quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Na contramão da história?

 

O agravamento da crise entre a Rússia e a Ucrânia expôs a precariedade operacional da diplomacia brasileira, que for agravada com indevida e inoportuna visita do presidente do Brasil ao primeiro país, ainda mais diante das despropositadas declarações feitas pelo mandatário tupiniquim.

Em termos diplomáticos, constituiu enorme erro o presidente brasileiro ter manifestado “solidariedade” ao líder russo, por ocasião da recente visita a Moscou, fato que evidenciou espantoso desequilibrou diplomático, em consonância com a tradicional postura de neutralidade do Brasil em conflitos internacionais.

Sobre o mesmo assunto, o vice-presidente da República foi bem coerente com a diplomacia que o país precisava firmar, quando ele teve posição mais apropriada ao momento de crise, quanto à preocupação sobre a situação conflituosa, ao declarar que “Julgo que não podemos aceitar intervenções dessa natureza”.

Ele se posicionou ao contrário do presidente do país, que simplesmente se omitiu, não tendo sequer se referido à crise, embora ele estivesse no epicentro da fervura bélica e falado com o principal interessado em explodir o mundo, começando pela Ucrânia, uma vez que o começo da guerra nesse país pode servir para espalhar centelhas para o resto do mundo, porque os demais países serão, inevitavelmente, atingidos com os efeitos da guerra, em especial a economia e o comércio.

Alguns diplomatas de países ocidentais avaliam como tímida demais a posição brasileira, diante da gravidade daqueles conflitos, à vista da sua importância no contexto mundial, notadamente no cenário econômico, o que se exige que o Brasil precisava ter sido bastante incisivo, manifestando posição em aconselhamento pelo esforço na busca da paz, por meio do diálogo construtivo entre os países envolvidos e seus aliados, principalmente porque a guerra somente tem como consequência a destruição e a perda de muitas vidas humanas.

Especialistas diplomáticos, avaliam que o Brasil tomou o bonde errado da história político-diplomática, quando perdeu excelente oportunidade para marcar a sua posição contra a guerra, quando a presença do presidente brasileiro em Moscou seria momento ideal para ele dizer isso para o mundo, de forma a ter antecipado o seu deseja da paz por meio dos esforços diplomáticos.

Vejam-se o tamanho da infelicidade do mandatário brasileiro, que, de maneira constrangedora e indevida, declarou solidariedade com a Rússia, ao afirmar, depois de se reunir com o presidente daquele país, sem fazer qualquer menção pública ao conflito com a Ucrânia, que o Brasil é “solidário” à Rússia e “aos países que se empenham pela paz”, acrescentando que os dois países compartilham de “valores comuns, como a crença em Deus e a defesa da família e defendem a soberania dos estados”, sem se reportar à questão da guerra, em momento algum, quando esse momento teria sido ideal para manifestação de apoio às medidas tendentes à paz, sempre defendida pelos Brasil e seu povo.

Não obstante, o melancólico desempenho do presidente brasileiro contribuiu para deixar o Itamaraty em situação embaraçosa, uma vez que ele - que fala pelo e em nome do país - declarou a posição brasileira ao mencionar solidariedade com a Rússia, que demonstra visceral interesse em realizar a guerra e, para isso, se encontra empenhada.

Diante da posição manifestada pelo presidente brasileiro, o Itamaraty ficou com limite de ação diplomática, diante da manifestação pessoal dele, que praticamente disse que concorda com a declaração de guerra à Ucrânia, ao solidarizar-se com a Rússia, mostrando postura absolutamente indesejável e precipitada, porque certamente a opinião dele não coincide com o real pensamento dos brasileiros, que são firmemente a favor de medidas que levem somente à paz mundial.

A imaturidade diplomática do presidente brasileiro firmou o entendimento de que o governo brasileiro manifestou pleno apoio, na forma da simpatia de solidariedade, ao líder belicista russo, que não conta com o beneplácito dos brasileiros sensatos, que propugnam por medidas apenas capazes de contribuir para a paz mundial.

A um só tempo, a incoerência presidencial é patente e de extrema preocupação, por ele ser de direita e ter declarado apoio logo a presidente comunista, além de ter deixado de condenar, que certamente é o pensamento predominante dos brasileiro, ações belicistas prestes a acontecer, conforme tem sido a tendência que impera na índole do líder russo, fato que não condiz com a tradição da diplomacia brasileira, que se encontra à mercê do despreparo e do descompasso com o ardente desejo de paz.

Convém que os brasileiros que amam verdadeiramente o Brasil se manifestem em repúdio, até com veemência, contra a condenável solidariedade do presidente brasileiro  com o mandatário da Rússia, pela reconhecida evidência de erro grasso da diplomacia contemporânea, que jamais concordaria com posição que não fosse voltada exclusivamente para a construção da paz mundial, inclusive contando com os esforços das lideranças mundiais, sensíveis ao emprego dos princípios humanitários para o atingimento desse importante objetivo.

A diplomacia brasileira precisa se despertar urgentemente da letargia onde se encontra em berço esplêndido, para que a sua voz seja ouvida aos quatro cantos, com muita altivez e nitidez, em especial em nome da paz mundial, diferentemente do que foi protagonizado pelos imensuráveis vacilo e indiferença do presidente da República, que foi capaz de solidarizar-se, em nome do Brasil, com o líder comunista que se esforça para promover a guerra.  

Brasília, em 23 de fevereiro de 2022

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