O ex-presidente da
República petista concedeu entrevista à TV portuguesa, manifestando sua opinião
sobre vários assuntos, mas a que continua causando enorme repercussão e ecoou
com intensidade nos meios político e jurídico, por ressuscitar o julgamento do escândalo
do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal - STF, se refere ao que ele concluiu
que "O mensalão... teve praticamente
80% de decisão política e 20% de decisão jurídica. O que eu acho é que não
houve mensalão. Eu também não vou ficar discutindo a decisão da Suprema Corte.
Eu só acho que essa história vai ser recontada. É apenas uma questão de tempo,
e essa história vai ser recontada para saber o que aconteceu na verdade. O
processo foi um massacre que visava destruir o PT, e não conseguiram”. Ele
negou, de forma enfática, a existência do esquema, que segundo o STF, consistiu
na compra de apoio político no Congresso Nacional, no início de governo
petista, entre os anos de 2003 e 2005. Ele declarou que, apesar de haver "companheiros do PT presos", "não se trata de gente da minha confiança".
Essa afirmação soa com muito perplexidade, porque, entre os petistas presos, estão o
ex-ministro da Casa Civil da Presidência da República, o ex-presidente do PT e
o ex-presidente da Câmara dos Deputados, importantes integrantes dos quadros históricos do
partido fundado pelo ex-presidente. O petista também foi muito enfático ao
rebater as críticas sobre o custo da Copa do Mundo e à deficiência do país em
infraestrutura, educação e saúde, que motivaram as manifestações de junho de
2013. Ele disse que "Nós não vamos conseguir em 11 e nem 15 anos
resolver as mazelas e as responsabilidades de cinco séculos. O dado concreto é
que nós conseguimos evoluir de maneira extraordinária. É ótimo o povo querer
mais, porque quanto mais as pessoas reivindicam, mais nós temos que fazer".
Para quem declarou, no auge das denúncias de irregularidades no seu governo,
que nada viu nem nada sabia, não deixa de ser manifesta incoerência do
ex-mandatário do país, ao vir agora a público para declarar que o julgamento do
imoral esquema do mensalão foi predominantemente político, quando os atos e
fatos investigados por especialistas e autoridades em corrupção terem atestado
as maldosas malversações de recursos públicos. As irracionais declarações do
petista foram contestadas com veemência pelo presidente da Excelsa Corte de
Justiça, que declarou sua indignação pela descortesia e indelicadeza para com a
Justiça brasileira. As declarações do petista mostra o nível de cultura
política dos brasileiros, que ainda não se conscientizaram sobre a sua enorme
responsabilidade de eleger cidadão que não seja verdadeiro estadista, possuidor
de sensibilidade e responsabilidade político-administrativas, cultural e
democrática, com capacidade mínima para respeitar os atos e as decisões dos
poderes da República, o que seria feito em demonstração de grandeza e de
dignidade que são esperadas dos homens públicos. Ao contrário do que ele
imagina, as declarações do ex-presidente têm o condão de mostrar que a conduta
dos homens públicos precisa passar por urgente aperfeiçoamento e modernização,
para que haja dignidade e respeito nas relações entre os poderes constituídos.
As afirmações do petista, que inclusive chegou a ser reeleito pelo sufrágio
universal, estão totalmente fora do contexto da modernidade política e
democrática, porque o seu conteúdo afronta o respeitável veredicto da Suprema
Corte de Justiça, porém elas se harmonizam com o nivelamento da sociedade, que
elegeu e reelegeu seu autor, apesar ser possuidor da diminuta capacidade de
tentar denegrir e desrespeitar a dignidade daquela Corte. Por seu turno, a
realização da Copa do Mundo no Brasil é a síntese da incompetência dos
administradores públicos tupiniquins, que demonstraram ao mundo a absoluta
falta de priorização das ações de governo, quanto à aplicação de recursos
públicos, ao disponibilizarem montanhas de dinheiros em obras faraônicas,
muitas das quais não terão qualquer utilidade pública depois da copa e ainda
continuarão sugando verbas públicas com a sua altíssima manutenção. O governo
poderia demonstrar competência ao chamar a atenção do mundo com a realização de
obras simples, como hospitais, escolas, creches, ginásios desportivos,
estradas, nos moldes feitos com o Bolsa Família, que tem sido o programa
alardeado aos quatro cantos do mundo pelos petistas, em que pesem os graves
percalços de organização e de controle. O Brasil precisa de homens públicos que
tenham a capacidade de analisar os fatos com decência e com senso de
responsabilidade cívica, sem qualquer paixão partidária, política ou ideológica,
por não condizer com os princípios democráticos e da dignidade entre seus
semelhantes. Não fica bem para o político menosprezar a inteligência e a capacidade
jurídica dos dignos e ilustrados ministros do STF, que, na sua absoluta
maioria, tiveram atuação exemplar, pontuando com o máximo de dignidade no
julgamento do processo do mensalão, cujas irregularidades foram julgadas com
fundamento em elementos substanciais e irrefutáveis, levantados de forma
insuspeita por CPIs, Polícia Federal, Ministério Público e outros órgãos
confiáveis, não restando dúvida senão por quem ajudou a desmoralizar o país.
Por ter declarado que nada viu nem tomou conhecimento de coisa alguma, embora a
operação dos fatos irregulares tivessem ocorridos na proximidade do seu
gabinete de trabalho, falece capacidade ao petista para julgar os ministros do
Supremo Tribunal Federal, que condenaram os amigos dele exatamente com base nas
provas materiais, testemunhais, periciais e nos demais elementos legalmente
válidos carreados aos autos, tendo sentenciado que o mensalão foi o maior
escândalo da história republicana. Caso o famigerado mensalão tivesse ocorrido
num país sério, civilizado e evoluído, não há dúvida de que não somente os
envolvidos ficariam excluídos do convívio da sociedade o resto da vida, como o
partido a que eles são filiados seria extinto, por execração pública, diante da
afronta e do ferimento aos preceitos ético, moral, legal e, em especial, da
honestidade. Urge que a sociedade se conscientize sobre a necessidade de os
administradores públicos serem escolhidos sob o rigoroso critério da capacidade
gerencial, política e administrativa, sobretudo quanto à observância dos
salutares princípios ético, moral e do respeito às instituições da República. Acorda
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 03 de maio de 2014
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