domingo, 5 de agosto de 2012

Somente a verdade

Para quem acreditava que o mensalão sequer existiu, agora pode ter se surpreendido com as gratas e importantes argumentações do procurador-geral da República, que, com bastante competência e lucidez, mostrou de forma pedagógica e minudente as reais peripécias corruptivas desse escândalo que manchou a honra e a dignidade do povo brasileiro, por ter sido, segundo o procurador-geral, “O mais atrevido e escandaloso caso de corrupção, de desvio de dinheiro público flagrado no Brasil. Maculou gravemente a República. Foi um sistema de enorme movimentação financeira com objetivo de comprar votos de parlamentares nas matérias importantes para os líderes criminosos”. Parece que, agora, não há mais dúvida, diante das provas capazes de formar pleno convencimento sobre a existência do esquema de cooptação de apoio político descrito na denúncia, constituindo graves crimes cometidos contra o patrimônio da nação, em proveito de um governo inescrupuloso e desonesto, que, no primeiro momento, reconheceu o peso do escândalo e insinuou que o Partido dos Trabalhadores, gênese da corrupção, teria obrigação de pedir desculpas à nação. Entretanto, de forma covarde e mesquinha, não somente inexistiram as justificativas sobre as vergonhosas falcatruas com dinheiros públicos, engendradas e manipuladas dentro do palácio presidencial, como ninguém foi punido pelo partido pelas práticas abomináveis e delituosas. Ao contrário, com a finalidade de menosprezar a inteligência do povo brasileiro, os líderes da quadrilha passaram a receber homenagens em solenidades públicas, como forma de torná-los verdadeiros heróis e mascarar seus atos delituosos. O pior é que essa pérfida campanha liderada pelo “todo-poderoso” conseguiu convencer seus seguidores e as pessoas desprovidas de informações sobre o esquema de arrecadação de recursos usados para pagar parlamentares pela aprovação, no Congresso Nacional, de matérias de interesse do governo de então, cujo mandatário se apresentava à sociedade com urbanidade e humildade, passando-se como verdadeiro pai da pobreza e Samaritano que matou a fome dos irmãozinhos carentes, enquanto nos bastidores do poder eram tramadas e executadas as piores traições à sociedade, mediante o famigerado mensalão, ou seja, a falsa urbanidade servia de máscara para dissimular a prática de ações sórdidas contra os interesses da nação. Impressiona a forma como a ignorância foi capaz de permitir que o povo fosse iludido com facilidade com conversas enganosas, falsas e mentirosas e ainda que o seu mentor conseguisse ser elevado à condição de herói nacional. Ainda bem que a contundência da retrospectiva bastante detalhada do escândalo apareceu em excelente momento, para mostrar ao país, em especial às pessoas de boa índole, a verdade dos fatos, que tem o poder de contradizer as poucas-vergonhas defendidas por pessoa indigna, que se mantém com prestígio em alta enganando e destorcendo a realidade dos acontecimentos, com o único propósito de tirar proveito da situação. Não há a menor dúvida de que a assertiva do procurador-geral da República, segundo a qual “o mensalão foi o mais atrevido e escandaloso caso de corrupção no Brasil”, vai ficar gravada na história do direito brasileiro como fato triste e lamentável, que teve origem no âmago do poder que tinha o dever constitucional de zelar e defender a honra e dignidade do povo brasileiro, mas, diferente disso, foi capaz de manchar, de forma indelével, o símbolo e o respeito da mais alta autoridade do país, por ser instituição da nacionalidade que tem como princípio intrínseco servir de paradigma para a sociedade, modelo este que não pode submeter-se, em momento algum, a questionamentos, sob pela de perderem-se os sentimentos de dignidade e credibilidade e ferirem-se os princípios democráticos, que são sustentáculos da garantia de governo de caráter íntegro. Acorda, Brasil! 

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 05 de agosto de 2012

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