quarta-feira, 15 de julho de 2015

Retrocesso sério é a insensibilidade

O representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no Brasil, disse, no dia em que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 25 anos, que a redução da maioridade penal, já aprovada em primeiro turno pela Câmara dos Deputados, significará “um retrocesso” para o Brasil.
Ele afirmou: “Vejo essa possibilidade de redução da maioridade penal como um retrocesso sério para as crianças e adolescente do Brasil e para a liderança brasileira mundialmente”.
O representante do Unicef fez análise de vários indicadores sociais brasileiros desde a implementação do estatuto, em 1990, tendo se manifestado favorável à possibilidade de mudança do estatuto para aumentar o tempo de internação de jovens infratores, que conta com apoio do governo, desde que observado o atendimento socioeducativo.
Para ele, “Isso depende muito da forma como for ser feita a internação. Há países onde fazem isso muito bem porque para recuperar um adolescente de 16 anos, por exemplo, que nunca recebeu educação, não tem família e é morador de rua talvez precise de mais de 3 anos de internação, mas com garantias de educação, apoio psicológico, nutrição e atenção médica”.
Segundo o relatório do Unicef, o modelo de responsabilização de adolescentes, previsto na Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, não vem sendo executado de forma efetiva, motivo pelo qual a organização internacional entende que a redução da maioridade penal “não só não resolverá a questão da violência como poderá agravá-la”.
Os dados divulgados pelo citado órgão revelam que, dos adolescentes que cumpriam medidas socioeducativas, em 2011, 86% não tinham completado o ensino fundamental, 75% eram usuários de droga, 72% tinham entre 16 e 18 anos e 57% não frequentavam a escola antes da internação.
A Unicef não sabe, mas precisa saber, com urgência e os devidos detalhes, é que o Brasil é campeão de imunidade e o menor infrator se beneficia desse quadro de irresponsabilidade em que a sociedade é quem paga preço muito alto, muitas vezes com a própria vida, pela omissão das autoridades incumbidas da execução das políticas relacionadas ao menor, mas, lamentavelmente, o estado de penúria prevalece, sem que o caos seja cuidado e solucionado.
A Unicef precisa saber que retrocesso sério não é, indiscutivelmente, a redução da maioridade penal, mas sim se permitir que os menores continuem cometendo impunemente graves infrações contra as leis penais, sem que haja medida corretiva correspondente. Enquanto isso acontece à luz solar, a população, principal alvo da criminalidade juvenil, sofre terrivelmente com a inépcia das autoridades públicas, que são, igualmente à Unicef, contrárias à redução da maioridade penal, mas nada fazem para melhorar as condições de vida dos menores potencialmente causadores de violência, conforme os dados acima expostos.
A Unicef, que também pouco ou nada faz para amenizar as precariedades existentes na vida dos menores infratores, precisa se informar melhor sobre o resultado de pesquisa realizada entre os brasileiros, que se manifestaram favoravelmente à redução em causa, em percentual aproximado de 90%, o que significa, muito claramente, que a situação de calamidade que afeta o menor infrator vem prejudicando sensivelmente a vida da população, que já não suporta mais o completo abandono das autoridades públicas da questão que se potencializa e se agiganta cada vez mais.
É muito fácil para a Unicef opinar contra a redução da maioridade penal, quanto ela não sofre diretamente qualquer consequência em razão das barbaridades protagonizadas pelos menores delinquentes, porquanto seria muito mais crível que esse importante organismo prestasse sua contribuição com algo concreto, no sentido de se buscar alternativas passíveis de imediatas implantações, com vistas à diminuição da criminalidade no âmbito do menor infrator, de modo que a população seja beneficiada e tranquilizada com a conquista da ordem pública e da paz social.
 É evidente que falta ao governo priorizar políticas que se destinem a amparar e apoiar os menores de idade e isso sim é da incumbência institucional da Unicef, mas ao que tudo indica a sua missão também não vem sendo cumprida com o devido sucesso, à vista do alarmante crescimento da violência com a participação de menores.
Compete exclusivamente à Unicef cuidar, junto aos governantes mundiais, da melhoria das condições de vida das crianças e dos adolescentes, de modo que se evite que elas ingressem prematuramente no submundo da criminalidade, e não de opinar contrariamente às medidas destinadas à aplicação de sanções aos delinquentes - à míngua de medidas alternativas -, que estão infernizando a vida da população, em razão justamente da omissão dos organismos nacionais, principalmente governamentais, e internacionais incumbidos de cuidar e proporcionar condições dignas aos menores. Acorda, Brasil!
                         
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 15 de julho de 2015

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