Os
depoimentos prestados aos procuradores da Operação Lava-Jato pelo empresário da
empreiteira UTC ampliaram as pressões sobre a presidente da República e o seu
partido, o PT, à vista da revelação de novas acusações acerca da suspeita
maneira como as campanhas petistas foram financiadas, ao longo da sua história
política.
Com
fundamento na delação premiada firmada com a Procuradoria Geral da República, o
dono da UTC declarou que fez doação do valor de R$ 7,5 milhões à campanha à
reeleição da petista, por temer prejuízos em seus negócios na Petrobras, se não
houvesse ajuda o PT.
A
revista Veja afirmou que o empresário
teria revelado em seus depoimentos a efetivação dos repasses de R$ 15 milhões
ao ex-tesoureiro do PT e R$ 750 mil a um ex-deputado federal do PT-SP, que foi
tesoureiro da campanha da petista em 2010.
Segundo
o jornal O Estado de S. Paulo, o
empresário declarou que os repasses indicados acima teriam sido feitos de
maneira ilegal, e não por meio de doações oficiais, mas, como de praxe, em
nota, o PT afirmou que "todas as
doações recebidas pelo partido aconteceram estritamente dentro da legislação
vigente e foram posteriormente declaradas à Justiça".
Os
depoimentos em tela contribuem para potencializar a já complicada situação dos atordoados
e perdidos inquilinos do Palácio mais importante do país, exatamente porque,
embora os envolvidos neguem peremptoriamente, o depoente assegura com total
convicção que os repasses para o ex-tesoureiro e um ex-deputado, ambos do PT, foram
sob a mácula inaceitável da ilegalidade, e não por meio de doações oficiais.
Não
há a menor dúvida de que nenhum ricaço abestado e insensível seria capaz de
doar, apenas de forma generosa e graciosa, tanto dinheiro se ele não tivesse
origem suja ou então se a operação não envolvesse interesses escusos e
comprometedores, como deixou claro o próprio delator em causa, de que o
financiamento irregular teria o condão de se evitar prejuízos à sua empresa,
com relação à perda dos contratos celebrados com a Petrobras.
É
indiscutível que, somente pelo fato de haver doação processada em consonância
com o rito segundo as normas pertinentes possa ela ser considerada legal, haja
vista que importa, nesse caso, é, sobretudo, a comprovação da licitude da
origem dos recursos.
A
origem do dinheiro é que legitima a doação, mesmo que ela seja chancelada pela Justiça
Eleitoral, que não tem competência para transformar dinheiro sujo de desvio dos
cofres públicos, por meio de fraude, em moeda legítima, salvo nas
republiquetas, onde não se respeita os princípios jurídicos.
Ao
contrário, em harmonia com o mandamento jurídico, é do dever da Justiça
Eleitoral promover, imediatamente às denúncias de irregularidade dos
financiamentos, a revisão de seus julgados, com relação aos fatos inquinados de
irregulares, com a suspensão de seus julgados, até que a Justiça Federal se
pronuncie em definitivo sobre a regularidade das doações suspeitas de máculas
às normas constitucionais e legais, de modo que não reste qualquer dúvida
quanto à sua atuação, de se ignorar a extrema gravidade dos fatos denunciados
pelos delatores, que, em princípio, merecem credibilidade enquanto não forem declarados,
pela Justiça, em contrário, ou seja, pela sua improcedência.
Já
se tornaram ridículas, por que inadmissíveis juridicamente, as reiteradas
afirmações de políticos e partidos de que as doações recebidas estão
respaldadas pela legalidade, pelo simples fato de haver os devidos registro e homologação
da Justiça Eleitoral, embora as investigações revelem que se trata de doação de
dinheiro sujo, enlameado com a podridão da corrupção.
É
absolutamente inaceitável a aludida conclusão, por ela ser inconsistente, simplória
e destituída de seriedade e legitimidade, porque, à toda evidência, não se pode
afirmar que recurso objeto de fraude possa ser registrado por partido honesto como
dinheiro limpo, em que pese o doador afirmar que se trata de dinheiro obtido de
maneira ilegítima, não ficando bem para a imagem do órgão da Justiça Eleitoral
incumbido da homologação das doações para financiamentos de campanhas.
Nesse
caso das doações de campanha, parece indiscutível que o Brasil deva ser o único
país do mundo que desconhece o verbete "seriedade", que é também
sinônimo de honestidade, dignidade, nobreza.
Nos
países com o mínimo de dignidade, as doações de dinheiro com origem fraudulenta
são motivo mais do que suficiente para macular completa e terminantemente a
operação e implicada a responsabilização dos envolvidos, como forma de
reparação dos danos causados aos cofres públicos e principalmente de lição
pedagógica para servir de prevenção e se evitar casos futuros semelhantes, mas,
no país tupiniquim, nada acontece, porque as irregularidades simplesmente se
banalizam.
O certo é
que, na forma da legislação pátria, o receptor de objeto oriundo de crime
normalmente é enquadrado no Código Penal, como partícipe da infração legal. No
caso, sendo o dinheiro doado ao PT fruto de fraude em contratos firmados com a
Petrobras, ou seja, dinheiro sujo, por ter origem ilegal, como então
transformar o objeto de falcatrua em algo legítimo?
À toda
evidência, essa fórmula mágica somente é concebida por milagres operados pelos
partidos políticos, inclusive com a utilização do caixa 2, que também é
considerado legítimo pelo PT, conforme amplamente defendido no escândalo do mensalão.
É pena que não se possa generalizar, mas há forte
evidência, à vista dos fatos revelados no dia a dia pela imprensa, de que a
falta de seriedade como a política é praticada no país é motivo bastante
suficiente para que os homens de dignidade e de se recusam a fazer parte desse
clube seleto denominado classe dominante do país, que participam de falcatruas
e, pasmem, as classificam de mera operação legal.
Não fica nada difícil se entender como funciona o
sistema de interesses neste país que prevalece o jeitinho para se ganhar
espaço, seja político ou empresarial, quando os princípios essenciais da
seriedade e da honestidade nem sempre servem de parâmetro quando estão em jogo
os interesses empresariais e políticos, à vista das revelações daqueles que
dominam as megas contratações com o Estado, que é o primeiro a se prostituir
por meio dos agentes públicos sem caráter, que ignoram e desprezam o primado
fundamento da política e da administração pública, que é o interesse público.
Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 05 de julho de 2015
Verdade ADALMIR!
ResponderExcluirEstamos acompanhando, estarrecidos, os desdobramentos desses fatos que realmente evidenciam total descompromisso com a ética e a moral. Necessitamos, urgentemente, de leis que coíbam essa prática danosa, que envolve doações vultosas em troca de favores daqueles que estão no poder. Esse ato é criminoso e envergonha o nosso país.
Um forte abraço e parabéns por mais esse texto importante para a nossa reflexão e amadurecimento cívico e político.