A
presidente da República, a par de ter afirmado que não respeita delatores, à
vista das supostas declarações do dono da UTC, em depoimento de delação
premiada, ressaltou que recebeu doação de R$ 7,5 milhões da citada empresa,
investigada na Operação Lava-Jato, porém o dinheiro foi repassado legalmente à
sua campanha eleitoral.
A petista argumentou que "Eu não respeito um delator, até porque eu
estive presa na ditadura e sei o que é. Tentaram me transformar em delatora, a
ditadura fazia isso com as pessoas. Eu garanto para vocês: eu resisti
bravamente e até em alguns momentos fui mal interpretada quando disse que, em
tortura, a gente tem de resistir porque, senão, você entrega. Não respeito
nenhum, nenhuma fala".
A
petista explicou que as doações da UTC foram legais, tendo ressaltado que
não aceita e "jamais"
aceitará que "insinuem"
qualquer irregularidade sobre ela ou sobre sua campanha: "Se insinuam, têm interesses políticos".
A
presidente afirmou que o senador tucano, seu adversário no segundo turno da última
corrida presidencial, também recebeu contribuições da construtora UTC, com
pequena diferença de valores entre as doações feitas pela empreiteira às
campanhas do PT e do PSDB.
Ela
disse ainda que "A minha campanha
recebeu dinheiro legal, registrado, de R$ 7,5 milhões (da UTC). Na mesma época que eu recebi os recursos,
pelo menos uma das vezes, o candidato que concorreu comigo recebeu também, com
uma diferença muito pequena de valores. Eu estou falando do Aécio Neves – até
porque só teve um candidato que concorreu comigo, estou falando do segundo
turno".
Chega a ser ridícula a afirmação da presidente,
possivelmente na tentativa de justificar o recebimento ilegal do dinheiro de
propina, de que o outro candidato também recebeu dinheiro sujo, mas, segundo
ela, os holofotes foram direcionados somente para o lado dela, dando a entender
que esse assunto não deveria ter a menor relevância porque mais gente se
beneficiou da dinheirama desviada da petrolífera brasileira e não fala mais
disso, porque um erro justifica outro. É o que se pode inferir das declarações
da presidente.
O simples fato de a presidente brasileira tentar
desqualificar a delação premiada já é motivo mais do que suficiente para a
sociedade repudiar e questionar a sua posição nada digna de estadista, que tem
o dever constitucional de prestar contas de seus atos, sendo que essa acusação
de financiamento de campanha com dinheiro objeto de fraude é muito grave e o
fato precisa ser muito bem esclarecido para a sociedade e a Justiça.
Realmente, a presidente pode não ter obrigação de
respeitar o delator e as delações, porque isso é direito de qualquer cidadão,
mas é dever constitucional dela, como mandatária do país, justificar ponto por
ponto, como obrigação ínsita de prestação de contas sobre os atos praticados
como cidadã pública, as afirmações constantes dos depoimentos dos delatores à
Justiça Federal, por eles sintetizarem informações prestadas com base em
elementos, em princípio, comprováveis, segundo exigência legal, para que eles
produzam os benefícios da delação, que são, entre outros, a redução da
condenação, sob pena de invalidação de seus efeitos.
Tem um velho adágio segundo o qual quando a esmola é
grande o santo desconfia. No caso em comento, não haveria de se desconfiar
porque o dinheiro público não tem dono, como mostram os fatos e a história
republicana. Ele está imune ao controle quanto à necessidade de contraprestação
e muito menos de prestação de contas sobre a sua aplicação. Daí a banalização
como tanto dinheiro foi desviado da estatal, sem que se notasse a sua
inexplicável fuga para cofres de partidos políticos e bolsos de funcionários
inescrupulosos da petrolífera.
Assim,
com enorme facilidade, eram executados os contratos celebrados pela Petrobras,
empresa comandada com a “competência” do aparelhamento do governo, do seu
partido e de partidos aliados, cujos envolvidos se beneficiaram do dinheiro
desviado da estatal, mas, em alguns casos, especialmente quando destinado aos
cofres de partidos políticos, ele fora transformado, de forma milagrosa, em
dinheiro limpo, legítimo, segundo se alega com defesa, graças aos recibos e à
chancela da Justiça Eleitoral, que ainda não atentou para o fato de que a sua
atuação se torna cúmplice com a operação da lavagem de propina junto a partidos,
quando dá autenticidade e legitimidade às doações por meio de dinheiro oriundo
de superfaturamentos, que, como não podia ser diferente, são considerados
irregulares pela legislação pátria.
Urge
que os brasileiros sejam capazes de se indignar contra as tentativas de
transformar dinheiro de origem fraudulenta em operação legítima, quando o
regramento jurídico do país aponta, em especificação com absoluta clareza, em
sentido contrário, cujas justificativas nessa direção são dignas de absolutos
repúdio e contestação, por haver nisso cristalina afronta aos princípios da
dignidade, legalidade, nobreza, transparência e moralidade, que devem imperar
na administração do país, devendo os envolvidos ser condenados ao ressarcimento
aos cofres públicos dos valores apurados, além de penalizados com sanções
cabíveis, na forma da lei. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 02 de julho de 2015
Concordo com você ADALMIR!
ResponderExcluirIncomoda, e muito, essa corrupção generalizada que enche de dinheiro partidos políticos em troca de favores. Esse desvio torna piores as vidas das pessoas. Parece uma enfermidade incurável. Afeta a todos. Influencia a muitos. Diante dessa corrupção, tão presente, podemos achá-la invencível, mas podemos fazer a nossa parte que é denunciá-la assim como você faz aqui em seus textos.
Partilho com você desse esforço e o parabenizo por sua ação incansável na lutar em favor de uma política moralizada e capaz de ser respeitada.
PARABÉNS!!!