Sem conseguir de livrar da forte pressão decorrente
da avalanche de denúncias de corrupção e de má administração, a Petrobras passa
por grave crise de credibilidade e de governança, a exemplo da existência de
pelo menos cinco inquéritos promovidos pela Polícia Federal, outras investigações
conduzidas pelo Ministério Público Federal e diversas auditorias realizadas
pelo Tribunal de Contas da União. A crise administrativa reflete diretamente
nas finanças e no patrimônio da empresa, com significativas perdas acumuladas,
em três anos, de R$ 185 bilhões, o equivalente a aproximadamente 51% do seu
valor de mercado. Nos últimos três
meses, o tombo foi de 18%, segundo cálculos da consultoria Economática. A crise
na petrolífera foi aberta às pressas e parece não ter data para se encerrar,
ante a magnitude dos fatos irregulares, que sobressaem de todos os flancos, com
nítida evidência da sua origem no governo que a administra. O clima é de bastante
desconforto, não somente para a presidente da empresa, mas principalmente para a
presidente da República, que se encontra no olho do furacão que embasam as
denúncias de corrupção na compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, por ter
assinado pelo próprio punho a aprovação da compra, que agora atribui o seu
assentimento à falha de omissão em relatório apresentado ao Conselho de
Administração da empresa, que era presidido pela mandatária do país. Somente em
2013, as dívidas da empresa subiram mais de US$ 22 bilhões, o equivalente a
alta de 30% em relação ao ano anterior. A incômoda situação da petrolífera levou
o seu Conselho Fiscal a registrar em ata alerta sobre os fatos preocupantes,
inclusive assinalando possível risco de rebaixamento do grau de investimentos
pelas agências de classificação. Por sua vez, os integrantes do Conselho de
Administração divergiram quanto às demonstrações financeiras. O conselheiro
independente se opôs à sua aprovação, ao questiona as operações contábeis que
seriam usadas para encobrir as dívidas. Outros conselheiros também teriam
expressado críticas acerca dos fatos nebulosos surgidos nos últimos tempos. Os nebulosos
escândalos chamaram a atenção dos investidores internacionais, que formalizaram
chapa para concorrer às vagas de conselheiros independentes. Um fundo britânico
avalia a governança da empresa como "crítica"
e capaz de comprometer "a capacidade
de investimento e expansão da Petrobrás no longo prazo". O movimento
foi apoiado por duas consultorias internacionais que orientam investidores
globais sobre as assembleias. A crise contribuiu para que houvesse desconfiança
quanto à capacidade de a Petrobrás ter condições de ampliar a produção de
petróleo, embora a empresa tenha emitido recado direto aos estaleiros
nacionais, com alerta de que "nada
pode atrasar a curva de produção". Aliado aos fatos de notória má
gestão dos negócios da empresa, há enorme decepção dos investidores com perdas
financeiras causadas pela defasagem nos preços dos combustíveis, que estão
contribuindo para os seguidos prejuízos patrimoniais, o descrédito e a
desconfiança dos investidores, inclusive estrangeiros, fato este que reflete
nos negócios e na produção, sendo que esta é o seu principal produto. Não há
dúvida de que os investidores nutriam forte esperança de que a empresa
conseguisse retomar o caminho certo da lucratividade e do eficiente
gerenciamento de seus negócios, mas as inferências e negociatas distorceram a
curva ascendente de sucesso da estatal. Por se tratar de empresa que, no
passado, não muito distante, já foi símbolo nacional de progresso, por suas
conquistas exitosas na exploração de petróleo, inclusive em águas profundas,
que atraíram a atenção e o interesse dos investidores, é completamente
inadmissível que a petrolífera seja submetida a essa terrível crise, fruto da
irresponsável entrega dos cargos-chave aos partidos da coalizão de governo, em
especial aos afilhados do PMDB, que jamais poderiam exercer cargos
técnico-especializados em empresa que exige especialização e competência, que
são inexistentes nas indicações políticas. É induvidoso que a culpa pelos fatos
desastrosos ocorridos na Petrobras deve ser atribuída, sem erro, a quem teve a
indignidade de indicar os aliados políticos, por força de conchavos
fisiológicos, sem o menor critério, para exercer cargos relevantes nas
diretorias da empresa. Trata-se da corresponsabilidade sobre os fatos
denunciados e prejudiciais aos interesses da empresa, tanto por parte da
mandatária do país, que abanou as indicações partidárias, em troca de apoio
político, como dos políticos envolvidos nas negociações e operações que
resultaram fracassos financeiros e prejuízos para os investidores. Compete à
sociedade eliminar da vida pública os políticos que demonstram falta de
sensibilidade, conscientização e responsabilidade quanto ao zelo e à preservação
do patrimônio público, a exemplo dos casos maléficos aos interesses da
Petrobras e do povo brasileiro. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de março de 2014