sábado, 18 de agosto de 2012

O tribunal popular condena

Com a ênfase de quem tem conhecimento sobre os bastidores dos acontecimentos, defensores de réus do mensalão estranham a ausência do então presidente da República no rol dos incriminados pelo maior escândalo político da história do país.  Segundo os entendidos de plantão, o mandatário da época não somente sabia de toda trama como foi quem ordenou o esquema de compra de votos no Congresso Nacional, com a exclusiva finalidade de aprovação de seus projetos e de ampliação do apoio ao seu plano de manutenção no poder. Como o esquema tinha por base ambicioso respaldo político, os acordos envolviam cifras vultosas e, para tanto, dependiam da arrecadação de bastante dinheiro, que surgiu com naturalidade e sem muito sacrifício proveniente de empréstimos fictícios, das estatais e de contratações superfaturadas, propiciando o abastecimento do que mais tarde foi denominado “valerioduto”. A situação do ex-presidente se assemelha em muito ao caso do então chefe da Casa Civil, que foi arrolado como mentor do esquema, mesmo sem provas consistentes sobre a sua participação. Como corolário, não teria sentido lógico inocentar justamente aquele que, em última análise, estava sendo beneficiado, com o fortalecimento do seu audacioso e sórdido plano da compra da consciência política, enquanto o mentor da corrupção se beneficiaria em grau bem menor, apenas se mantendo como chefe do ministério mais importante da República, o que também não era pouca coisa. Mesmo para quem possui pouca ou nenhuma inteligência, tem consciência suficiente para inferir que, se as tenebrosas e indecentes transações de compra de votos ocorriam entre as quatro paredes do Palácio do Planalto, o então presidente não só sabia das negociatas como ordenou e concordou com a implementação do esquema do mensalão. A questão de saber ou não sobre o que se passava no palácio do governo caracteriza situação emblemática, povoada por momentos obscuros a exemplo daquele em que um ministro do Supremo Tribunal Federal foi chantageado, na tentativa desesperada para adiar o julgamento do mensalão, sob a ameaça da revelação de caso inexistente envolvendo o ministro. Na verdade, a ficha corrida do ex-presidente, recheada de episódios políticos escabrosos, afiança a certeza da existência de um conjunto degradante de malfeitos e maldades contrários ao interesse público e aos princípios éticos e morais, tais como: coligações fisiológicas no seu governo, leniência com a corrupção na administração pública e a impunidade dos corruptos, entre tantos casos aviltantes e abomináveis incompatíveis com os princípios democráticos. O povo brasileiro mais esclarecido e atento sobre os fatos políticos nebulosos não tem dificuldade em concluir pela condenação do ex-presidente da República, por sua efetiva participação no ignóbil escândalo do mensalão, ainda que ele negue a sua culpa no episódio e os tribunais judiciários se recusem a julgá-lo pelo gravíssimo dano causado à dignidade do país. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 17 de agosto de 2012

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