segunda-feira, 10 de junho de 2019

Basta de irresponsabilidades


A regra de ouro, inscrita na Constituição Federal, proíbe que o governo tome dinheiro emprestado, sem o aval do Congresso Nacional, para despesas correntes, como salários, benefícios sociais e a maior parte dos programas típicos da administração federal, a exemplo do Bolsa Família.
Para fazer face a essas despesas, o governo enviou pedido de crédito suplementar ao Legislativo, no valor de R$ 248,9 bilhões, com vistas à satisfação de gastos indispensáveis e inadiáveis.
Basicamente, esse dinheiro se destinará aos Plano Safra, Bolsa Família,  Benefício de Prestação Continuada e outros compromissos previstos no Orçamento-Geral da União, sendo obrigações tecnicamente classificadas como despesas correntes.
A declarada queda de braços que o Congresso trava com o governo sinaliza que haverá dificuldades para a aprovação do referido crédito, podendo até mesmo nem ser aprovado, justamente para, depois, se culpar o presidente brasileiro por gestão irresponsável e inconstitucional, embora, nesse caso, fica mais do que provado que a culpa pela falta de deliberação sobre o crédito em tela é do Congresso, sem nenhuma omissão por parte do governo, que mandou para lá o projeto pertinente, na forma prevista na Constituição, observada as normas aplicáveis à espécie.
Ou seja, não passa de traquinagem insana por parte de congressistas, no sentido de tentar dificultar a gestão do governo, somente por mera revanche, em razão de o presidente do país não concordar em participar de negociatas, em termos de concessões envolvendo cargos públicos e verbas parlamentares, na tentativa de obrigá-lo a quebrar a regra de ouro, deixando de aprovar o crédito suplementar em causa, o que ficaria a critério do presidente pegar dinheiro emprestado para o pagamento das referidas despesas, sem a devida autorização legislativa, fato que poderia implicar o enquadramento dele no crime de responsabilidade e consequente instauração do processo de impeachment, por culpa exclusiva do Congresso, que teria deixado de autorizar a abertura de crédito suplementar, que tem base em dispositivo constitucional.
É evidente que o presidente da República poderá incorrer no crime de responsabilidade, no caso do rompimento da norma constitucional, ficando passível a responder a processo de impeachment, mas tudo isso não passa de armação visivelmente com o ar de maldade, que não condiz com a seriedade que se exige de Congresso sério, responsável e cônscio exclusivamente da sua obrigação de aprovar a legislação necessária à administração do país, principalmente nos casos de mera rotina de aprovação de crédito suplementar, que não passam de mero remanejamento de recursos de uma dotação orçamentária para outra ou da obtenção de créditos especiais, que o é o caso, constitucionalmente prevista, obviamente como forma da mais simples suplementação de recursos.
Não há a menor dúvida de que a principal responsabilidade, nesse caso, deverá ser atribuída a quem, por deliberada leviandade, motivada por fins nada republicanos, se opuser à solução urgente de grave problema.
Ao que tudo indica, a Comissão Mista de Orçamento do Congresso, que é integrada, na sua maioria, por parlamentares do Centrão, vem criando embaraços e insinuando sobre dificuldades para encaixar a matéria na sua pauta, para exame dela, quando o governo tem prazo exíguo para resolver a adequação orçamentária, na forma do pedido de suplementação de créditos.
O certo é que há fortes evidências de que as condições quanto ao apoio à pretensão do governo ainda são cobertas de incertezas, diante dos notórios e inescrupulosos sentimentos contrários a ele, em face dos reiterados alertas sobre falta de “negociações”.
No caso em discussão, convém que sejam observados os princípios do equilíbrio e da prudência, ante a importância não somente do momento econômico-político, mas especialmente dos  gastos tratados no projeto em discussão, tendo em conta que o Orçamento da União foi elaborado e aprovado ainda na vigência do governo anterior, quando havia perspectivas de crescimento econômico superior a 2%, em 2019, e as metas de trabalho do atual governo não constavam do projeto aprovado, o que evidencia a necessidade de ajustamentos normais, em face da evolução da arrecadação, que não se confirmou no presente exercício, principalmente pelos arroubos no enfrentamento do protagonismo entre governo verso Congresso.
Ou seja, a previsão de atividades mais intensas em 2019, quanto à evolução da economia ficou longe das expectativas, com o desempenho menor do Produto Interno Bruto (PIB), tendo consequência negativa para o desemprego, que se manteve em índice bastante alto, por força da estagnação da economia.
Todo esse momento de falta de melhor desempenho econômico refrete diretamente na receita tributária, com menor fluxo ou até mesmo a estagnação do consumo, dos investimentos e da produção, em que pese a obrigatoriedade de o governo continuar administrando o país, nesse ambiente nada animador,  e cumprir os compromissos inadiáveis e incontornáveis, como os dispêndios alinhados no crédito suplementar em apreço.
Um dos principais compromissos do governo, nesse caso, diz respeito à implantação do “Plano Safra”, mediante a garantia das condições de financiamento em nível adequado às necessidades do setor produtivo do campo, em razão do cumprimento das metas a serem alcançadas sobre a colheita.
O plantio da safra de verão, que depende basicamente dos recursos em discussão, será de suma importância para os brasileiros, exatamente porque o abastecimento interno é proporcional ao montante do financiamento, além da garantia da exportação de alimentos, que contribui pesadamente para a geração do superávit comercial, que tem a ver com a segurança cambial, no que se às reservas do país.
Qualquer demora para a efetiva implantação do citado plano terá consequência trágica não somente para os agricultores, mas principalmente os consumidores e os resultados econômico-financeiros do país, ante a situação de graves dificuldades do Brasil, que depende bastante das condições dos mercados globais, não cabendo, neste momento delicado, decisão leviana e irresponsável por parte de quem precisa contribuir para a solução dos graves problemas nacionais.
Ressalta-se que não seja por falta de fortes argumentos, em termos técnicos, sobre a importância também do Bolsa Família, que tem sob a dependência desses recursos para mais de cinco dezenas milhões de brasileiros, além do Benefício de Prestação Continuada, incluídas aí pessoas deficientes e idosas, em todos casos com a caracterização de extrema carência dos recursos a serem liberados pelo Congresso.
É preciso deixar evidente que o governo, diante do crescimento lento da economia, terá que recorrer muitas vezes ao Congresso para a devida adequação orçamentária e o Legislativo não poderá criar dificuldades para que isso possa acontecer normalmente, por se tratar de medida prevista na Constituição, em que governo nenhum, em época alguma, conseguiu administrar seus orçamentos sem os devidos adequações e ajustamentos das dotações orçamentárias.
É certo que não é novidade para ninguém que a economia brasileira deverá crescer pouco e lentamente neste ano e o governo precisa mostrar competência para suplantar as graves dificuldades orçamentário-financeiras, em busca de estratégias para o fechamento de suas contas, evidentemente sem ultrapassar o limite previsto de R$ 139 bilhões, já fixado para o déficit primário do exercício.
A verdade é que, se a execução orçamentária desarranjar, como demonstra querer a oposição, os prejudicados serão milhões de brasileiros, sendo que muitos dos quais certamente votaram nos congressistas cuja ideologia defende o quanto pior para o governo é bem melhor para os planos de seus partidos de esquerda voltarem rapidinho ao poder.
Não obstante, é possível que oposição ao governo não perceba que parcela expressiva de brasileiros entende que, por pior e mais desgraçado que esteja o Brasil, na atualidade, seria o pior castigo para o país a volta de quem, comprovadamente, conseguiu empurrar o Brasil para o terrível abismo de governabilidade e as crises de competência, eficiência e moralidade, que parecem nunca terem fim.
Não se discute que congressistas da oposição, do Centrão e de outras bases contrárias ao governo podem até estar no direito de defender suas posições político-ideológicas, diante de questionáveis motivações políticas e justificativas nada plausíveis para o combate sistemático a determinados dispêndios, como o da educação, mas é induvidosa a inexistência de alegações capazes de justificar, em termos políticos, de moralidade e brasilidade, a obstrução de políticas públicas notadamente essenciais à satisfação de obrigações do governo e ao normal e institucional funcionamento da economia, indispensável à estabilidade das condições inerentes ao desenvolvimento socioeconômico, em se tratando de medidas necessárias ao fiel cumprimento da regra de ouro, prevista na Constituição Federal.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 10 de junho de 2019

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