domingo, 20 de fevereiro de 2022

A imporância do fertilizante?

       A visita do presidente da República à Rússia, berço do comunismo que tanto ele demonstrava repúdio, foi um espetáculo digno de comédia pastelão, em especial por coincidir com as pré-manobras destinadas à invasão daquele país à Ucrânia, que o bom senso aconselharia o seu adiamento. 

        Por força da fidalguia de país anfitrião, a Rússia impôs ao presidente brasileiro condições constrangedoras, mas ele chegou a declarar que é “solidário” com as pretensões do presidente russo, tendo como fajuta justificativa do mandatário tupiniquim o absurdo argumento, nas circunstâncias, de que o Brasil estaria sempre ao lado de quem “promove a paz”, que, na verdade, não é este o sentimento do presidente daquele país, pela paz, à luz do seu histórico de  belicista nato, como agora, que ensaia invadir a Ucrânia.

        Nos últimos tempos, o líder soviético resolveu aprontar uma das maiores ameaças de conflito armado desde a Segunda Grande Guerra, tentando atacar a Ucrânia, mas, ao contrário, o presidente brasileiro somente enxergou no anfitrião verdadeiro pacificador. 

        Momentos antes da partida, o presidente do país já havia discursado fazendo apelo “a favor da paz mundial”, como se ele tivesse autoridade para falar pelos demais países.

        O certo é que o presidente brasileiro levou em frente o seu ambicioso projeto  e concluiu a sua visita ao epicentro das discussões destinadas à citada invasão, mesmo contrariando os conselhos nesse sentido, com desprezo aos alertas do seu principal parceiro comercial, os EUA, e também da OTAN, sob a insustentável e frágil desculpa de negociação de fertilizantes, que não se tratava de espécie de fratura exposto ou veia desatada. 

        À toda evidência, não era a melhor hora para o presidente brasileiro ir à Rússia buscar “esterco”, nesse terreno minado e arriscado, uma vez que os objetivos pretendidos seriam obtidos em condições e ambiente de paz e tranquilidade para as negociações. 

        É natural que os americanos e demais países que realizam negócios comerciais com o Brasil e discordam da postura belicista do líder russo, ficaram incomodados em razão do estranho e indevido afago do mandatário brasileiro. 

           A propósito, sabe-se, por meio da imprensa, que antigo aliado diplomático do Brasil, ao saber dessa absurda visita, teria comentado, na surdina: “Bolsonaro só faz m....”. 

        O certo é que observadores, com experiência diplomática, também colocaram dúvida nessa viagem, suspeitando até que o presidente brasileiro vem, há algum tempo tomando remédio trocado, por ser capaz de cometer tantas poltronices impróprias de estadista de verdade, que sempre leva em conta os altos interesses da eficiência e da produtividade em benefício dos seus país e sociedade.

        Salta aos olhos o desejo de ser vista a sua grandeza pelo mundo, quando o presidente brasileiro resolveu tratar do assunto sobre a paz naquela região, que disse, em coletiva após o encontro com o presidente russo, que  “Mantivemos a nossa agenda, por coincidência ou não parte das tropas deixaram a fronteira”. 

    Essa foi realmente a ideia que o mandatário tupiniquim quis levar ao mundo, evidentemente aos eleitores dele, em particular, a acreditarem que a sua “figura divina” teria o poder de proteger o Leste Europeu da guerra iminente ou até mesmo promovendo o seu adiamento. 

      Talvez ele pretenda ser agraciado com o cobiçado Prêmio Nobel da Paz, sempre conferido aos heróis mundiais, título que possa ter adquirido por tão proveitosa jornada à Rússia.

        O pior é que ele se trata de mandatário em eterno grau de desconfiança mundial, porque ele somente conseguiu pisar no solo russo depois de cumprir a obrigação de se submeter a algumas medidas de segurança sanitária que ele não as tolera, em verdadeira prova de fogo para o seu indiscutível negacionismo. 

        Pois bem, ele teve que passar por cinco testes RT-PCR, antes de se reunir com o líder russo, que se trata de imposição que não foi aceita por nenhum chefe de Estado, a exemplo dos mandatários da França e da Alemanha, que recentemente visitaram a Rússia e ficaram numa mesa ovalada gigante para conversar com Putin. 

        Além disso, o presidente brasileiro precisou ficar confinado no hotel, por uma noite, para evitar o risco de contágio pela Covid-19, e ainda precisar usar máscaras em várias situações, o que nunca faz no Brasil. 

        Agora, é inacreditável que, por ironia do destino, o “todo-poderoso” mandatário brasileiro foi obrigado à inaudita rendição aos comunistas, quando cumpriu religiosamente e com humildade o ritual reservado para os governantes que visitam o país, evidentemente com a mão no peito e a fisionomia solene, ele colocou flores no Túmulo do Soldado Desconhecido, monumento em homenagem aos combatentes soviéticos mortos na Segunda Guerra Mundial. 

        A verdade é que se trata de obrigação protocolar, que o fez ficar de frente, de corpo e alma, com o monumento que ele diz que mais odeia: o comunismo, mas ele cumpriu as orientações de maneira resignada e obedecendo regras de conduta protocolar, num comportamento atípico para quem costuma ignorar normas sanitárias e rituais políticos elementares, mostrando a sua flexibilidade àquilo que demonstra não gostar, mesmo que seja do cardápio do estadista de verdade.

       De outra feita, depois de se reunir com o presidente russo, o presidente brasileiro afirmou, sem fazer qualquer menção pública ao conflito com a Ucrânia, que o Brasil é “solidário” à Rússia e “aos países que se empenham pela paz”, acrescentando que os dois países compartilham de “valores comuns, como a crença em Deus e a defesa da família e defendem a soberania dos estados”, mas não mencionou a questão da guerra em nenhum momento. 

      Enfim, a tresloucada viagem do presidente brasileiro à Rússia, tão criticada pela imprensa, por especialistas, políticos e muitos países, tinha como cerne a garantia do fornecimento de fertilizantes, à base de potássio, fósforo e nitrogênio ao Brasil, matérias que representam cerca de 60% das importações brasileiras daquele país, que mobilizam as atenções imediatas e impuseram a viagem. 

        Ou seja, o presidente tupiniquim se dirigiu à Rússia a serviço do agronegócio nacional, com o propósito de garantir a continuidade de uma das maiores potências agrícolas do planeta, porque o país depende desses insumos, sendo obrigado a importar 85% do que consome, por ser indispensável à melhor produtividade.

        Em que pesem os questionamentos e as trapalhadas envolvendo a visita em apreço, os brasileiros esperam que o resultado das negociações seja o melhor possível aos interesses dos agricultores nacionais e dos brasileiros, embora fica a nítida impressão de que a diplomacia brasileira demostrou firmeza de despreparo e incompetência, ao permitir importante viagem do presidente da República, em momento visivelmente adverso, para tratar de negócios comerciais em plena discussão sobre planos de guerra, que é algo absolutamente incompatível com os objetivos da visita.

        Brasília, em 20 de fevereiro de 2022


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