sexta-feira, 24 de julho de 2015

A incômoda devassa

Diante dos impactos negativos causados com as prisões de petistas, inclusive de seu ex-tesoureiro, e de importantes empresários, os líderes do PT reagiram ao que eles estão chamando de escalada das ações da força tarefa da Operação Lava-Jato para enquadrar o partido, que terá de conviver, queira ou não, com a probabilidade de novas prisões envolvendo dirigentes da sua cúpula.
O partido priorizou o debate sobre a atual conjuntura desfavorável, tendo a cúpula concluído pela necessidade de centrar fogo nas ações do juiz federal responsável pela condução da operação em causa, considerado no partido como coordenador informal das investigações e magistrado “quase sem limites”, nas ações que miram o PT.
Ante a devassa causada com as apurações em curso, o PT considera imprescindíveis que as investigações da citada operação sejam da exclusiva responsabilidade do Supremo Tribunal Federal e o Conselho Nacional de Justiça seva ser alertado sobre a existência de diversos fatos demonstrando contradição e imparcialidade do juiz.
Para a cúpula petista, mais do que combater a corrupção, os objetivos das investigações não são somente para essa finalidade e apurar os desvios de recursos da Petrobras, mas sobretudo para destruir o PT, tendo um petista afirmado que “O PT é mais forte do que alguns palhaços gritando pela cassação do registro do partido”, ao se referir às sugestões de procuradores que atuam na Operação Lava-Jato e coordenam linha de investigação que mira justamente o comportamento dos partidos diante do escândalo.
Existe consenso entre as lideranças petistas de que as investigações estão focalizando o PT e livrando o PSDB, numa suposta politização direcionada, em que o juiz teria instituído espécie de juizado de instrução, onde controla as etapas da operação, em demonstração de ilegalidade que poderá servir de bom argumento para levantar a suspeição do magistrado, uma vez que, pelas leis pátrias, o juiz não pode participar de investigações e nem interferir na denúncia, por serem atribuições constitucionais próprias, respectivamente, da polícia e do Ministério Público.
Em que pesem as escaramuças e as ameaças estapafúrdias petistas, contestando as medidas adotadas corretas e apropriadamente pelo magistrado responsável pela condução das investigações em questão, as interpretações e conclusões precipitadas do PT, de que o juiz “transbordou” os autos, agiu de forma “autoritária” e se comporta, de forma parcial e com viés político, como se estivesse num tribunal da “Santa Inquisição”, não resultaram em absolutamente nada, eis os fatos levantados estão comprovando cada vez mais e de forma robusta a veracidade das acusações sobre a deprimente gestão petista na Petrobras, notadamente pelo aparelhamento da estatal e pela ingerência do Palácio do Planalto, à luz do pronunciamento do ex-presidente da República petista, que afirmou que tudo sabia sobre as operações administrativas da petrolífera.
Um líder petista ressaltou, em tom próprio de notável prepotência, que o PT nasceu do embate, vai à luta e combate as acusações contra a sua honra, tendo concluído, em exaltada reação, que “Estão brincando com fogo e rasgando a Constituição”, naturalmente em alusão aos responsáveis pelas magníficas, elucidativas e esclarecedoras investigações sobre o affaire da Petrobras.
A reação petista somente reacende os ânimos dos envolvidos com as investigações em causa, quanto à necessidade da maior e cuidadosa intensificação na busca de mais elementos para provar, de maneira cabal e definitiva, que as alegações e contestações do PT são destituídas de cabimento, além de injustas, diante da sua umbilical vinculação com os fatos que deram origem à indústria da propinagem no âmbito da Petrobras.
Causa enorme perplexidade que o PT, que antes acusava seus adversários por engavetarem processos e deixarem de investigar os fatos irregulares, esteja agora tentando censurar e condenar, com argumentos pífios e frágeis, o trabalho da maior competência e seriedade da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça Federal, em razão de ter por principal alvo exatamente a gestão de seu governo, que tem sido marcada pelo indecente sinete da corrupção.
A tentativa de culpar o juiz, por agir, no dizer do PT, “quase sem limites” nas ações que miram o PT, tem a finalidade de intimidação, com maior clareza ainda quando o partido entende que as investigações da citada operação devam ser da exclusiva responsabilidade do Supremo Tribunal Federal, onde a maioria de seus integrantes foi indicada pelo governo petista, evidentemente sem que isso mereça qualquer juízo de valor quanto à imparcialidade de suas atuações.
Não tem o menor cabimento querer se atribuir culpa pela ruina do PT aos responsáveis pelas investigações da operação em comento, principalmente ao juiz que a dirige, uma vez que os fatos irregulares tiveram origem dentro do partido do governo, que foi coadjuvado por partidos aliados, cabendo aos envolvidos pelas falcatruas a assunção por suas culpas e responsabilidades, inclusive pelo ressarcimento dos danos causados ao patrimônio público.
Compete à sociedade, no âmbito do seu dever cívico, repudiar as alegações destituídas de fundamento do PT contra a competente atuação dos responsáveis pela Operação Lava-Jato, com destaque para o trabalho do juiz federal, e apoiar as precisas e oportunas e pertinentes investigações, que têm a finalidade de apurar os fatos irregulares que causaram bilhões de reais aos cofres da Petrobras, na expectativa de que os resultados possam servir para a responsabilização dos culpados, o ressarcimento dos prejuízos apurados e a depuração e prevenção das práticas malévolas e prejudiciais ao patrimônio dos brasileiros. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES  
 
Brasília, em 24 de julho de 2015

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