domingo, 25 de maio de 2014

Espetáculo da oposição?

Alguém pode até estranhar como, de momento para outro e tão repentinamente, o ex-presidente da Petrobras tenha mudado de opinião acerca da participação da presidente da República nos negócios dessa empresa. Ainda recente, no mês passado, ele declarou, com bastante ênfase, em entrevista à imprensa, que a mandatária do país não poderia fugir à responsabilidade dela no episódio da compra da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), pela Petrobras, mas agora, mais comedido e surpreendente, ele simplesmente recuou e disse que a presidente não foi responsável pela compra da refinaria, conquanto as decisões do Conselho de Administração da Petrobras são colegiadas e não monocráticas. Ele disse que “Não considero a presidenta responsável pela compra de Pasadena. A responsabilidade é da diretoria do Conselho de Administração”, ou seja, na maior cara-de-pau, o ex-presidente da estatal isenta a presidente do país de responsabilidade pela compra da refinaria, em contradição com o que disse anteriormente. Com certeza, na próxima aparição pública, ele deverá garantir que ela é a única pessoa do aludido conselho que sequer sabia sobre a intenção dessa malsinada transação. A compra da refinaria gerou bastante polêmica e continua causando diversas controvérsias, como essa do desconectado ex-presidente da estatal, que muda de opinião e de atendimento ao sabor das conveniências políticas, demonstrando não ter qualquer compromisso com a verdade e muito menos com os interesses do país. Não é novidade para ninguém que os valores desembolsados pela estatal para a aquisição da questionada refinaria causou o maior escândalo, devido o disparate entre os preços da anterior compra dela, algo em torno de US$ 42,5 milhões, e o valor pago pela Petrobras, cerca de US$ 1,25 bilhão, fato que motivou a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado, para apurar tanto a desastrosa aquisição da refinaria como outras deficiências de gerenciamento na estatal, causadores de prejuízos e diminuição do seu patrimônio. Embora a atual presidente da Petrobras tenha assegurado, com absoluta convicção, que a refinaria foi mau negócio para o país, o ex-presidente assegurou exatamente o contrário, garantindo, em contraposição, que "(Pasadena) era uma refinaria extremamente bem localizada e com preço atraente. O interesse era estratégico e era adequada para a realidade do Brasil e a realidade do petróleo nos EUA. Era uma refinaria que estava barata. Os primeiros 50% foram comprados a menos da metade do preço das refinarias por barril médio. A refinaria daria retorno com manutenção do mercado de refino leve e pesado. O mercado de consumo de derivados nos Estados Unidos estava bombando em 2003-2007, não só em gasolina, mas em demanda de petróleo pesado”. Além de não ter contribuído para os esclarecimentos pertinentes à compra da refinaria, o ex-presidente da Petrobras afirmou que "A CPI pode transformar-se simplesmente em um espetáculo, a oposição quer criar um espetáculo. É extremamente perigoso, extremamente condenável o comportamento da oposição, que está querendo destruir uma empresa sólida, bem administrada, com perspectiva de crescimento como é a Petrobras, tentando dizer que a empresa está numa crise, que não existe. Há muita ficção nas ações que a oposição está tendo". Como não poderia ser diferente, o ex-presidente da estatal se houve como autêntico petista, ao atribui à oposição a tentativa de destruir a empresa que se apresenta agora com patrimônio bastante diminuído por obra e graça da gestão comandada pelo governo petista, em demonstração efetiva de incompetência gerencial, que jamais poderia ser jogada no colo senão do próprio governo, que tem plena responsabilidade pelos insucessos econômico-financeiros da empresa, devido à ingerência sobre as operações e a administração dos negócios dela. O episódio da Petrobras é o exemplo clássico de que o governo não assume a responsabilidade pelos próprios erros, preferindo atribuí-los, como sói acontecer, a outrem, a exemplo do presente caso, em que a oposição foi eleita a preferida da vez, obviamente por ser ano eleitoral.  Urge que sejam apurados com responsabilidade, profundidade e abrangência os nebulosos fatos que causaram sensível decadência da maior empresa do país, justamente em decorrência da adoção de práticas destinadas à satisfação de interesses politiqueiro e partidário, altamente prejudiciais aos negócios da Petrobras e do país, de modo que sejam possíveis a identificação das responsabilidades e imputação dos danos aos verdadeiros culpados, com vistas ao ressarcimento dos prejuízos à estatal. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 24 de maio de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário