quarta-feira, 21 de maio de 2014

Ajustamento das conveniências

A agenda da presidente da República foi repentinamente alterada, possivelmente pela proximidade do pleito eleitoral, em completo contraste com os primeiros três anos de mandato, em que ela praticamente repetiu, enclausurada no seu gabinete, a mesma agenda diária de despachos internos, com muito pouco aparição pública. Nesse período, ela teve raros contatos com seus assessores diretos, como os ministros, que frequentaram seu gabinete esporadicamente. Coerente com esse comportamento reservado, a presidente também não costumava manter contato com convidados estranhos ao governo, a exemplo de empresários e políticos, que não tiveram oportunidade de discutir diretamente com a mandatária do país questões importantes e fundamentais de interesse da nação. Não obstante, a agenda presidencial teve drástica mudança, aparentemente provocada pela percepção do Palácio do Planalto de que a popularidade da candidata petista à reeleição vem despencando às claras, a ponto de complicar a sua vitória no primeiro turno, situação essa que já se contabilizava como certa pelos governistas. Diante desse terrível contratempo, a agenda da presidente foi transformada completamente, que passou a registrar o recebimento, com maior frequência, de ministros, políticos, pessoas públicas, reitores de universidades, homens comuns, trabalhadores, religiosos etc. Além das forçadas aparições da presidente em inaugurações de obras novas e de empreendimentos já inaugurados recentemente, sem se preocupar com a real importância da realização em si, mas tão somente para garantir a sua presença junto aos eleitores e se mantê-la em contato com a mídia. A presidente, nos últimos dias, não se cansa de intercalar viagens pelo país para inaugurar obras ou lançar programas públicos com agendas intensas no Palácio do Planalto, mesmo que nelas estejam incluídos compromissos aos quais jamais aceitaria participar não fosse o sublime interesse eleitoreiro, porque os contatos com a sociedade e seus representantes não fizeram parte do seu governo, nos últimos três anos. Exemplo clássico da mudança da agenda presidencial é sua presença, em demonstração de rara deferência ao sair para almoçar com dirigentes do PTB, partido que ela acaba de atrair para o seu governo. Em sequência, ela encerra o dia se encontrando com representantes da Contag – Confederação dos Trabalhadores na Agricultura. Toda essa brusca transformação político-comportamental segue roteiro estrategicamente orientado por marqueteiros, no sentido de haver aproximação dos movimentos sociais e da sociedade em geral, para conversar mais sobre as questões de interesse público, algo especial que praticamente foi impossível no curso do seu governo, até a operação milagrosa da mudança em curso. É muito provável que somente nas republiquetas os mandatários dos países sejam capazes de se submeter à transformação de hábito exatamente na proximidade da campanha eleitoral, em especial se eles forem candidatos à reeleição, como é o caso da mandatária tupiniquim, que, sem o menor pudor, passa a ser manipulável pelos marqueteiros palacianos e, num nítido passe de mágica, em atitude visivelmente demagógica e eleitoreira, aceita a realizar o que não fez durante todo seu governo, ficando muito claro o apelo exclusivamente politiqueiro e eleitoreiro que não condiz nem de longe com os princípios da sinceridade política e pouco menos com a honestidade que os homens públicos devem imprimir na vida pública. É verdade que cada povo tem o governo que merece, mas, à toda evidência, o Brasil, com sua grandeza social, política e econômica já merece ser administrado por verdadeiro estadista, que saiba respeitar os princípios da coerência, sinceridade e honestidade e sejam capazes de perceber que as mudanças comportamentais jamais deveriam ser motivadas apenas em razão de interesses pessoais ou políticos, mas sim, se realmente necessárias, em harmonia com as causas nacionais, em se tratando de quem tem a relevante incumbência de administrar os destinos do país, cujo administrador não tem o direito de demonstrar incongruência no exercício do relevante cargo presidencial. Compete à sociedade, na sublime responsabilidade de escolher seus representantes, avaliar o quanto são prejudiciais ou não para os interesses nacionais, os governantes cuja personalidade se amolda, sem o menor pudor, às suas conveniências políticas, em evidente detrimento das verdadeiras causas do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 20 de maio de 2014

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