quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A floresta em perigo?

         Segundo a imprensa, o presidente brasileiro prestou informações falsas sobre a Amazônia e disse que o Brasil não destrói a floresta, embora os fatos mostrem realidade bem diferente do que foi afirmado. 

        O aludido tema foi abordado com a imprensa pouco antes desse mesmo assunto ser discutido em conversa com o presidente húngaro, quando a questão referente à Amazônia veio à tona. 

        À toda evidência, os assuntos sobre meio ambiente brasileiro são sempre motivo de cobranças recorrentes ao presidente brasileiro da comunidade internacional, em especial desde o início do atual governo. 

        O presidente brasileiro se mostra constrangido com as críticas que são feitas ao Brasil, sob a acusação de não serem adotadas as devidas políticas ambientais para se evitar a destruição da Amazônia, à vista das suspeitas dos sucessivos recordes de desmatamento, justamente por falta dos devidos controle e fiscalização. 

        Somente no ano passado, entre outros pontos, o governo foi criticado por ter segurado a costumeira divulgação dos dados consolidados de desmatamento, exatamente para que a medição recente de 13 mil km² de devastação (maior número desde 2006) não fosse conhecida durante o período da COP26, fato que não condiz com o verdadeiro sentimento de transparência que todo governo sério se envergonha de praticá-lo. 

        Além desse inadmissível vexame, medidas como a defesa explícito do garimpo viraram marcas da atual gestão. 

        De igual modo, informações falsas e distorções sobre dados do meio ambiente também estiveram presentes no discurso do presidente brasileiro na ONU e ainda para investidores em evento em Dubai.

        Há forte suspeita de que os dados usados pelo presidente do país não correspondem ao que de fato ocorre no meio ambiente brasileiro, uma vez que o desmatamento tem sido crescente, mas ele sempre se refere às eficientes medidas de controle sob o seu ângulo de visão. 

  Desta feita, o presidente brasileiro disse que "Há pouco conversei também com o nosso presidente da Hungria, ele se focou muito mais na questão ambiental. Eu tive a oportunidade de falar para ele o que representa a Amazônia para o Brasil e para o mundo. E muitas vezes as informações sobre essa região chegam para fora do Brasil de forma bastante distorcida, como se nós fôssemos os grandes vilões no que se leva em conta a preservação da floresta e sua destruição, coisa que não existe". 

        O presidente disse também que "Nós preservamos 63% do nosso território. E não se encontra isso em praticamente nenhum outro país do mundo. Nós nos preocupamos até mesmo com o reflorestamento, coisa que não vejo nos países da Europa como um todo. Então, essa informação, essa desinformação passam para o lado de um ataque à nossa economia que vem obviamente em grande parte do agronegócio".

        De acordo com dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o desmatamento na Amazônia, somente em 2021, foi o maior em 10 anos e isso já põe por terra as informações do presidente. 

        Ainda de acordo com dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do órgão, que monitora a região com imagens de satélites, 10.362 km² de mata nativa foram destruídos de janeiro a dezembro do ano passado, o equivalente à metade do estado de Sergipe. 

        Outro dado importante diz que a devastação, em 2021, foi 29% maior que no ano anterior. 

        Além de toda essa avalanche de devastação, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) confirmou que a Amazônia teve recorde de alertas de desmatamento em janeiro de 2022, que se transformou no pior janeiro desde 2016, quando começou o monitoramento. 

        Os alertas de desmatamento detectados em janeiro de 2022 somaram 430 quilômetros quadrados, quatro vezes mais do que em janeiro do 2021, conforme imagens de satélite, que mostram que o desmatamento está acelerando também em partes da floresta antes preservadas, como o sul do estado do Amazonas, perto da divisa com Acre e Rondônia. 

        De acordo com informações prestadas por pesquisadores, servidores e fiscais de órgãos, como o Ibama, o desmatamento registrado em janeiro foi resultado da contínua falta de ação do governo federal para conter os crimes ambientais na Amazônia. 

        Os observadores apontaram o desmonte da fiscalização ambiental, evidentemente da incumbência do governo federal, e a postura do presidente da República como incentivos à ação de criminosos, que, praticamente, contam com o apoio oficial para a prática de seus atos prejudiciais à preservação da Amazônia. 

        De acordo com especialistas do meio ambiente, outros biomas brasileiros também estão tendo perdas significativas, em razão da precariedade da política ambientalista brasileira, a exemplo do Cerrado, onde houve a maior área sob alerta de desmatamento para agosto, em 2021, desde 2018. 

        Ainda no caso do Cerrado, o número de focos de incêndio – considerados os números de janeiro a agosto de 2021 – foi o maior desde 2012. 

        Já no importante Pantanal, houve recorde de queimadas em 2020, conforme mostra o levantamento divulgado neste mês, que aponta a morte de 17 milhões de animais vertebrados, por causa das chamas no bioma, no ano passado. 

        Na Caatinga, até 1º de agosto de 2021, o número de focos de incêndio subiu 164% em relação a 2020, sendo considerado o maior aumento nos pontos de fogo para todos os biomas brasileiros, nesse período.

        Causa espanto que os números são cristalinos e mostram a deplorável dimensão da destruição das matas brasileiras, em nítida e absurda deformação da qualidade do controle da preservação do meio ambiente brasileiro, mas a insensibilidade do governo contabiliza os recordes de malefícios como algo maravilhoso e positivo, ao afirmar que as florestas brasileiras estão sendo muito bem cuidadas, quando os números levantadas por entidades idôneas mostram o contrário.

        A falta de cuidados por parte do governo fica patente com a precariedade da estrutura de controle, cada vez mais deficiente, em razão do desmonte da fiscalização e do incentivo vindo do próprio governo, que adota políticas de exploração mineração e agropecuária, sem nenhuma forma de controle do meio ambiente.

        A verdade é que compete aos brasileiros despertarem para o grito de alerta em defesa das florestas nacionais, em especial quanto à necessidade da emissão de apelo ao governo federal, no sentido da compreensão de que é preciso sim desenvolver atividades econômicas, em benefício da população, desde que, concomitantemente, o meio ambiente seja devidamente cuidado e controlado quando à essencialidade da sua preservação, tendo em vista a sua importância para a humanidade.

        Brasília, em 17 de fevereiro de 2022


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