segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Indecência

  

Tempos atrás, importante grupo de juristas se reuniu em jantar para quinhentas pessoas da fina nata, por que com a composição da intelectualidade brasileira, representada por políticos, artistas, professores, notáveis, entre outros nobres da sociedade, tendo por finalidade a prestação de homenagem ao principal político da oposição, segundo eles, para o enaltecimento da importância dele para o Brasil, como se ele fosse realmente a pessoa mais imaculada da face da Terra, evidentemente deixando à margem o envolvimento dele com a Justiça do país.

À toda evidência, importa ser destacado que há em tramitação na Justiça vários processos de natureza penal, versando sobre gravíssimas denúncias de irregularidades ocorridas na gestão dele, como presidente do país, que a figura principal das denúncias é o próprio homenageado, o que bem demonstra a falta de seriedade dessa intelectualidade cega e submissa, conforme mostram os fatos.

Estamos diante de espetáculo extremamente surreal e estarrecedor, em que a insensibilidade humana mostra, muito bem escancarada, a sua verdadeira face apodrecida por notória conveniência, em que grupo que se diz ser integrante da mais elevada classe de juristas entrega a toga, para simbolizar, pasmem, o manto da Justiça, logo a ex-presidente da República que foi incapaz de provar a sua inculpabilidade sobre fatos irregulares, cuja autoria é atribuída a ele.

Na verdade, o homenageado nada mais é, à vista do seu currículo de homem público, a autêntica antítese do verdadeiro sentido de Justiça, por ser o político integralmente envolvido e implicado com ela, por responder a várias denúncias sobre atos de corrupção cuja autoria é atribuída a ele, por causa de possíveis suspeitas do recebimento de propina, na sua gestão.

Os fatos mostram que o homenageado foi denunciado pela prática criminosa de corrupção e lavagem de dinheiro, investigado, julgado, condenado à prisão por seus crimes, justamente por não ter conseguido provar a sua tão propalada inocência, ante à robusteza das provas inseridas nos autos, confirmando a materialidade da autoria dos atos denunciados.

A estranheza do estrambótico evento extrapola todos os sentidos da racionalidade, uma vez que a Justiça trabalha sobre fatos e estes estão dormitando lá, aguardando as contraprovas a serem apresentadas pelo denunciado, que, ao contrário, prefere ser alvo de homenagem patética e fantasiosa, que tem o condão de acentuar a sua insensibilidade para a realidade das denúncias, que mostram que ele, por força dos fatos suspeitos de irregularidades, é político absolutamente inviabilizado para fins da prática de atividades públicas, enquanto ele for incapaz de provar a sua inculpabilidade quanto às denúncias existentes na Justiça, porque é precisamente assim que procedem os verdadeiros homens públicos perante os tribunais julgadores.

A entrega da toga a homem público que precisa limpar seu nome na Justiça tem o expressivo significado do acinte e do deboche à própria Justiça e aos brasileiros honrados, diante do menosprezo evidenciado de maneiro deliberada por profissionais que militam no Judiciário, que, praticamente, se tornam cúmplices com essa imoralidade, que ultrapassa até mesmo os sentidos da racionalidade e da sensibilidade humanas.

A verdade é que grupo de juristas cometeu o sacrilégio de laurear cidadão que é denunciado à Justiça, onde responde a vários processos penais, como se isso não representasse gravíssima afronta aos princípios republicanos, em especial da moralidade, em razão de possíveis práticas de atos criminosos e isso, a bem da verdade, não condiz com a dignidade que precisa imperar no seio da classe de advogados que têm a obrigação de valorizar a sua honrada profissão.

Brasília, em 28 de fevereiro de 2022

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