O ex-presidente da República petista e a presidente
do país conseguiram, de forma milagrosa, barrar a corrida negativa que vinha se
formando no seio da base aliada e estancar as dissidências insatisfeitas, à
vista da difícil quadro político pelo qual a presidente vinha enfrentando, com
a queda nas pesquisas, denúncias de irregularidades na Petrobrás e abertura de
CPIs no Congresso Nacional, além de dissidências no próprio PT, com setores a
favor do "Volta, Lula". O PT pode ter agora ampla coalizão de dez partidos,
a maior da sua história. A aglutinação dos partidos deve assegurar à presidente
o triplo do tempo de televisão do seu principal oponente. Essa façanha somente
foi possível graças à combinação de alguns aspectos importantes, entre os quais
a recuperação da presidente nas pesquisas, apontada no último resultado
divulgado pelo Ibope, e, pasmem, a indigna concessão de cargos públicos dos
ministérios e das empresas estatais aos aliados, como garantia para assegurar o
interesseiro apoio, sempre objetivado no recriminável sistema do “toma lá, da
cá”, próprio dos conchavos politiqueiros, cujos protagonistas não se
envergonham com a maneira humilhante como as negociatas são formalizadas em
notório balcão erigido, à luz solar, no âmbito da máquina pública, para que o
governo possa se beneficiar do usufruto de minguados minutos no horário
eleitoral, pertencentes aos partidos aliados, abduzidos igualmente dos
princípios éticos. Segundo o Palácio do Planalto, o sucesso das articulações e tratativas
teve a efetiva e direta participação do ex-presidente da República juntos aos
dirigentes partidários, possibilitando a reversão do cenário, que já começava a
preocupar os petistas, diante da insatisfação dos que defendiam e incentivam o
movimento “Volta, Lula”. O caso mais recente de adesão à campanha da presidente
foi formalizado pelo PTB, que se curvou aos agrados e às benesses do governo. Nessa
mesma linha de entendimento, vem em seguida o PROS, que apresentava problemas, mas
deve se somar à aliança dos bons amigos. A estratégia do Palácio do Planalto,
em conceder cargos públicos para legendas que já estivam se bandeando para os
braços dos adversários ao governo, surtiu efeito imediato, como no caso do PTB,
que formalizou negociata diretamente com a presidente do país e o ministro da
Casa Civil, com o aval do ex-presidente da República. Quinze dias antes de
aderir à campanha da petista, aquele partido assegurou que o tesoureiro da
legenda seria prestigiado com uma vice-presidência da Caixa Econômica Federal. O
presidente do PTB afirmou, com a cara deslavada, que pesou na decisão para apoiar
o governo a falta de expectativa em relação aos adversários da presidente. Ele
disse: "Não tínhamos alternativa. As
candidaturas de Aécio e Eduardo são um voo no escuro", ou seja, na
linguagem de partidos sem personalidade ética e democrática, os candidatos de
oposição ao governo ainda não dispõem de cargos para a implementação do
troca-troca da indignidade política. As dissidências ainda não foram totalmente
aplacadas, pois ainda não foi possível solucionar o tenebroso caso do
Ministério dos Transportes, que agora é reivindicado pelo PR, comandado pelo
senador e ex-ministro da pasta, afastado do cargo por corrupção, como forma de
assegurar pleno apoio à presidente petista. Também existem outros partidos que
não conseguiram se beneficiar do loteamento de cargos públicos, estando ainda
vacilante quanto ao apoio à presidente, a exemplo do PP, PROS e outros, cujas
agremiações declaram insatisfação com o governo, exatamente pela falta do
atendimento de seus pleitos envolvendo a ocupação de cargos públicos. Essa é
triste marca desse governo, que implantou a degeneração da moralidade na
administração pública, com a formalização da coalizão fisiológica baseada no
loteamento de cargos públicos dos ministérios e das empresas púbicas, com a
finalidade de garantir apoio político. Trata-se de demonstração de verdadeira prática
degradante e de corruptela dos princípios democráticos. Diante da modernidade
dos conceitos de moralidade, certamente que prática tão ofensiva aos princípios
ético e moral não seja adotada sequer nas republiquetas, que não teriam a
indignidade de prestigiá-la, por ser forma capaz de macular a reputação de quem
a adota pela conquista de meros minutos no horário eleitoral. Não há dúvida de
que o uso da máquina pública, como no caso do governo brasileiro, representa
conduta condenável, pela completa afronta aos princípios de racionalidade e civilidade,
que não se coadunam com a evolução e o aperfeiçoamento democráticos. Nesse
momento de visível menosprezo aos preceitos do decoro e da honorabilidade na
administração pública, compete à sociedade, no âmbito do seu sublime dever
cívico, não somente repudiar, com enorme interesse, a prática deletéria do loteamento
de cargos públicos entre os partidos da base de sustentação do governo, em indigna
troca de apoio político, por evidenciar não menos vergonhosa afronta aos saudáveis
princípios da ética, moral, legalidade e honestidade, mas também banir da vida
pública os maus políticos que utilizam a máquina pública para a satisfação de
interesse pessoal ou partidário. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 31 de maio de 2014
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