domingo, 19 de julho de 2015

A degeneração da representação política

A Polícia Federal apreendeu três carros de luxo, sendo uma Ferrari, um Lamborghini e um Porsche, de propriedade de um senador alagoano, que já foi presidente da República afastado do cargo por corrupção, que agora é um dos alvos dos mandados de busca e apreensão expedidos pelo Supremo Tribunal Federal, determinando a apreensão de bens que possivelmente tenham sido adquiridos por meio de práticas criminosas, objeto das investigações da Operação Lava-Jato.
Em nota divulgada em seguida às apreensões de seus veículos, o senador alagoano demonstra repúdio ao que chamou de "aparatosa operação policial realizada nesta data em sua residência".
Por meio de advogado, ele disse que "A medida invasiva e arbitrária é flagrantemente desnecessária, considerando que os fatos investigados datam de pelo menos mais de dois anos, a investigação já é conhecida desde o final do ano passado, e o ex-presidente jamais foi sequer chamado a prestar esclarecimentos. Ao contrário disso, por duas vezes o senador se colocou à disposição para ser ouvido pela Polícia Federal, sendo que nas duas vezes seu depoimento foi desmarcado na véspera. Medidas dessa ordem buscam apenas constranger o destinatário, alimentar o clima de terror e perseguição e, com isso, intimidar futuras testemunhas".
Sem se pretender adentrar no mérito das decisões judiciais de apreensão de documentos, computadores, dinheiros, veículos etc., é extremamente lamentável que congressistas sejam alvos de constantes ações policiais e judiciais, em indiscutível desmoralização da liturgia e da relevância dos cargos públicos eletivos por eles ocupados.
Causa perplexidade que, em princípio e na forma de preceitos constitucionais, os ditos representantes do povo, que têm a obrigação de dar o exemplo de dignidade, probidade, moralidade e decoro, entre outros conceitos de boas condutas, sejam envolvidos em suspeitas de roubalheiras, fraudes e ilicitudes que não condizem, em absoluto, com a real finalidade de representação do povo.
À toda evidência, a fragilização dos princípios morais ínsitos nos congressistas tem sido a principal causa do estado deplorável de precariedade e decadência da classe política, que tem sido, reiteradamente, apoiada pelo povo, com seu voto, apesar da demonstração de não possuir idoneidade moral e capacidade para exercer, com dignidade e decência, cargo público eletivo, conforme evidenciam os fatos noticiados à saciedade.
É evidente que o eleitor precisa se conscientizar, com urgência, sobre a necessidade de renovação da representação política, ante o seu notório descrédito, graças aos seus envolvimentos em falcatruas e irregularidades que comprometem a sua atuação como congressistas, de quem se esperam senão atos e atitudes de dignidade e de honestidade.
O exemplo mais evidente da pequenez e da fragilidade ínsitas nos homens públicos se espelha na figura do presidente do Senado Federal, que, além de ser alvo de investigação pela Operação Lava-Jato, por envolvimento em corrupção, é réu na Justiça Federal, por responder processo por improbidade administrativa, em razão de ter se beneficiado de dinheiro ilícito de empresário, fato que demonstra o tamanho da insignificância e da desqualificação a que chegou o Congresso Nacional, que representa o povo.
Em sintonia com o presidente do Senado, também se enquadra nas investigações da Operação Lava-Jato o presidente da Câmara dos Deputados, por ter recebido propina, conforme depoimentos de delatores à Justiça Federal. 
Agora, o mais vergonhoso é se permitir que congressistas respondendo a processo ou sendo investigado pela Justiça, tudo a evidenciar suspeita de infração legal e de quebra do decoro parlamentar, ainda tenham a petulância de continuar nos exercícios dos cargos, como se nada tivesse acontecido contra a dignidade que se exige dos homens públicos.
Nos países sérios e evoluídos democraticamente, a mínima suspeição de irregularidade praticada por político já é motivo mais do que suficiente para o imediato afastamento de suas funções públicas, eis que fraudes, ilicitudes, corrupção não condizem com a dignidade e a moralidade, por serem sinônimos da nobreza que o homem público tem dever primacial de demonstrar no exercício de cargos públicos eletivos.
O certo é que o Brasil se encontra, indiscutivelmente, na contramão da história da humanidade, por ainda se permitir que a classe política se perpetue na vida pública, apesar das indignidades completamente incompatíveis com a nobreza dos cargos que ocupam.
Cada fato lamentável protagonizado por político suscita o veemente desejo de urgentes e profundas mudanças nas estruturas do país, de modo que, pelo menos, os sistemas político-eleitorais sejam reciclados, aperfeiçoados e modernizados, com a definitiva eliminação dos obsoletos, arcaicos e ultrapassados hábitos e procedimentos que não mais se justificam num país de povo sério e digno, que não merece, à toda evidência, a classe política com seus defeitos em completa dissonância com os princípios de decoro, moralidade, dignidade e probidade. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
                     
Brasília, em 19 de julho de 2015 

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