segunda-feira, 27 de julho de 2015

Frustrante reforma política

A Câmara dos Deputados até que ensaiou promover reforma política, mas, basicamente de importante mesmo, ela conseguiu aprovar o fim da reeleição para presidente da República, governadores e prefeitos, e praticamente mais nada que interessasse ao aprimoramento do sistema eleitoral, salvo a impressão do voto, dentro da urna, sem possibilitar acesso ao comprovante pelo eleitor, o que já é avanço, mas, no contexto geral, ante o conjunto da mediocridade e do terrível atraso do citado sistema, à luz dos avanços democráticos já alcançados nos países desenvolvidos, o Brasil ainda se encontra ano-luz de distanciamento da modernidade e do aperfeiçoamento desejáveis, como forma de se propiciar avanços em benefício da sociedade e da democracia.
Na realidade, o que se viu nessa frustrada reforma política foi a tentativa desesperada de parlamentares e partidos à procura de caminhos mais curtos para a aprovação de matérias que melhor se encaixem às suas conveniências e atendam aos seus interesses políticos, sem a menor preocupação com a resolução das questões que estão emporcalhando o sistema eleitoral brasileiro e deixando o país com a fama negativa de ter um dos piores sistemas eleitorais do mundo, à vista do seu completo obsoletismo que funciona para beneficiar grupos políticos e prejudicar sensivelmente a sociedade, que certamente não merece o castigo de ser obrigado a aceitar a mediocridade de sistema eleitoral completamente ultrapassado e servil.
Veja-se o caso do PT, que, somente após o famigerado escândalo do petrolão, abstraído o terrível caso do mensalão, contabilizados os estragos de moralidade que implodiram o restante da credibilidade do partido, e curiosamente de ter se beneficiado de longa data das doações irregulares, sob o domínio da corrupção, resolveu radicalizar em defesa do fim dos financiamentos de empresas e da aprovação do financiamento público de campanhas.
Embora o financiamento de campanha tivesse sido abordado nas discussões dos deputados, praticamente nada foi mudado, permanecendo a liberação de doações por empresas, agora, aos partidos políticos, mas sem restrições de valor, que seria ideal que elas existissem, com o estabelecimento de limite o mínimo razoável para se evitar o uso do poder econômico dos empresários sobre os candidatos eleitos, porque o bom senso mostra que ninguém vai liberar substancial quantia para campanha eleitoral de maneira graciosa, por mera diversão, quando se sabe que aqueles que se empenham com o repasse de muito dinheiro para alguém passam a manter vinculação promíscua entre ambos, com vistas às vantagens com o emprego de dinheiro dos bestas dos contribuintes.
O partido governista chegou tardiamente à conclusão de que a corrupção na administração pública existe e é alimentada pelos financiamentos privados, quando, na realidade, ela é fruto da falta de caráter e de dignidade de pessoas, cuja índole malévola corre placidamente nas veias daqueles que acham que podem se aproveitar das facilidades proporcionadas pela inexistência de sistemas eficientes de controle e fiscalização, como aconteceu, de forma escrachada e nababesca, na Petrobras e praticam normalmente fraudes com recursos públicos.
Não é de agora que o Brasil precisa de urgentes, completas, abrangentes e profundas reformas das estruturas do Estado, inclusive do sistema político-eleitoral, porque os congressistas se declaram “incondicionalmente” favoráveis à reforma política, porém, no momento da decisão, cada qual toma posição sobre conteúdo distinto que visa a atender precisa e exclusivamente às suas conveniências políticas.
Enquanto os homens públicos não se conscientizarem sobre a prevalência do interesse público sobre as suas causas pessoas ou remotamente partidárias, com a finalidade de se beneficiar dos cargos públicos eletivos, envolvendo a influência do poder econômico e todas as benesses inerentes aos citados cargos, jamais será aprovada reforma política séria e capaz de atender exclusivamente ao interesse da sociedade e do país.
Urge que o povo e a sociedade organizada, como a OAB e outras entendidas assemelhadas, formulem modelo de reforma política séria, eficiente e moderna, que seja capaz de atender com exclusividade aos interesses daqueles que realmente devem ser beneficiários diretos da reformulação das regras e normas arcaicas, ultrapassadas e distanciadas da modernidade e do aperfeiçoamento que se exigem para que o Brasil possa ingressar na era dos avanços da humanidade, quanto aos procedimentos imunes às falcatruas e aos jeitinhos que empobrecem o sistema político-eleitoral brasileiro, objeto de permanente desmoralização dos princípios da dignidade e da honestidade que devem imperar na nobreza na administração do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 27 de julho de 2015

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