A agenda da
presidente da República foi repentinamente alterada, possivelmente pela
proximidade do pleito eleitoral, em completo contraste com os primeiros três
anos de mandato, em que ela praticamente repetiu, enclausurada no seu gabinete,
a mesma agenda diária de despachos internos, com muito pouco aparição pública. Nesse
período, ela teve raros contatos com seus assessores diretos, como os ministros,
que frequentaram seu gabinete esporadicamente. Coerente com esse comportamento
reservado, a presidente também não costumava manter contato com convidados estranhos
ao governo, a exemplo de empresários e políticos, que não tiveram oportunidade
de discutir diretamente com a mandatária do país questões importantes e
fundamentais de interesse da nação. Não obstante, a agenda presidencial teve
drástica mudança, aparentemente provocada pela percepção do Palácio do Planalto
de que a popularidade da candidata petista à reeleição vem despencando às
claras, a ponto de complicar a sua vitória no primeiro turno, situação essa que
já se contabilizava como certa pelos governistas. Diante desse terrível
contratempo, a agenda da presidente foi transformada completamente, que passou
a registrar o recebimento, com maior frequência, de ministros, políticos,
pessoas públicas, reitores de universidades, homens comuns, trabalhadores,
religiosos etc. Além das forçadas aparições da presidente em inaugurações de
obras novas e de empreendimentos já inaugurados recentemente, sem se preocupar
com a real importância da realização em si, mas tão somente para garantir a sua
presença junto aos eleitores e se mantê-la em contato com a mídia. A presidente,
nos últimos dias, não se cansa de intercalar viagens pelo país para inaugurar
obras ou lançar programas públicos com agendas intensas no Palácio do Planalto,
mesmo que nelas estejam incluídos compromissos aos quais jamais aceitaria participar
não fosse o sublime interesse eleitoreiro, porque os contatos com a sociedade e
seus representantes não fizeram parte do seu governo, nos últimos três anos. Exemplo
clássico da mudança da agenda presidencial é sua presença, em demonstração de rara
deferência ao sair para almoçar com dirigentes do PTB, partido que ela acaba de
atrair para o seu governo. Em sequência, ela encerra o dia se encontrando com
representantes da Contag – Confederação dos Trabalhadores na Agricultura. Toda
essa brusca transformação político-comportamental segue roteiro
estrategicamente orientado por marqueteiros, no sentido de haver aproximação
dos movimentos sociais e da sociedade em geral, para conversar mais sobre as
questões de interesse público, algo especial que praticamente foi impossível no
curso do seu governo, até a operação milagrosa da mudança em curso. É muito provável que somente nas republiquetas
os mandatários dos países sejam capazes de se submeter à transformação de
hábito exatamente na proximidade da campanha eleitoral, em especial se eles forem
candidatos à reeleição, como é o caso da mandatária tupiniquim, que, sem o
menor pudor, passa a ser manipulável pelos marqueteiros palacianos e, num nítido
passe de mágica, em atitude visivelmente demagógica e eleitoreira, aceita a realizar
o que não fez durante todo seu governo, ficando muito claro o apelo
exclusivamente politiqueiro e eleitoreiro que não condiz nem de longe com os
princípios da sinceridade política e pouco menos com a honestidade que os
homens públicos devem imprimir na vida pública. É verdade que cada povo tem o
governo que merece, mas, à toda evidência, o Brasil, com sua grandeza social,
política e econômica já merece ser administrado por verdadeiro estadista, que
saiba respeitar os princípios da coerência, sinceridade e honestidade e sejam
capazes de perceber que as mudanças comportamentais jamais deveriam ser
motivadas apenas em razão de interesses pessoais ou políticos, mas sim, se
realmente necessárias, em harmonia com as causas nacionais, em se tratando de
quem tem a relevante incumbência de administrar os destinos do país, cujo
administrador não tem o direito de demonstrar incongruência no exercício do
relevante cargo presidencial. Compete à sociedade, na sublime responsabilidade
de escolher seus representantes, avaliar o quanto são prejudiciais ou não para
os interesses nacionais, os governantes cuja personalidade se amolda, sem o
menor pudor, às suas conveniências políticas, em evidente detrimento das verdadeiras
causas do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 20 de maio de 2014
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