segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Cadê o equilíbrio?

 

As pesquisas de preferência de voto, inclusive as realizadas pelo próprio governo, sob encomenda, revelam enorme rejeição ao desempenho do presidente da República, com indicação de que ele perderia, se a eleição fosse agora, para candidato em completa decadência moral, por se encontrar envolvido com denúncias sobre suspeitas na prática de irregularidade com dinheiro público.  

Por via de consequência, com índice acima de 60%, as pessoas ouvidas disseram que não votam no presidente do país de jeito algum, fato este que representa enorme dificuldade para a reversão da preferência, segundo os entendidos de política, em que pese ele contar com a máquina pública à sua mão e todas as condições favoráveis, em termos de ferramentas do Estado, para a montagem da construção de quadro em prol da sua imagem.

Outra constatação preocupante é que mais da metade das pessoas consultadas, em torno de 51%, disse que o desempeno do governo é ruim ou péssimo e isso, com vistas à reeleição, é simplesmente desastroso.

O presidente já captou a realidade da terrível situação e se atola em incontrolável agonia, tendo decidido a partir para o tudo ou nada, exatamente sem o mínimo preparo, em termos de sensibilidade e sensatez em atenção aos princípios do bom senso e da racionalidade, exatamente porque ele pretende resolver os problemas enfrentados ao seu estilo estabanado e truculento, que tem o agrado de seus fiéis seguidores, que o aplaude mesmo que ele esteja seguindo o norte enviesado, à vista dos resultados das pesquisas.

A propósito, cite-se a cena bufa mostrando o presidente do país estraçalhando, com garra, um franguinho, a se lambuzar todo com as mãos, jogando farofa para tudo que lado, fato de caracterização ridícula, absurda e vexaminosa, vindo de autoridade da relevância da República, em situação apenas deplorável e deprimente, que foi interpretada como algo adredemente preparado para impressionar o povão, no sentido de mostrar que ele é assim mesmo, sem o mínimo de cuidados, ao se permitir se atolar, literalmente, na farofa para parecer que ele é pessoa do povo, popular até ao se alimentar.

Na verdade, a bizarra filmagem foi especialmente dirigida para transmitir aquilo mesmo, o presidente do país pobremente sujo de farofa, para deixar a exata ideia do homem simples, porque é algo que diverge da personalidade dele.

Só que a medíocre encenação conseguiu produzir efeito imediatamente  contrário, pela dissonância com a realidade, tanto que o vídeo teve curta duração e foi logo apagada, mas o estrago já havia sido o pior possível, principalmente porque a exibição do mandatário do país se empanturrando de frango e  farofa  contraria a situação de fome por que passa boa parte da população brasileira, já que mais de 20 milhões de pessoas não possuem o que comer e mais de 50 milhões sofrem de alguma carência alimentar.

Vejam que o Tribunal de Contas da União resolveu investigar os gastos astronômicos do presidente do pais, realizados por meio do cartão corporativo, que vem batendo recorde sem precedentes entre os pares dele, em igual período, já computando-se mais de R$ 30 milhões de despesas em três anos de gestão e isso precisa sim ser averiguado, como forma de prestação de contas à sociedade, que, enfim, é quem financia os gastos públicos.

Diante dos fatos, que mostram o quadro de visível adversidade para as pretensões políticas do presidente do país, o mais do que esperto Centrão, aliado do governo, acredita muito pouco na reeleição dele e já vem pensando em mudar de barco, ainda o mais cedo possível, para não se afundar abraçado com ele, tendo que ficar à margem dos “benefícios” amealhados em todos os governos.

Como se sabe, esse famoso bloco político, com  o histórico de recalcitrante aproveitador, conforme assim já dizia o candidato à Presidência da República, que o cognominava de “velha política”  faz pouca importância à ideologia, à plataforma de governo ou aos valores democráticos, quando a sua real vocação é a da  permanência do governo da vez, com a garantia do acesso aos orçamentos públicos e às influências do poder, tal qual como acontece agora, em governo que se dizia de intransigente defensor da moralidade e da dignidade na administração pública.

No presente momento, até o próprio presidente do país já desconfia, diante dos indicadores nem tanto seguros, sobre a possível dificuldade da reeleição, caso não aconteça algo extraordinário, em forma de reviravolta no mundo político, mas isso depende essencialmente do próprio candidato, que resiste em se tornar verdadeiramente estadista, que é aquele que tem a maleabilidade e sapiência de captar os anseios do povo e corresponder em sintonia com eles.

O presidente do país se tornou a pessoa a ser excomungada do governo, no pensamento de parcela significativa das pessoas consultadas e tudo isso é resultado dos atos tresloucados que ele foi protagonista, embora ele e seus seguidores achem que nunca houve melhor chefe do Executivo, no Brasil.     

O curioso é que, por mais contraditório que possa parecer, o presidente do país cuida de empurrar o seu principal adversário direto para o seu lugar, à vista dos resultados das pesquisas já divulgados, que poderiam servir como instrumento capaz de fornecer subsídios para o aperfeiçoamento do seu desempenho, mas não se vislumbra que ele seja flexível à mudança de rumo na sua maneira de interpretação dos fatos.

Ao contrário disso, o mandatário do país prefere radicalizar, no sentido de esquentar de vez o péssimo ambiente político do seu lado, evidentemente para satisfazer a turba dos fanáticos que tradicionalmente o acompanha em todos os seus atos, não importando de eles são normais ou não, a exemplo de ter resolvido a criar caso novamente com o Supremo Tribunal Federal, ao contrariar a ordem de prestar testemunho à Polícia Federal sobre vazamento de informações supostamente sigilosas.

Convém que os brasileiros sejam os mais cautelosos possíveis, somente decidindo escolher o futuro presidente da República quando tiver a certeza de que essa pessoa seja equilibrada emocionalmente, tenha plena consciência sobre os princípios da sensibilidade e da sensatez, além de preencher os requisitos de conduta ilibada, idoneidade quanto aos conceitos de moralidade, dignidade, competência, eficiência e responsabilidade na gestão da coisa pública.

Brasília, em 7 de fevereiro de 2022

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