sexta-feira, 2 de maio de 2014

A educação tem futuro?

O programa Fantástico da Rede Globo de Televisão, em recente reportagem sobre o ensino público brasileiro, fez interessante explanação sobre o desempenho de algumas escolas que mostraram que a educação tem condição de oferecer qualidade de aprendizagem, apesar das gritantes dificuldades de toda ordem por que são obrigados a enfrentar os professores, os alunos e demais profissionais relacionados a esse tão importante e essencial trabalho dos educadores, diante das péssimas condições oferecidas pelos governos federal, estadual e municipal. Não é novidade que o ensino público do país padece do verdadeiro descaso das autoridades públicas, que não se cansam de prometer apoio para a educação, cujas promessas são logo esquecidas depois das eleições, em que o abominável círculo vicioso tornou-se práxis nos tempos, fazendo com que a aprendizagem tenha os piores desempenhos quando avaliada por organismos internacionais. Todavia, o maior entrave fica por conta da desvalorização dos professores, cujos salários merecem as adjetivações de indignos e vergonhosos, por não condizerem nem longinquamente com as nobres funções atribuídas a eles, que deveriam ganhar à altura do mérito do seu relevante trabalho de educador e de formador da cultura do país. Essa é a triste realidade que jamais deveria existir no país que representa a sétima economia mundial, mas não tem o menor pudor em pagar tão mal aos mestres da educação, responsáveis pela transmissão de aprendizagens e de conhecimentos aos homens que têm a importante atribuição de administrar o país. A aludida reportagem presta importante contribuição à educação brasileira, em especial por mostrar, em particular, o desempenho brilhante da escola pública Augustinho Brandão, situada no pequeno – menos na educação - Município de Cocal dos Alves, no Piauí, que conseguiu superar, com dedicação, esforço e empenho próprios, uma série de monstruosos obstáculos comuns nas demais escolas do país. Seu desempenho é exemplar, em especial por se encontrar em região muito pobre, isolada e pouco cuidada pelas autoridades, mas, mesmo assim, a educação foi transformada em qualidade superior, comparável ao ensino praticado nos grandes centros, em razão de seus alunos terem conseguido a obtenção de médias melhores que as de escolas particulares e a aprovação nos vestibulares concorridos do país. A diretora regional esclarece que o amor aos estudos ficou patenteado na persistência demonstrada pelos alunos, a ponto de “Nós chegamos a ter instantes dentro dessa escola que tínhamos que expulsar os alunos, no bom sentido. Aqui parecia que era o melhor lugar. O menino estudava de manhã, mas ele queria ficar à tarde, queria ficar à noite, queria passar a madrugada estudando, porque aqui ele se sentia bem”. Os relatos apontam que os alunos dessa escola já acumulam dezenas de medalhas em Olimpíadas de Matemática e Química, e prêmios nacionais de astronáutica, astronomia e física. Além de eles terem conseguido excelente média - acima da nacional - no Enem. Com orgulho, a diretora da escola afirmou que, “Em 2010, a escola aprovou todos os alunos que fizeram o vestibular. Todos”. Já uma aluna declarou, de forma sábia, que “Se o pessoal se conscientizasse que a educação pode transformar, ia acontecer uma grande diferenciação. E foi o que aconteceu nesse colégio. Conscientizar tanto alunos quanto professores”. Enquanto uma professora pontificou: “Eu ouvi a vida toda que a educação pública é uma educação de péssima qualidade. Cresci ouvindo isso. E eu faço de tudo para mudar essa realidade. Eu acredito na escola pública. Não é possível que não dê certo em um país tão lindo, tão cheio de diversidades culturais, tão rico, não tem por que a educação não dar certo”. Aquela aluna, demonstrando invulgares inteligência e sensibilidade, disse que, “Quando o pessoal cair na real e perceber que não tem outra forma de se ter um futuro melhor sem ser pela educação, aí vai acontecer a grande diferença, a grande melhoria”. É natural que a brasileirinha, interessada e preocupada com a educação do país, quis dizer que as autoridades incumbidas de cuidar e zelar pelo futuro da nação precisam se conscientizar sobre a real importância da educação como mola propulsora do desenvolvimento do país, sem a qual, realmente, o futuro do Brasil se tornará incerto e o presente da educação há de continuar exatamente na forma precária das demais escolas relegadas ao abandono e ao deus-dará, em completa dissonância com os avanços e as conquistas do conhecimento da humanidade e, pasmem, com a extraordinária posição de sétima economia mundial ocupada pelo país tupiniquim. A posição dessa brilhante aluna impressiona muito, especialmente por ela ter mencionado os calamitosos casos de corrupção que grassam na política e na administração pública, quase em tom patético de apelo à nação, ao concitar as pessoas a combaterem essa endêmica situação, fato esse que me sensibilizou o suficiente para que eu tenha decidido enviar para ela a minha coleção de livros – Tomos I a VIII, que versam basicamente sobre princípios éticos e morais nas atividades político-administrativas, com o propósito de convocar as pessoas que amam o Brasil a cerrarem fileira contra essa chaga da corrupção, que é capaz inclusive de chamar a atenção de uma aluna ainda em tenra idade escolar, mas já preocupada com a premente necessidade de moralização da administração pública. É lamentável que, em pleno século XXI, os governantes ainda se sintam confortavelmente com a situação de calamidade, precariedade e sucateamento que se encontram não somente a educação do país, mas os demais serviços públicos prestados à população, por força de mandamento constitucional, em completa contraposição com a história contemporânea, quando se percebe, de forma cristalina, que até as piores republiquetas decidem priorizar a educação entre as políticas de governo. A sociedade anseia por que o ensino público tenha efetiva prioridade, no mesmo nível comparável ao que é dispensado no primeiro mundo, razão do natural desenvolvimento por ele alcançado, e que as escolas públicas mereçam pleno apoio dos governantes do país, mediante o estabelecimento de ações e políticas públicas responsáveis e capazes de transformar, com urgência, o verdadeiro caos que impera na educação em ensino e aprendizagem de qualidade que a nação já merece há bastante tempo, como forma de suplantar, em definitivo, essa horrorosa e injustificável situação de predominância da incompetência e do desprezo, que tem o poder de contribuir para dificultar o desenvolvimento do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 1º de maio de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário