O programa Fantástico da Rede
Globo de Televisão, em recente reportagem sobre o ensino público brasileiro,
fez interessante explanação sobre o desempenho de algumas escolas que mostraram
que a educação tem condição de oferecer qualidade de aprendizagem, apesar das
gritantes dificuldades de toda ordem por que são obrigados a enfrentar os
professores, os alunos e demais profissionais relacionados a esse tão
importante e essencial trabalho dos educadores, diante das péssimas condições
oferecidas pelos governos federal, estadual e municipal. Não é novidade que o
ensino público do país padece do verdadeiro descaso das autoridades públicas,
que não se cansam de prometer apoio para a educação, cujas promessas são logo
esquecidas depois das eleições, em que o abominável círculo vicioso tornou-se
práxis nos tempos, fazendo com que a aprendizagem tenha os piores desempenhos
quando avaliada por organismos internacionais. Todavia, o maior entrave fica
por conta da desvalorização dos professores, cujos salários merecem as adjetivações
de indignos e vergonhosos, por não condizerem nem longinquamente com as nobres
funções atribuídas a eles, que deveriam ganhar à altura do mérito do seu relevante
trabalho de educador e de formador da cultura do país. Essa é a triste
realidade que jamais deveria existir no país que representa a sétima economia
mundial, mas não tem o menor pudor em pagar tão mal aos mestres da educação, responsáveis
pela transmissão de aprendizagens e de conhecimentos aos homens que têm a importante
atribuição de administrar o país. A aludida reportagem presta importante
contribuição à educação brasileira, em especial por mostrar, em particular, o
desempenho brilhante da escola pública Augustinho Brandão, situada no pequeno –
menos na educação - Município de Cocal dos Alves, no Piauí, que conseguiu
superar, com dedicação, esforço e empenho próprios, uma série de monstruosos obstáculos
comuns nas demais escolas do país. Seu desempenho é exemplar, em especial por
se encontrar em região muito pobre, isolada e pouco cuidada pelas autoridades,
mas, mesmo assim, a educação foi transformada em qualidade superior, comparável
ao ensino praticado nos grandes centros, em razão de seus alunos terem conseguido
a obtenção de médias melhores que as de escolas particulares e a aprovação nos
vestibulares concorridos do país. A diretora regional esclarece que o amor aos
estudos ficou patenteado na persistência demonstrada pelos alunos, a ponto de “Nós chegamos a ter instantes dentro dessa
escola que tínhamos que expulsar os alunos, no bom sentido. Aqui parecia que
era o melhor lugar. O menino estudava de manhã, mas ele queria ficar à tarde,
queria ficar à noite, queria passar a madrugada estudando, porque aqui ele se
sentia bem”. Os
relatos apontam que os alunos dessa escola já acumulam dezenas de medalhas em
Olimpíadas de Matemática e Química, e prêmios nacionais de astronáutica,
astronomia e física. Além de eles terem conseguido excelente média - acima da
nacional - no Enem. Com orgulho, a diretora da escola afirmou que, “Em 2010, a escola aprovou todos os alunos
que fizeram o vestibular. Todos”. Já uma aluna declarou, de forma sábia,
que “Se o pessoal se conscientizasse que
a educação pode transformar, ia acontecer uma grande diferenciação. E foi o que
aconteceu nesse colégio. Conscientizar tanto alunos quanto professores”.
Enquanto uma professora pontificou: “Eu
ouvi a vida toda que a educação pública é uma educação de péssima qualidade.
Cresci ouvindo isso. E eu faço de tudo para mudar essa realidade. Eu acredito
na escola pública. Não é possível que não dê certo em um país tão lindo, tão
cheio de diversidades culturais, tão rico, não tem por que a educação não dar
certo”. Aquela aluna, demonstrando invulgares inteligência e sensibilidade,
disse que, “Quando o pessoal cair na real
e perceber que não tem outra forma de se ter um futuro melhor sem ser pela
educação, aí vai acontecer a grande diferença, a grande melhoria”. É natural
que a brasileirinha, interessada e preocupada com a educação do país, quis
dizer que as autoridades incumbidas de cuidar e zelar pelo futuro da nação precisam
se conscientizar sobre a real importância da educação como mola propulsora do
desenvolvimento do país, sem a qual, realmente, o futuro do Brasil se tornará
incerto e o presente da educação há de continuar exatamente na forma precária das
demais escolas relegadas ao abandono e ao deus-dará, em completa dissonância
com os avanços e as conquistas do conhecimento da humanidade e, pasmem, com a extraordinária
posição de sétima economia mundial ocupada pelo país tupiniquim. A posição
dessa brilhante aluna impressiona muito, especialmente por ela ter mencionado
os calamitosos casos de corrupção que grassam na política e na administração
pública, quase em tom patético de apelo à nação, ao concitar as pessoas a combaterem
essa endêmica situação, fato esse que me sensibilizou o suficiente para que eu
tenha decidido enviar para ela a minha coleção de livros – Tomos I a VIII, que versam
basicamente sobre princípios éticos e morais nas atividades
político-administrativas, com o propósito de convocar as pessoas que amam o
Brasil a cerrarem fileira contra essa chaga da corrupção, que é capaz inclusive
de chamar a atenção de uma aluna ainda em tenra idade escolar, mas já preocupada
com a premente necessidade de moralização da administração pública. É lamentável
que, em pleno século XXI, os governantes ainda se sintam confortavelmente com a
situação de calamidade, precariedade e sucateamento que se encontram não
somente a educação do país, mas os demais serviços públicos prestados à
população, por força de mandamento constitucional, em completa contraposição
com a história contemporânea, quando se percebe, de forma cristalina, que até as
piores republiquetas decidem priorizar a educação entre as políticas de
governo. A sociedade anseia por que o ensino público tenha efetiva prioridade,
no mesmo nível comparável ao que é dispensado no primeiro mundo, razão do
natural desenvolvimento por ele alcançado, e que as escolas públicas mereçam pleno
apoio dos governantes do país, mediante o estabelecimento de ações e políticas
públicas responsáveis e capazes de transformar, com urgência, o verdadeiro caos
que impera na educação em ensino e aprendizagem de qualidade que a nação já
merece há bastante tempo, como forma de suplantar, em definitivo, essa
horrorosa e injustificável situação de predominância da incompetência e do desprezo,
que tem o poder de contribuir para dificultar o desenvolvimento do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 1º de maio de 2014
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