Com a ênfase de quem tem conhecimento sobre os
bastidores dos acontecimentos, defensores de réus do mensalão estranham a
ausência do então presidente da República no rol dos incriminados pelo maior
escândalo político da história do país.
Segundo os entendidos de plantão, o mandatário da época não somente
sabia de toda trama como foi quem ordenou o esquema de compra de votos no
Congresso Nacional, com a exclusiva finalidade de aprovação de seus projetos e
de ampliação do apoio ao seu plano de manutenção no poder. Como o esquema tinha
por base ambicioso respaldo político, os acordos envolviam cifras vultosas e,
para tanto, dependiam da arrecadação de bastante dinheiro, que surgiu com
naturalidade e sem muito sacrifício proveniente de empréstimos fictícios, das
estatais e de contratações superfaturadas, propiciando o abastecimento do que
mais tarde foi denominado “valerioduto”. A situação do ex-presidente se
assemelha em muito ao caso do então chefe da Casa Civil, que foi arrolado como
mentor do esquema, mesmo sem provas consistentes sobre a sua participação. Como
corolário, não teria sentido lógico inocentar justamente aquele que, em última
análise, estava sendo beneficiado, com o fortalecimento do seu audacioso e
sórdido plano da compra da consciência política, enquanto o mentor da corrupção
se beneficiaria em grau bem menor, apenas se mantendo como chefe do ministério
mais importante da República, o que também não era pouca coisa. Mesmo para quem
possui pouca ou nenhuma inteligência, tem consciência suficiente para inferir
que, se as tenebrosas e indecentes transações de compra de votos ocorriam entre
as quatro paredes do Palácio do Planalto, o então presidente não só sabia das
negociatas como ordenou e concordou com a implementação do esquema do mensalão.
A questão de saber ou não sobre o que se passava no palácio do governo caracteriza
situação emblemática, povoada por momentos obscuros a exemplo daquele em que um
ministro do Supremo Tribunal Federal foi chantageado, na tentativa desesperada
para adiar o julgamento do mensalão, sob a ameaça da revelação de caso
inexistente envolvendo o ministro. Na verdade, a ficha corrida do
ex-presidente, recheada de episódios políticos escabrosos, afiança a certeza da
existência de um conjunto degradante de malfeitos e maldades contrários ao
interesse público e aos princípios éticos e morais, tais como: coligações
fisiológicas no seu governo, leniência com a corrupção na administração pública
e a impunidade dos corruptos, entre tantos casos aviltantes e abomináveis
incompatíveis com os princípios democráticos. O povo brasileiro mais
esclarecido e atento sobre os fatos políticos nebulosos não tem dificuldade em
concluir pela condenação do ex-presidente da República, por sua efetiva
participação no ignóbil escândalo do mensalão, ainda que ele negue a sua culpa
no episódio e os tribunais judiciários se recusem a julgá-lo pelo gravíssimo
dano causado à dignidade do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 17 de agosto de 2012
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