segunda-feira, 27 de julho de 2015

Calafrios e perplexidades


Segundo se noticia, cada nova etapa da Operação Lava-Jato empreendida pela Polícia Federal vem causando calafrios e perplexidades na classe política, com epicentro na capital do país, pegando de surpresa os parlamentares da base aliada e os deixando com a pulga atrás da orelha, diante da rapidez com que as investigações avançam sobre os corruptores, notadamente os dirigentes de grandes construtoras, os tubarões que financiam as campanhas de políticos, dando a entender que o círculo tende a se fechar, a qualquer momento, para apanhar e pôr na cadeia também o restante dos componentes famosos beneficiados com a farra sustentada com recursos da Petrobras.

          No Palácio do Planalto o ambiente continua de extrema preocupação, em que pesem as ressalvas de assessores do governo de que, pessoalmente, a presidente brasileira está blindada, por não se achar envolvida nesse escandaloso affaire, mas há indiscutível reconhecimento de que o aprofundamento das investigações vem causando grave crise política sem precedentes na história republicana, principalmente com a nítida fragilização das imagens da Petrobras e do governo, que, no caso da empresa, já foi respeitadíssima por sua pujança no ramo petrolífero, além de ser a maior estatal do país.

Embora haja tentativa de blindagem da petista, tudo indica que a gestão da estatal no governo do ex-presidente se encontra maculada pelas irregularidades, mas os assessores palacianos insistem em afastar qualquer culpabilidade da presidente, por meio de mero discurso, destituído de conteúdo, para mostrar que ela teria cuidado das mudanças saneadoras na estatal tão logo assumiu o cargo presidencial, dando a entender que a culpa e do governo sucedido, estabelecendo, com isso, a separação entre as administrações da Petrobras nos períodos do ex-presidente e o da atual mandatária.

É evidente que operação de tamanha magnitude como a Lava-Jato não pode deixar ninguém tranquilo, à vista da celeridade e objetividade das ações desenvolvidas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pelo Juiz responsável pela condução dos trabalhos de apuração, cujos resultados revelam surpreendentes e auspiciosos achados a se indicar que se trata da maior crise política depois do impeachment do político alagoano, com capacidade bastante suficiente para contaminar em definitivo os governos da mandatária do país e do seu antecessor.

Não há dúvida de que o clima é de verdadeiro pânico tanto no âmbito do PT como no dos aliados que se beneficiaram das doações ilícitas com recursos desviados da Petrobras, cuja tensão cresce sempre como a mesma intensidade das prisões de empresários e petistas, bem assim das apreensões de bens, documentos e computadores, em prosseguimento às investigações que se alongam, por força de novos elementos e informações.

Causa perplexidade se verificar que o país se atola cada instante no lamaçal das precariedades da prestação dos serviços públicos, considerados de péssima qualidade para os padrões de civilidade e de humanismo, e da condução das políticas de governo, com destaque para a desastrada administração da economia, com seus ridículos indicadores, e das corrupções, que macularam, de forma indelével, a dignidade da administração do país, mas ainda há quem entenda que nada disso tem reflexo na gestão petista, como se ela estivesse imune à deficiência e às irregularidades, embora isso tenha sido a marca do partido, a começar pelo famigerado mensalão.

Realmente, é evidente que até agora a presidente da República conseguiu ser blindada, mas os fatos mostram que ela pode ser inserida no redemoinho das corrupções da Petrobras, porque, ao que se sabe, ela era presidente do Conselho de Administração da estatal, quando houve a compra da sucateada refinaria de Pasadena, no Texas, a preço superfaturado, ou seja, com a contabilização de prejuízo de milhões de reais que foi, até o momento, simplesmente debitado na conta dos bestas dos acionistas.

O mais curioso é que a desculpa fajuta, para se eximir de responsabilidades no citado affaire, foi se atribuir culpa pela ausência de documentos básicos, como se ela não tivesse a obrigação funcional de exigir mais detalhe sobre a aquisição em causa, diante de tanto dinheiro envolvido no negócio que se tornou tremendo fiasco de investimento.

Diante da expressividade dos fatos irregulares ocorridos na Petrobras, é muito estranho que o governo tenha se mantido quietinho atrás da porta, somente acompanhando o desenrolar dos acontecimentos, apenas olhando o circo pegar fogo, sem tomar nenhuma providência de monta, salvo um caso ou outro, para salvaguardar o patrimônio da estatal, cujas ações estão virando fumaça nesse incêndio criminoso, que já ganhou dimensões alarmantes, cujo rastilho tem sido bastante prejudiciais aos interesses dos acionistas e do país.

Na altura dos acontecimentos, já era para o governo ter se movimentado, de forma entusiástica, e liderado por conta própria, sem esperar os resultados das investigações no âmbito da Justiça, a realização de múltiplas investigações dentro da Petrobras, como forma de prestação de contas à sociedade, por meio da maior transparência que se exige de governo cônscio da responsabilidade de defender os interesses e o patrimônio da nação. Acorda, Brasil!
 

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

 
Brasília, em  27 de julho de 2015

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