segunda-feira, 19 de maio de 2014

Obras inacabadas, onde?

Não é apenas no Brasil que se fazem críticas justas sobre as megalomaníacas obras brasileiras que foram abandonadas, com a implicação de montanhas de recursos públicos jogados pelo ralo da incompetência e da insensibilidade político-administrativas. O "New York Times" destacou, em reportagem publicada em vídeo, essa triste realidade tupiniquim. O jornal nova-iorquino ressalta que, enquanto o país se esforça o máximo para sediar a Copa do Mundo, muitas obras importantes ainda são tocadas em nítido e acentuado atraso, embora elas devessem ter sido acabadas, pelo menos, até o primeiro toque na bola, cujo desleixo é debitado aos excessivos custos e à precariedade administrativa. A publicação faz referência, além das obras para a Copa, de outro problema nacional ainda maior que diz respeito a luxuosos projetos concebidos na época que o país experimentava a bonança do crescimento econômico, mas a realidade atual fez com que as obras pertinentes se encontrem abandonadas, paralisadas ou descontroladamente acima do orçamento, a exemplo da construção da Transnordestina, ferrovia de 1.728 km que pretendia ligar o sertão do Piauí ao litoral do Ceará e de Pernambuco, os edifícios públicos de Natal (RN), projetados pelo magistral arquiteto Oscar Niemeyer, que foram relegadas e abandonados logo após sua construção, e o malfadado "museu do alienígena", cuja construção, iniciada em 2007, na cidade de Varginha (MG), contava com recursos federais. O jornal diz que os restos esqueléticos do museu se assemelham, agora, a um navio perdido entre ervas daninhas. A reportagem assinala que os empreendimentos tinham por objetivo contribuir para o processo de impulsão do país ao desenvolvimento e simbolizavam a ascensão vertiginosa da nação. Não obstante, o milagre econômico não vingou e o país é obrigado a encarar as turbulências próprias da ressaca pós-boom, cuja paralisação das obras expõe os governantes a verdadeiro vexame e a crítica pela evidência dos dispêndios desnecessários, comprovando a forma perdulária de desperdício de dinheiros públicos, devido à incompetência retratada nos projetos megalomaníacos dispendiosos, sem nenhum aproveitamento para a sociedade, enquanto os serviços básicos são normalmente desprezados. Os especialistas em economia são unânimes em afirmar que os projetos problemáticos sintetizam burocracia paralisante, alocação de recursos sem planejamento e corrupção. O jornal lembra também as constantes ondas de manifestações com a finalidade de protestar contra os caríssimos estádios que foram construídos principalmente em Manaus e Brasília, que devem se transformar em verdadeiros elefantes brancos após a Copa do Mundo, mas a sociedade terá o ônus de mantê-los com elevado custo, sob pena de serem sucateados, ante a falta de uso. Na realidade, os fatos mencionados pelo “New York Times” representam muito pouco em relação ao vasto e imensurável esbanjamento perdulário consistente nas imensas obras inacabadas e superfaturadas, a exemplo da transposição do Rio São Francisco, que se arrasta indefinidamente servindo de sorvedouro de recursos, justamente pela incompetência e inaptidão quanto à execução de obras públicas. Existem outros gritantes e desanimadores exemplos de investimentos prejudiciais ao interesse do país, em especial na construção de obras pertinentes ao sistema energético, onde os projetos nunca são capazes de garantir que nunca vai haver racionamento de energia, entre tantas precariedades na execução dos recursos públicos, que denotam o quanto a nação não pode continuar sendo administrado por quem já demonstrou completa incapacidade de vislumbrar suas mazelas e de priorizar as medidas capazes de saneá-las, sob a ótica da competência, economicidade, transparência e honestidade, respeitados os princípios fundamentais da administração pública. A sociedade anseia por que o estadista tenha conscientização e sensibilidade para enxergar senão a necessidade de trabalhar em prol exclusivamente da resolução das causas nacionais, sem pensar em obras megalomaníacas antes de concluir as obras inacabadas, com embargo dos interesses pessoais e partidários, como a única forma capaz de colocar o país no rumo dos sonhados progresso e desenvolvimento. Acorda, Brasil!   
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 18 de maio de 2014

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