Com a finalidade de orientar os fiéis a votarem nas
próximas eleições municipais, um padre da cidade de Cajazeiras, interior do
Estado da Paraíba, disse que a igreja não está a favor de políticas partidárias,
mas sim de políticas públicas, que o voto deve ser livre e que é muito
importante o eleitor conhecer a história e as propostas do candidato. Na sua
visão, o mais importante é que o eleitor vote em alguém que tenha personalidade
semelhante à sua, porque a escolha do representante deve combinar com a
parecença de quem seleciona. Na concepção “moderna” do pároco, o candidato escolhido
deve ser, pasmem, aquele que seja capaz de adotar as mesmas medidas que o
eleitor tomaria caso o cargo público fosse por ele ocupado, nestes termos: “Está muito claro. Se você é ladrão vota no
ladrão, se você é assassino vote no assassino, mas se você é honesto vote em
uma pessoa honesta”, por entender que isso melhor satisfaz, de forma
tranquila, a consciência do eleitor. É bastante lamentável que autoridade eclesiástica,
em princípio, possuidora de elevada bagagem de conhecimentos bíblicos,
filosóficos e humanitários, tenha visão tão destorcida e retrógrada da
realidade que se pretende para melhorar e aperfeiçoar o sistema da livre
escolha da representatividade política. O nobre padre perdeu excelente
oportunidade de esclarecer à comunidade, de forma didática e pedagógica, sobre
a necessidade de escolher pessoas para representá-la tão somente tendo por
fundamento perfil de competência, honestidade, disposição para trabalhar para o
bem-comum, experiência com problemas sociais e outros atributos que contribuam
para a melhoria das condições de vida da população envolvida. Não há a menor
dúvida de que essas ideias do padre, de que o criminoso deve votar em
delinquente e que o incompetente em incapacitado, sob o argumento de semelhança
de personalidade, não condizem em absoluto com os princípios sadios de
sociabilidade e muito menos com os ensinamentos religiosos e cristãos, que
primam pela valorização do ser humano nos seus procedimentos, que não podem
desviar da ética e da moralidade, inclusive por ocasião da escolha de pessoas
para cuidar dos interesses sociais. Caso a intenção do sacerdote seria
contribuir realmente para orientar os menos esclarecidos sobre o voto seguro,
ele teria a obrigação de expor questão tão importante com a humildade daqueles
que precisam de informação clara e esclarecedora e jamais centrar a sua ideia
em questão polêmica de que, por exemplo, ladrão vota em ladrão, quando se sabe que
há comunidades onde não existem ladrões, nem assassinos e vice-versa candidatos
ladrões nem assassinos. São reprováveis, por todos os meios, as ideias absurdas
em referência, por contribuírem para confundir ainda mais os eleitores carentes
de orientações precisas e seguras. À vista da orientação em comento, fica claro
que a pessoa versada, com sapiência, sobre assuntos religiosos deveria cuidar
somente das suas vocações eclesiásticas e sacerdotais, deixando que as questões
políticas fiquem sob a exclusiva incumbência dos especialistas da matéria, como
forma de contribuir legitimamente para o beneficio da democracia.
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 21 de agosto de 2012
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