quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

O antiestadista

 

Diante de crônica da minha lavra, onde eu fiz análise sobre o último ex-presidente do país, um cidadão, demonstrando insatisfação acerca do meu texto, escreveu a mensagem a seguir.

Quer dizer que o Bolsonaro deveria continuar com o arcabouço de corrupção vigente? Deveria continuar abastecendo de verbas públicas a imprensa, os artistas, comprando a máfia política com cargos públicos e nas estatais? No meu ver ele deu azar de encontrar na cúpula das forças armadas oficiais generais ou comprometidos com as quadrilhas instaladas nos três poderes ou na sua maioria uns covardes.”.

Em resposta, eu disse que o último ex-presidente do país precisava apenas ser verdadeiro estadista, em cumprimento à liturgia do cargo, observando estritamente o que estabelece a Constituição, sem necessidade alguma de discutir ou opinar sobre o que faz ou deixa de fazer outros poderes, à luz dos princípios constitucionais inerentes à autonomia e à independência dos poderes.

O ex-presidente do país pode ter sido inflexível com a corrupção, embora eu acho que ele não foi, nesse caso, por ter colocado o famigerado e desonesto Centrão no colo do governo, que passou a arcar com os gastos com publicidade e tantos outros assuntos como aqueles citados na mensagem inicial, mas a desnecessária disputa do poder com ministros da corte maior do país conseguiu desestabilizar a centralidade do governo dele, em que ele terminou facilitando e dando todos os elementos que o sistema precisava para a destruição política dele.

Ou seja, o envolvimento do então presidente do país em disputas absolutamente dispensáveis contribui para fragilizar a sua estrutura de poder, posto que ele procurava reagir às agressões contra ele apenas com palavras inofensivas e infrutíferas, exatamente em harmonia com as pretensões do sistema, que o provocava precisamente com a inteligência imprescindível à satisfação de seus objetivos, cujo resultado é esse que predomina, com o país atolado até às raízes profundas em crises institucionais é ingovernabilidade, tudo por conta das indiscutíveis incapacidade, insensatez e incompetência, infelizmente.

Convém se entender que o cerne da disputa do ex-presidente com membros de outro poder foi as urnas eletrônicas, assunto esse que ele poderia simplesmente resolver, por força de competência constitucional, na forma de medida legislativa, nos termos de projeto apropriado, mas ele nada fez e ainda preferiu comprar briga absolutamente desnecessária e improdutiva, que, aliás, diga-se, de passagem, terminou lhe valendo a perda do cargo, por puras insensibilidade e inexperiência político-administrativas.

Os verdadeiros brasileiros precisam cair na real, para conseguir enxergar o que aconteceu de verdade na política brasileira, na certeza de que o Brasil seria completamente diferente do atual caso o ex-presidente do país tivesse agido exclusivamente como verdadeiro estadista, cuidando estritamente das agendas inerentes ao cargo para o qual ele foi eleito, sem necessidade alguma de se atritar ou disputar ou discutir com membros de outros poderes.

A verdade é que de nada adianta ficar agora na defesa de algo indefensável, quando o estrago foi causado por culpa da incompetência, da insensatez e principalmente da irresponsabilidade, conforme mostram os fatos da história, que são claríssimos, somente não enxergáveis para quem não quiser ver, infelizmente.

Brasília, em 2 de janeiro de 2024

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