Alguém pode até estranhar como, de momento
para outro e tão repentinamente, o ex-presidente da Petrobras tenha mudado de
opinião acerca da participação da presidente da República nos negócios dessa
empresa. Ainda recente, no mês passado, ele declarou, com bastante ênfase, em
entrevista à imprensa, que a mandatária do país não poderia fugir à
responsabilidade dela no episódio da compra da Refinaria de Pasadena, no Texas
(EUA), pela Petrobras, mas agora, mais comedido e surpreendente, ele
simplesmente recuou e disse que a presidente não foi responsável pela compra da
refinaria, conquanto as decisões do Conselho de Administração da Petrobras são
colegiadas e não monocráticas. Ele disse que “Não considero a presidenta responsável pela compra de Pasadena. A
responsabilidade é da diretoria do Conselho de Administração”, ou seja, na
maior cara-de-pau, o ex-presidente da estatal isenta a presidente do país de
responsabilidade pela compra da refinaria, em contradição com o que disse
anteriormente. Com certeza, na próxima aparição pública, ele deverá garantir
que ela é a única pessoa do aludido conselho que sequer sabia sobre a intenção
dessa malsinada transação. A compra da refinaria gerou bastante polêmica e
continua causando diversas controvérsias, como essa do desconectado
ex-presidente da estatal, que muda de opinião e de atendimento ao sabor das
conveniências políticas, demonstrando não ter qualquer compromisso com a
verdade e muito menos com os interesses do país. Não é novidade para ninguém
que os valores desembolsados pela estatal para a aquisição da questionada
refinaria causou o maior escândalo, devido o disparate entre os preços da anterior
compra dela, algo em torno de US$ 42,5 milhões, e o valor pago pela Petrobras,
cerca de US$ 1,25 bilhão, fato que motivou a criação da Comissão Parlamentar de
Inquérito no Senado, para apurar tanto a desastrosa aquisição da refinaria como
outras deficiências de gerenciamento na estatal, causadores de prejuízos e
diminuição do seu patrimônio. Embora a atual presidente da Petrobras tenha
assegurado, com absoluta convicção, que a refinaria foi mau negócio para o país,
o ex-presidente assegurou exatamente o contrário, garantindo, em contraposição,
que "(Pasadena) era uma refinaria
extremamente bem localizada e com preço atraente. O interesse era estratégico e
era adequada para a realidade do Brasil e a realidade do petróleo nos EUA. Era uma refinaria que estava barata. Os
primeiros 50% foram comprados a menos da metade do preço das refinarias por
barril médio. A refinaria daria retorno com manutenção do mercado de refino
leve e pesado. O mercado de consumo de derivados nos Estados Unidos estava
bombando em 2003-2007, não só em gasolina, mas em demanda de petróleo pesado”. Além de não ter contribuído para
os esclarecimentos pertinentes à compra da refinaria, o ex-presidente da
Petrobras afirmou que "A CPI pode
transformar-se simplesmente em um espetáculo, a oposição quer criar um
espetáculo. É extremamente perigoso, extremamente condenável o comportamento da
oposição, que está querendo destruir uma empresa sólida, bem administrada, com
perspectiva de crescimento como é a Petrobras, tentando dizer que a empresa
está numa crise, que não existe. Há muita ficção nas ações que a oposição está
tendo". Como não poderia ser diferente, o ex-presidente da estatal se
houve como autêntico petista, ao atribui à oposição a tentativa de destruir a
empresa que se apresenta agora com patrimônio bastante diminuído por obra e
graça da gestão comandada pelo governo petista, em demonstração efetiva de
incompetência gerencial, que jamais poderia ser jogada no colo senão do próprio
governo, que tem plena responsabilidade pelos insucessos econômico-financeiros
da empresa, devido à ingerência sobre as operações e a administração dos
negócios dela. O episódio da Petrobras é o exemplo clássico de que o governo não assume a responsabilidade pelos próprios erros, preferindo atribuí-los, como sói acontecer, a outrem, a exemplo do presente caso, em que a oposição foi eleita a preferida da vez, obviamente por ser ano eleitoral. Urge que sejam apurados com responsabilidade, profundidade e
abrangência os nebulosos fatos que causaram sensível decadência da maior
empresa do país, justamente em decorrência da adoção de práticas destinadas à
satisfação de interesses politiqueiro e partidário, altamente prejudiciais aos
negócios da Petrobras e do país, de modo que sejam possíveis a identificação das
responsabilidades e imputação dos danos aos verdadeiros culpados, com vistas ao
ressarcimento dos prejuízos à estatal. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 24 de maio de 2014
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