terça-feira, 14 de julho de 2015

Repúdio às "pedaladas fiscais"

Embora o governo tente disfarçar, a sua situação perante os julgadores do Tribunal de Contas da União encontra-se entre muitas dificuldades quanto à aceitação das chamadas “pedaladas fiscais”, segundo deixa transparecer avaliação bastante realista feita pela coordenação política do Planalto, que a classificou de extremamente crítica acerca da apreciação da incumbência constitucional daquela Corte.
O desespero do governo tem sido exatamente diante da constatação pra lá de realista sobre a formação de maioria no tribunal para condená-lo. Um influente petista reconhece que o governo teria demorado mais que o necessário para cair na real e perceber que a situação de suas contas atingiu o grau máximo de gravidade, não possibilitando que a sua reação tardia pudesse contornar o ambiente de extrema adversidade já consolidado no TCU, que conseguiu enquadrar com argumentos consistentes as barbaridades cometidas no pagamento de contas públicas com atraso, fazendo uso antecipado de dinheiro da Caixa Econômica Federal, sob a forma de financiamento não permitido pela legislação em vigor.
Causam enorme perplexidade as explicações da Advocacia Geral da União de que não houve irregularidade nas operações denominadas “pedaladas fiscais”, porque o TCU já teria ficado calado quanto aos casos anteriores e semelhantes aos agora impugnados e que há exemplo de incidência de situação similar em governo anterior, tudo a justificar, segundo o titular desse órgão, que o controle externo não pode condenar, agora, somente pelos fatos apurados nas atuais contas do governo.
Não há a menor dúvida de que as tentativas de afastar as graves irregularidades da responsabilidade do governo são absolutamente frágeis, notadamente porque é indiscutivelmente injustificável que a mera semelhança de falhas do passado tenha o condão de amparar o brutal e proposital descumprimento da obrigação constitucional e legal, quanto à necessidade da observância das normas de gestão de recursos públicos, segundo as quais quem quer que tenha a incumbência da realização de verbas públicas terá de justificar a sua boa e regular destinação, sob pena de responsabilização, na forma da lei.
Em extrema demonstração de prepotência, as “pedaladas fiscais” aconteceram consciente e propositalmente para disfarçar a realidade sobre o desempenho econômico-financeiro do governo, em concomitância com o período eleitoral, cujo fato não poderia ser revelado, para não escancarar o caos existente nas contas do governo, as quais se encontravam em forte e crônico déficit e a publicidade do seu real desempenho seria desastroso para os planos da reeleição da presidente, que preferiu infringir as normas orçamentário-financeiras, mesmo correndo o risco de enquadramento em crime de responsabilidade - como parece ser o inafastável caminho a ser aconselhado pelo controle externo -, que ficar, à época, com a imagem de má administradora do Orçamento da União, cuja pecha é agora inevitável.     
É evidente que o ambiente político sobre a motivação das “pedaladas fiscais” é insustentável e contribui desfavoravelmente para influenciar na apreciação das contas pelo TCU, mas o governo ressalta a necessidade de que ela seja conduzida pela via técnica, quando o Planalto ainda nutre possível esperança por milagre, para salvar a sua pele, que se encontra simplesmente sob pesado fogo cruzado.
A verdade é que o governo teria muito mais condições de se salvar do imbróglio que se meteu se a apreciação passasse pelo critério político, por meio do qual são admissíveis convencimentos argumentativos frágeis e nada republicanos, porquanto a apreciação das contas pelo critério técnico não tem como se fugir da matemática pura de que o resultado é inapelavelmente exato, onde são inaceitáveis os famosos jeitinhos brasileiros, ante a caracterização do atropelamento da legislação aplicável ao caso.
É indiscutível que o Tribunal de Contas da União cometerá suicídio institucional se fraquejar na sua manifestação sobre as contas do governo, depois de já ter afirmado peremptoriamente que a presidente da República cometeu graves infrações contra as normas constitucionais e legais, nos casos por ele apontados.
As “pedaladas fiscais” são a prova mais absurda de desrespeito e desprezo às saudáveis normas sobre administração orçamentária e financeira, que não podem simplesmente ser relevadas, o que denotaria completa desmoralização e descrédito da principal instituição que tem a incumbência constitucional de zelar pela correta aplicação dos recursos públicos.
É evidente que em termos estritamente técnicos, as contas do governo devem ser desaprovadas, porque é inadmissível que o TCU ou o Congresso Nacional continuem sendo coniventes com a bagunça que se consolidou e se banalizou, conforme demonstram os fatos, na aplicação do dinheiro público, de tal modo que se permitam injustificadamente completos descontrole das contas públicas e descumprimento das normas fundamentais aplicáveis à espécie, para cobrir desvios de finalidade e má gestão de recursos públicos, com visíveis reflexos no atendimento das necessidades sociais.  
A sociedade anseia por que a apreciação das contas do governo pelo Tribunal de Contas da União se juste à sua exata competência institucional de opinar com base nas normas jurídicas aplicáveis ao caso, tendo por exclusivo fundamento o interesse nacional, com embargo das manobras políticas, que desavergonhadamente tendem a satisfazer conveniências políticas, pessoais e partidárias, sob pena de o próprio TCU se penalizar e se apequenar caso despreze a sua principal missão de se manifestar com imparcialidade, isenção, independência e dignidade sobre a regularidade ou não das contas do governo. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
                            
          Brasília, em 14 de julho de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário