terça-feira, 13 de maio de 2014

Contaminação do processo eleitoral?

O ex-ministro da Saúde vem negando enfaticamente seu envolvimento com o doleiro acusado de ser um dos chefes de quadrilha que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões, sob esquema fraudulento. Ele disse que “Mente quem estabelece qualquer envolvimento meu com o doleiro citado". A situação dele se complicou quando seu nome foi mencionado em documentos de investigação da Polícia Federal, apontando indícios que ele teria indicado executivo da sua confiança para o Labogen, laboratório de propriedade do doleiro, que, segundo a apuração, essa empresa teria sido usada em esquema de lavagem de dinheiro. Nas investigações levadas a efeito pela Polícia Federal, foi detectada mensagem em que ex-deputado petista diz ao doleiro que o ex-ministro da Saúde teria indicado um executivo para o Labogen, nestes termos: "Sexta ele estará aí. Dá o número do celular e fala que é Marcos, estará em São Paulo no dia seguinte ou segunda e que foi o Padilha que indicou". Como não poderia fugir à práxis ideológica governista, nos casos de denúncias sobre a prática o ex-ministro afirmou que se sentiu perseguido por adversários políticos: "O que vi esta semana foram atitudes de arrogância, grosseria, de tentar inibir os debates sobre os problemas do estado de São Paulo. O que vi foram agressões à minha pessoa e ao meu partido. Vou continuar respeitando meus adversários sem qualquer clima de baixaria. E dizer aos meus adversários que não tenho medo de cara feia, arrogância, injúrias. Se tivesse medo, não teria implantado o Mais Médicos no Brasil.". Nos países sérios e evoluídos, social, político e democraticamente, as pessoas acusadas de participação em casos suspeitos ou irregulares se afastam imediatamente de seus cargos e exigem a apuração dos fatos, como forma de esclarecê-los e de se atribuir responsabilidades, se for o caso. Todavia, nas republiquetas, tem sido comum que as acusações sobre irregularidades no governo sejam apenas consideradas obra da oposição e dos adversários e, às vezes, da imprensa burguesa e bisbilhoteira. Em se tratando de governistas, os fatos têm mostrado que as negações de malfeitos significam, invariavelmente, a confirmação, na batata, das denúncias, porque as investigações da Polícia Federal são absolutamente confiáveis, conforme assevera o ex-ministro, que "Tenho maior orgulho da Polícia Federal brasileira. Queira Deus que a polícia do estado de São Paulo tenha a mesma competência e autonomia de ação que a Policia Federal. Exatamente por isso que quero o relatório detalhado, completo.". O caso do deputado ex-petista pode ser considerado típico, haja vista que, no início do affaire, ele disse que era apenas amigo do doleiro há 20 anos e jurou arrependimento de ter feito uso do jatinho alugado pelo amigo que ainda se encontra preso. Todavia, não tardou muito e a verdade sobre o seu abrangente envolvimento com as falcatruas e maracutaias protagonizadas pelo amigo corrupto vieram à tona e complicou de vez a reputação do corrupto e mentiroso parlamentar, que deveria ter sido expulso do partido, mas esta agremiação não teve coragem de fazê-lo, temeroso, por certo, da possível entrega de mais nomes envolvidos nas irregularidades objeto das apurações da operação Lava-Jato. É curioso o fato de que, questionado se irá depor à Câmara dos Deputados, como querem parlamentares da oposição, o ex-ministro disse que "Os esclarecimentos estão sendo dados por mim. Vou sempre colaborar com qualquer processo sério que queira ser uma apuração que não seja contaminada por processo eleitoral. Certamente o interesse do DEM não é colaborar com a apuração. Não vou comparecer em nenhum espetáculo de debate eleitoral.", ou seja, o envolvimento dele no episódio em apreço não se originou da oposição, mas o petista logo vincula o caso a interesses eleitoreiros com origem nos seus adversários. É lamentável que o ex-ministro da Saúde tenha feito, em vão, enorme esforço para implantar o programa Mais Médicos, inclusive com a importação, recheada de inconstitucionalidades e ilegalidades, de profissionais cubanos, sem a devida atestação e confirmação, à luz das exigências das leis pátrias, de que eles são realmente médicos formados em faculdade de medicina regular, porque a autorização de trabalho deles foi dada pelo próprio Ministério da Saúde, de forma artificiosa, para burlar as exigências legais aplicáveis à espécie, vigentes até então. Agora, com o filme turvado - para não dizer queimado - pelas denúncias envolvendo o petista aos fatos objeto da operação Lava-Jato, já incluídos o doleiro e o deputado suspeitos da prática de corrupção, é possível que todo esforço despendido pela implantação do aludido programa pode não ter servido para ajudá-lo na sua campanha ao Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, porque os paulistas podem ter sido beneficiados com a competência da Polícia Federal, que tem prestado, de forma isenta e imparcial, em estrito cumprimento da sua missão institucional, excelentes serviços ao interesse público, a exemplo da revelação de mais um caso verdadeiro, que mostra a pouca-vergonha de muitos governistas que se envolvem com atos de corrupção e ainda têm a indignidade de culpar a oposição por tentar contaminar o processo eleitoral. Urge que os homens públicos tenham a dignidade de provar a lisura de seus atos na vida pública, na forma da lei, de modo que a sua conduta possa contribuir para o aperfeiçoamento e o engrandecimento dos princípios democráticos. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 13 de maio de 2014

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