sexta-feira, 17 de julho de 2015

Valorização de princípios?

O Instituto Lula declarou, por meio de nota, que foi surpreendido pela notícia sobre o inquérito aberto pela Procuradoria da República no Distrito Federal para investigar a suspeita de participação do ex-presidente da República petista em tráfico de influência internacional, com a finalidade de favorecer a construtora baiana Odebrecht, uma das empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato.
Na nota, o citado instituto manifestou o desejo de que o Ministério Público esclareça ao país o real motivo de procedimento tão contraditório. 
Aquela entidade esclarece, também em nota, que a abertura de inquérito se trata de procedimento "absolutamente irregular, intempestivo e injustificado, razão pela qual serão tomadas as medidas cabíveis para corrigir essa arbitrariedade no âmbito do próprio Ministério Público, sem prejuízo de outras providências juridicamente cabíveis".  
Ainda segundo o instituto, o ex-presidente petista é alvo de um conjunto de manipulações e arbitrariedades com o evidente propósito de criar constrangimentos e manchar, sob falsos pretextos, a imagem do maior líder popular deste país, no Brasil e exterior.
Em princípio, em se tratando de o maior líder popular, como assegura com plena convicção seu instituto, à luz do bom senso e da racionalidade, haveria demonstração de humildade e compreensão se a contestação fosse no sentido da sua harmonização com as medidas tendentes às investigações de atos suspeitos, tendo em conta que não é, em absoluto, normal que ex-presidente da República fique à disposição de empreiteira, mesmo sob o argumento da prestação de palestras, cujas empreitadas tiveram como resultado os financiamentos de obras sob a execução exatamente de quem patrocinou tais palestras, havendo, nesse caso, forte suspeita de ligação promíscua entre o ex-presidente, com prestígio internacional ressaltado por seu instituto, e a construtora, que se beneficiou com os repasses de recursos para os países visitados pelo petista, segundo rezam os fatos noticiados.
À toda evidência, causa enorme dificuldade para as pessoas compreenderem exatamente como possa ser normal que ex-presidente de país sério saia mundo afora fazendo palestra regiamente remunerada, sob os auspícios de empreiteira, que logo depois se beneficia com a execução de obras financiadas pelo governo brasileiro, que as banca para proveito do povo de outros países, em detrimento dos brasileiros.      
Embora possa se tratar de procedimento "absolutamente irregular", sob o prisma da entidade do ex-presidente, fica muito claro que a dignidade do homem público precisa ser provada e ele poderá ser aplaudido quando o resultado das investigações comprovar que as suspeitas não foram confirmadas e isso somente contribui para respaldar a sua probidade e honestidade, com relação aos atos que envolvam dinheiros dos contribuintes.
Nos países desenvolvidos, qualquer denúncia é objeto da devida apuração e os políticos são os primeiros interessados a exigirem que as investigações se processem com imparcialidade e profundidade, justamente para que eles tenham a oportunidade de mostrar, como forma de prestação de contas de seus atos, a lisura de suas ações, quando estão envolvidos, no episódio, dinheiros públicos, que é o caso em comento.
Enquanto no país tupiniquim, ao contrário disso, os homens públicos se julgam acima de tudo, de todos e das leis, como verdadeiros deuses absolutamente intocáveis, que se acham vítimas e insuspeitos até mesmo de terem cometido algum deslize, quanto mais de possível crime.
Há enorme exposição de pobreza de mentalidade das pessoas que ainda se dispõem a apoiar, de maneira até fanatizada, homens públicos com capacidade de pensamento dissonante da realidade sobre os princípios político e democrático, em que eles são obrigados à prestação de justificativas e de esclarecimentos detalhados e minuciosos sobre seus atos, principalmente quando há o envolvimento de recursos públicos, que é exatamente o caso questionado pelo Ministério Público, que demonstra tão somente o seu fiel cumprimento da missão institucional de zelar pela dignidade e integridade do patrimônio dos brasileiros, mediante as investigações que se tornarem importantes para a preservação das instituições públicas.
Urge que a sociedade se conscientize sobre a importância de se apoiar as ações efetivas e oportunas que se destinem às investigações de suspeitas sobre irregularidades envolvendo dinheiros públicos, não importando a magnitude do prestígio nem a importância da autoridade ínsita dos homens públicos, em razão da primazia e prevalência do interesse público sobre as causas defendidas por pessoas ou partidos políticos, como forma de valorização dos verdadeiros princípios democrático e republicano. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 17 de julho de 2015

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