Por bastante tempo, permaneci,
de forma persistente, procurando em Brasília localizar, encontrar uma
mangueira idêntica àquelas que fizeram parte da minha inesquecível infância,
no saudoso Sítio Canadá, situado bem no interior paraibano.
Indiscutivelmente, como todos sabem, as mangas são gostosas, saborosas e
nutritivas, mas as mangueiras do sítio do meu querido avô davam uma espécie
de manga diferenciada, própria da região, com textura espessa, caudalosa e
sabor acentuadamente especial e singular. Era verdadeiro maná, alimento delicioso,
abundante e excelente, que se podia comer até a casca, já que era impossível
consumir o caroço. Enfim, a surpresa do encontro com aquilo considerado quase
irrealizável, que viria acontecer por acaso, mas a beleza da descoberta
normalmente não poderia ser diferente e eis a manga da minha infância surgindo
à minha frente. Após ter se precipitado do seu berço por força natural do
amadurecimento, ela estava sobre o asfalto, ainda sofrida devido ao impacto
da queda, com pequenas fissuras, o suficiente para exalar perfume agradabilíssimo
e inigualável, mas o sabor incomparável somente seria desvendado e confirmado
logo após à minha chagada em casa. A abençoada mangueira tinha morada num
local especial, junto à balança de pesagem de cargas veiculares da Ceasa, próxima
à feira de produtos agrícolas e frutíferos. Do primeiro encontro e daí em
diante, até o sábado anterior a este último, eu tinha por hábito saudável
reverenciar a sua feliz existência na minha vida, por ela ser árvore extraordinária.
Ainda lembro-me muito bem do nosso último encontro. Naquela ocasião, ela estava
com aspecto maravilhoso e encantador, anunciando que se preparava para, logo em
breve, oferecer à natureza a sua preciosidade, o seu maná. Ela começava a
florir e se embelezava diante das abelhas, que certamente reconheceriam ser
especial a sua florada entre as demais da sua espécie. Aquele encontro,
infelizmente, aconteceu a última contemplação de uma amizade efêmera, porque
a minha predileta mangueira havia sido transformada em reles gravetos de
lenha, que por certo hão de alimentar algum forno de padaria ou simplesmente
servirem de carvão. Com certeza, a exuberante mangueira se foi tão de repente
deixando enormemente entristecido o seu fiel admirador, que gostaria que esse
fim melancólico jamais pudesse acontecer. A sua falta será sentida para
sempre, enquanto eu estiver indo ou não à Ceasa, onde construímos uma
história de sentimento muito especial, alimentada desde o nosso primeiro encontro,
há pouco mais de três anos, se muito. Valeu...
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 27 de agosto de
2012
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quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Homenagem à mangueira
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Que triste amigo Adalmir. Mas é o reflexo do dito "progresso".
ResponderExcluirUm abraço,
Soad