quinta-feira, 23 de julho de 2015

A insensibilidade patriótica

Quando os que comandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito”. Georg Lichtenberg – Filósofo, escritor e matemático alemão
 
Um político cearense, que já exerceu, entre muitos, o cargo de governador do Estado e atualmente preside a Ferrovia Transnordestina, considera “intolerável” a tentativa de parte da oposição e de setores da sociedade de derrubar a presidenta da República e que o golpe não se consumará.
Segundo o político, “O golpe não acontecerá. Não vai ter e ponto final. Alguns de nós, brasileiros, estamos dispostos a levar (a resistência ao golpe) às ultimas consequências. Basta isso para não ter golpe porque eles (os que pregam a derrubada do governo) são frouxos, não aguentam a pressão das ruas. O povo brasileiro vai para a rua para garantir a democracia. Neste caso (das ‘pedaladas’ no TCU) seria pitoresco se não fosse trágico. Julgam-se práticas do passado sem que se julguem as mesmas práticas de muitos e repetidos anos do passado. No governo de Fernando Henrique Cardoso foi o pior e nunca aconteceu qualquer notificação por parte do TCU. As contas brasileiras com Fernando Henrique tiveram a erosão mais grave de toda a história brasileira.”.
Além do que ele chamou de escalada golpista que fundaria no Brasil uma Venezuela, sob o pior aspecto que essa comparação possa dar: um país rachado, porque o Brasil não tem as razões que há naquele país para que isso ocorra, há preocupação com os descaminhos graves do governo da presidente do país, por ela ter lançado agenda prática que está desconstituindo a legitimidade do seu mandato.
O político cearense classifica de ambiente golpista o Tribunal de Contas da União, pelo fato de ele exercer a sua missão constitucional e legal de apreciação das contas do governo, que, para ele, não deveria haver a aplicação dos rigores demandados pelas normas de regência, eis que o mesmo critério não foi empregado com relação às contas do passado, o que significa dizer, na mesma linha do governo, que os erros do passado têm o condão de justificar as irregularidades similares do presente, dando a ridícula impressão de que, mesmo existindo as normas estabelecendo critérios de condutas, elas não precisam ser observadas, pelo simples fato de haver precedentes, ou seja, a normas constitucionais e legais existem, mas apenas de mentirinha.
Essa ridícula concepção de mau político, que entende que as normas jurídicas podem ser desprezadas ao sabor das conveniências políticas, em satisfação de interesse pessoal ou de governo, precisa acabar com a máxima urgência, porque isso só evidencia o pior das desmoralizações que a administração do país pode admitir, quando a própria presidente da República acha no direito de descumprir, sem justificativa plausível, o regramento jurídico do país, dando, com isso, péssimo e censurável exemplo aos brasileiros, que são obrigados aos rigores da Carta Magna e das leis, sob pena de responder criminalmente sobre as consequências de seus atos, mas, como querem a mandatária do país e seus adoradores e defensores sem causa, ela deve ter tratamento especial, no sentido de não ser obrigada a honrar o compromisso jurado, na posse, de cumprir a Constituição do país e suas leis. Isso não acontece, certamente, nem nas republiquetas.
Não se pode confundir defesa e garantia da democracia com o mesmo sentimento em relação à incompetência e à desmoralização do governo, que já deu provas mais do que suficientes sobre os danos que isso vem causando aos brasileiros, notadamente com o desarranjo da economia, ante a demonstração da quebra do sistema produtivo e de suas consequências malévolas ao desenvolvimento do país.
Também é induvidoso que a administração do país foi contagiada perversamente com o câncer da corrupção, graças às quadrilhas arquitetadas, organizadas e nutridas com a participação, principalmente, por integrantes do partido do governo e de partidos aliados a ele, com a finalidade, em especial, de abastecer os cofres deles, de políticos e servidores públicos inescrupulosos, tudo em detrimento dos interesses dos brasileiros e do país.
É preciso se reconhecer, sob o prisma do patriotismo, que os fatos perversos às causas da população e da nação, como os supracitados e muitos outros com o mesmo caráter de degeneração, têm o sentido golpista contra os brasileiros e o seu patrimônio, notadamente pelo descaminho ou desvio da finalidade púbica da gestão da economia, política e administração do país.
É espantoso alguém se referir a golpe neste momento crucial da história brasileira, quando o país foi completamente tomado pela incompetência administrativa, tendo a presidente cometido o erro de ignorar os princípios constitucionais e legais que regem a execução do Orçamento da União, ferindo, de forma completamente injustificável, as regras básicas aplicáveis à espécie.
Não tem a menor lógica a tentativa de se invocar falha cometida há mais de décadas para justificar procedimentos que estão sendo apreciados justamente agora, cujas normas infringidas jamais poderiam ter sido menosprezadas, à vista do juramento proferido por ocasião da posse da presidente de cumprir fielmente o regramento jurídico do país, ou seja, somente nas republiquetas os mandatários prestam juramento e o descumprem sistematicamente ao mero sabor da conveniência política, no caso, ainda mais grave, por ocasião do pleito eleitoral, como forma de se tirar vantagem da situação.
É curioso que o político cearense não tenha se referido ao golpe aplicado pela candidata petista, na campanha eleitoral, onde ela garantiu de mãos juntas que as contas do governo e, de resto, a gestão pública estavam absolutamente sob controle, quando, no mesmo período, as pedaladas fiscais atuaram exatamente para que não houvesse déficit nas contas públicas, além de a petista ter mentido com abundância, garantindo que o seu governo era somente de mudanças benéficas para o povo e que não haveria aumento de tributos nem retirada de direitos dos trabalhadores, porque isso quem deveria fazer era seu adversário, caso ganhasse a eleição.
Não obstante, a petista cometeu um dos maiores estelionatos ou golpes eleitorais, quando foi obrigada a aumentar tributos e tirar direitos de trabalhadores, logo no início do seu segundo mandato.
A defesa feita pelo político cearense da petista somente conspira contra a sua história política, principalmente pela falta de coerência com a análise dos verdadeiros fatos, à vista da terrível desaprovação do governo federal pelos brasileiros, cuja titular do mais importante cargo do país somente contaria com o apoio de menos de 8% de eleitores para defendê-la nas ruas, caso eles tivessem dispostos a enfrentar, no mínimo, pouco mais de 70% dos brasileiros que já perderam a paciência com a falta de competência administrativa, a inexistência de governança e o descrédito que tomou conta do governo, em razão da roubalheira generalizada na Petrobras, entre tantos malefícios à nação.
É inconcebível que ainda exista algum brasileiro, de sã consciência, que defenda a bandalheira e o caos protagonizados pelas incompetências administrativa e gerencial, que foram capazes de destruir o sistema econômico brasileiro, levando o país à recessão, ao estouro das contas públicas, ao aumento da inflação, à elevação dos juros, ao desemprego, à diminuição da renda, à redução da arrecadação, à falta de investimentos em obras, entre outras mazelas visivelmente prejudiciais aos interesses dos brasileiros e do desenvolvimento do país.
Não é lícito se falar, no presente momento, em golpe quando os interesses da população se encontram em extremo risco e, o pior, os responsáveis pela tragédia ainda conseguem encontrar quem os defenda com argumentos visivelmente inconsistentes e fora de foco da realidade sobre os fatos, quando o mais justo seria o reconhecimento das dificuldades e das crises que se adensam diante da visível incapacidade de o governo contorná-las, a par de ainda se achar com o direito de passar sobre o regramento jurídico pátrio, em lamentável e terrível opção somente passível nos regimes ditatoriais e de exceção, onde os governantes se julgam acima da lei e de todos. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 23 de julho de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário