à mercê da falta de vontade de homens públicos
revestidos de muita autoridade, desproporcional vaidade e completa ausência do
sentimento de brasilidade e civismo, atributos indispensáveis para perceberem
que o cerne da questão tem por finalidade o estabelecimento de prioridade à
satisfação do interesse social, a par do total desprendimento às ideologias,
que têm sido grandemente responsáveis pelo caos que, infelizmente, impera e
maltrata o bem comum dos brasileiros.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 21 de março de 2019
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