quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Mácula moral

Em sintonia com os anseios da sociedade e em cumprimento à sua competência constitucional, o Supremo Tribunal Federal está mostrando, ao vivo e em cores, de forma minudente, com a contundência que lhe é peculiar, devidamente acobertado com vasta comprovação material, que o modelo político-partidário brasileiro foi maculado com o mensalão e começou a ruir a partir do momento em que seus ideários se voltaram para o desvio indecoroso de recursos públicos e para o fisiologismo escrachado e desavergonhado, tendo por objetivo a pequenez do apego e da manutenção de grupos políticos no poder, com o inadmissível apoio na divisão da administração pública em forma de autênticos sindicatos, onde os órgãos públicos e as empresas estatais passaram para o comando das lideranças despreparadas e incapacitadas para gerenciar o patrimônio e os negócios do país. Infelizmente, a “intelectualidade” política, pensando apenas no seu umbigo e nos seus interesses, prefere ignorar a visível decadência moral e a falta de perspectiva para o futuro da nação, máxime porque esse sistema retrógrado e decaído vem servindo tão somente para satisfazer sua ideologia de poder, que teve o condão de corromper os sentimentos de honestidade e de moralidade dos brasileiros, em ultrajante desserviço aos interesses primordiais do país. As provas constantes do mensalão atestam a robusteza de incontestáveis procedimentos ardilosos, criminosos e afrontosos à dignidade do país, conforme sentenciou com absoluta propriedade o corajoso e competente procurador-geral da República, ao afirmar no seu judicioso e elucidativo parecer: “Foi sem dúvida o mais escandaloso e atrevido caso de corrupção da República”. Assinale-se que, à época do clamoroso escândalo de corrupção no governo Vargas, a imprensa o denominou de “Mar de Lama”, cujo fato precipitou o suicídio do mandatário de então, ao envergonha-se ao extremo com a traição de seus aliados. Os entendidos, ao se referirem ao regime militar, denominam-no “Anos de Chumbo”, pela forma dura como os terroristas foram “carinhosamente” tratados. Agora, no embalo do mensalão e de outros crimes similares, parece haver enorme chance de o período desse governo de incompetência, corrupção, favorecimentos políticos e impunidade, ser lembrado como “Sindicato do Crime”, combinando apropriadamente com a formação de quadrilha para desviar recursos públicos, com a finalidade de custear apoio político para aprovação de projetos de interesses partidários e pessoais. Nunca na história deste país a confiança do povo foi tão menosprezada e desrespeitada, justamente por quem defendia a moralização e dignidade na vida pública. Todavia, o apregoado projeto de decência foi logo desmascarado com a banalização da corrupção, impunidade, violência, criminalidade, falta de prioridades e de interesse na solução dos problemas e das mazelas reinantes no país, onde a administração pública se enfraqueceu com o seu loteamento entre os partidos políticos, comandados por incompetentes e interessados em acomodar compadrios e apaniguados, em detrimento das causas primárias da nacionalidade. A sociedade anseia por que haja urgente mudança na ordem política nacional, principalmente com a plena reformulação desse sistema arcaico e cheio de brechas e facilitações para a corrupção e apropriação dos recursos públicos. Acorda, Brasil! 
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 22 de agosto de 2012

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