quinta-feira, 8 de maio de 2014

Sujeiras nas doações de campanha

Uma lista apreendida pela Polícia Federal, por ocasião das investigações da operação Lava-Jato, que estava em poder de ex-diretor da Petrobras, preso sob a suspeita de lavagem de US$ 10 milhões, revela que os partidos que integram a base aliada do governo receberam das empresas citadas nesse documento aproximadamente R$ 35,3 milhões em doações na campanha eleitoral de 2010. Conforme levantamento realizado junto ao Tribunal Superior Eleitoral, esse valor representa 79% do total doado somente por quatro empresas que mantêm contratos com o governo, cujos recursos foram pulverizados entre diretórios e candidatos de diferentes legendas. A concentração de doações eleitorais  aos partidos da base aliada ao governo é a prova evidente da existência de irregularidades e de ferimento aos princípios ético e moral predominantes no sistema político-eleitoral, viciado desde a origem, com o indecente beneplácito dos principais partidos, que se beneficiam das doações sabidamente irregulares, conforme comprovam as anotações constantes da lista da vergonha. Na casa do ex-diretor da Petrobras, suspeito de repassar a políticos e a partidos dinheiro de empresas contratadas pela estatal, houve a apreensão de lista que têm a relação das empresas com contratos ativos com a Petrobras ou, ao menos, já tiveram contratos com a estatal nos últimos anos. O documento manuscrito é bastante precioso, por citar nomes de executivos e, numa terceira coluna, descreve a "solução" pertinente aos participantes do esquema, com menção sobre detalhes de quem "está disposto a colaborar", "já vem ajudando" ou "já teve conversas com candidato". O esquema passa a ser mais deprimente e degenerativo por se tratar de empresa controlada pelo governo, que, de forma imoral e irresponsável, loteia a direção dos cargos dela aos partidos da sua base de sustentação, a exemplo do próprio PT, do PMDB e PP e de outras agremiações, que aproveitam o status quo para pôr em prática esquemas de desvios de recursos para campanhas eleitorais. Causa perplexidade a constatação de que a estatal, símbolo de eficiência e lucratividade em passado recente, tenha sido transformada em abjeta empresa a serviço de interesses espúrios e inescrupulosos de políticos e agremiações partidárias, em clara demonstração do quão o governo conseguiu, conforme demonstram os fatos, pôr em prática o mais vil gerenciamento da administração pública, que é capaz de desviar recursos públicos para campanhas eleitorais e outros fins, em nome da legalidade inexistente e, pasmem, da perenidade no poder. Segundo consta da lista em comento, somente uma empresa teria doado ao menos R$ 20,9 milhões para a campanha de 2010, sendo 83% para partidos da base de sustentação do governo. Outra repassou R$ 13,8 milhões em doações e destinou 65% desse valor à mesma base. A ligação das empresas com a Petrobras e os elevados valores envolvidos nas doações são elementos mais do que suficientes para a formação de juízo de valor sobre a predominância de promiscuidade existente nas vergonhosas doações de campanha, principalmente na facilitação das contratações das empresas pela Petrobras, ficando estabelecida a obrigatoriedade dessas indecorosas doações, esquentadas sob o pálio da lei. Não há dúvida de que esse vergonhoso esquema de desvio de recursos públicos não seria possível sem a consciente e deliberada participação das empresas e dos partidos, que são coniventes com a perpetração do crime de improbidade administrativa, ante o consentimento do superfaturamento dos preços contratuais, facilitador das generosas, porém questionáveis, doações de campanha, que jamais seriam feitas, em valores tão expressivos, se houvesse moralização nos preços corretos e justos das obras e dos serviços contratados pelo Estado. Também causa espécie se verificar que os órgãos de fiscalização e controle são impotentes para detectar as irregularidades nesse particular, passando a contribuir, implicitamente e de algum modo, para a existência dessas irregularidades, por não terem condições técnicas de cumprirem sua missão constitucional de se manifestar quanto aos preços abusivos e superfaturados dos ajustes. Os fatos mostram que existem verdadeiras quadrilhas destinadas ao desvio do dinheiro dos bestas dos contribuintes, tendo em conta que as verbas pertinentes aos contratos superfaturados da administração pública saem dos nossos bolsos, têm passagem pelos cofres públicos, são repassadas mediante contratos para as empresas e parte delas vão direto para o financiamento das campanhas eleitorais, cada vez mais sofisticadas, à custa do próprio eleitor, que ainda conta com a conivência e benevolência da Justiça Eleitoral, ao chancelar a regularidade dessas espúrias doações, com afirmação de que os recursos foram repassados em conformidade com a legislação de regência. Com tanta imundície na política e na vida pública, a exemplo do caso em foco, que não deixa dúvida de explícita corrupção com dinheiros públicos, fica evidenciada a motivação pela qual os governistas, no caso concreto, esperneiam e se estrebucham em resistência à instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito, destinada à apuração da sujeira que escorre à céu aberto na Petrobras, quando eles arranjam os maiores empecilhos para a inviabilização das investigações que poderão mexer também com os financiamentos de campanha, com recursos oriundos dos contratos firmados pela estatal. Esse caso fatalmente há de atingir de morte a parte sensível dos homens públicos, não muito afeitos às substanciais perdas das quantias desviadas para as doações de campanha. A CPI prestará importante contribuição para o país se também houver investigação sobre os bastidores das doações indignas e ilegais, fazendo com que a Petrobras seja obrigada a adotar rigoroso sistema de controle de preços nas suas contratações, como forma de se evitar a esculhambação de os partidos políticos se beneficiarem dos indevidos sobrepreços com essa finalidade. Essa perversa deformidade do emprego de recursos públicos certamente será sanada somente quando o financiamento de campanha passar a ser obrigatório para o respectivo candidato, que será necessariamente comedido e parcimonioso com os gastos da sua campanha, além de acabar com a indigna influência das empresas no serviço público. A sociedade anseia por que os aproveitadores e inescrupulosos homens públicos sejam extirpados, com urgência, da vida pública e a moralização dos costumes político-eleitorais predomine como princípio de valorização da democracia e das condutas de honorabilidade na administração pública. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 07 de maio de 2014

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