sexta-feira, 19 de outubro de 2018

O despertar do Nordeste?


O primeiro turno da eleição presidencial mostrou que o candidato petista teve expressiva votação no Nordeste do país, em possível sentimento de apoio às políticas populistas desenvolvidas naquela região pelos governos do PT, em demonstração de reconhecimento e gratidão pelo que pode ter sido uma prova do interesse deles pelos nordestinos.
Não obstante, essa constatação foi o suficiente para viralizar mensagens de protestos, no mundo virtual e nas redes sociais, surgidas dos quatro cantos do mundo, demonstrando formas absurdas e inadmissíveis de preconceito e menosprezo aos nordestinos, por meio de expressões das mais depreciativas ao sentimento humano.
É evidente que essa forma de tratamento precisa ser refutada e repudiada, com a maior veemência, diante do sentimento democrático que todo cidadão tem assegurado no âmbito do Estado Democrático de Direito, em consonância com a necessidade do respeito recíproco que precisa imperar entre os cidadãos, sob a compreensão de que ninguém é melhor ou superior do que ninguém e o pensamento é livre para as suas escolhas políticas e ideológicas, inclusive no que diz respeito ao exercício da capacidade político-eleitoral.
Não há a menor dúvida de que, com relação ao nordestino, há a verdade sociológica, que precisa ser respeitada, por força das circunstâncias históricas regionais brasileiras, uma vez que se trata de região com menos desenvolvimento socioeconômico, em comparação com as regiões do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, muito mais por força do notório desprezo por parte do governo federal, que apenas presta socorro quando ocorre o agravamento de crises e ele se digna, por ser irrecusável, à prestação de imprescindível ajuda, à exceção da assistência social por meio do programa Bolsa Família, que ganhou proporção extraordinária a partir do seu turbinamento, por iniciativa do governo petista.
          É bem provável que a maciça votação ao candidato petista tenha relação com esse inegável fato, como a justificar a preferência do eleitorado ao presidenciável do PT, não que isso possa significar qualquer forma de inferioridade humana, muito embora as pessoas mais pobres que moram mais para o interior do Nordeste têm muito maior dificuldade para a obtenção de informações precisas sobre os candidatos, com relação aos predicativos deles e de seus partidos, levando-se em conta que as capitais dos estados, quase todas, deram vantagem a candidato adversário do petista, o que pode confirmar essa assertiva.
O que pode ser considerada pura verdade, sem qualquer sentimento de preconceito nem desprezo ao sentimento nordestino, por ser fato irrecusável, é a constatação de que as pessoas com maior nível de informadas percebem mais facilmente - e as menos informadas têm dificuldade para entender - que a incompetência administrativa e a desmoralização dos princípios da ética, da dignidade, do decoro, da probidade e da honorabilidade não condizem com o elevado conceito de gestão pública que é ansiado para a governança do Brasil.
O sentimento da imperiosa mudança que se pretende para o Brasil, diante dos indiscutíveis escândalos acontecidos nos últimos governos, exige que o país nunca mais seja administrado por estadista sem o menor senso de responsabilidade pública e que o novo presidente tenha capacidade e condições gerenciais de evitar coalizões ou alianças espúrias com políticos de reputação questionável; não inchar a máquina pública para atender conveniência política interesseira; não permitir que seu partido integre esquemas para desvio de dinheiro público, a exemplo, em especial, dos mensalão e petrolão; não financiar obras públicas no exterior, com recursos dos contribuintes; combater, de forma intransigente, a corrupção, por meio de atos efetivos e não penas com palavras; não negligenciar na prestação dos serviços públicos; não conduzir o país para dificuldades econômicas; não resistir às reformas estruturais do Estado, com vistas à sua modernização; recusar o patrocínio de megas eventos, do tipo Copa do Mundo de Futebol e Olimpíada, quando o povo padece pela falta ou deficiência da prestação de serviços públicos; entre outras deformações na administração pública que as pessoas com pouca informação certamente têm menos condições de avaliar o desempenho dos governos, que tiveram e ainda têm conceito acima da média certamente em razão da bondade emanada do pagamento do Bolsa Família e de outras formas de assistência, que são percebidos mensalmente pelos beneficiários, que estão à distâncias dos graves problemas que contribuem para o gargalo ao desenvolvimento socioeconômico.
É preciso que a verdade seja dita e esclarecida o mais urgentemente possível aos nordestinos de que o benefício do Bolsa Família faz parte de programa de assistência não de governo, mas sim de Estado, que conta com recursos oriundos dos contribuintes, não tendo nada a ver com a filosofia partidária, posto que qualquer governo, não importando o partido que ele represente.
Melhor exemplo dessa realidade é o fato de o atual presidente do país, que integra o MDB, ou seja, diferentemente do PT, vem pagando normalmente o Bolsa Família e assim sucessivamente, o que vale dizer que não passa de balela essa absurda vinculação desse programa ao PT, que apenas vem se beneficiando ao longo dos anos, de forma indiscutivelmente indevida, irregular e irresponsável, dos votos dos sertanejos, que talvez possam imaginar que existe a necessidade do dever de compensação com o voto aos candidatos integrantes do PT, conforme o resultado da recente eleição presidencial, quando o candidato do PT sagrou-se vitorioso em todos os estados, à exceção do Ceará, por ter um presidenciável daquele estado, enquanto as outras quatro regiões do país deram vitória ao adversário dele, em clara demonstração do peso do chamado voto de cabresto, segundo assim entendido pelos especialistas em sistema político-eleitoral, à vista da vinculação do voto com os candidatos de determinado partido.  
O povo nordestino é bastante inteligente e sabe muito bem o que quer, mas ainda não percebeu a sua força política para exigir dos homens públicos a solução das pletoras questões que, reiteradamente, se avolumam ano a ano, a exemplo das tragédias causadas pelas secas, que são tratadas de forma apenas paliativa e circunstancial, dando azo aos aproveitadores de plantão, em especial os inescrupulosos políticos que transformaram as crises climáticas na indústria mais lucrativa da face da terra, segundo mostram os fatos do dia a dia.
Salvo melhor juízo, ainda falta aos nordestinos o gosto pelo dever cívico despertado pela necessidade da exigência, por meio da união das pessoas em mutirões, para serem cobradas as melhorias tão ansiadas para o Nordeste, não aceitando mais medidas somente adotadas caso a caso, como forma de satisfazer os problemas localizados e emergenciais, sendo que muitos dos quais ficam se arrastando ao sabor da incompetência administrativa, a exemplo da indispensável e urgente transposição das águas do Rio São Francisco, com previsão para inauguração para 2012, mas agora foi empurrada para só Deus sabe quando, sem sopesar a montanha de recursos já despendidos, que saltaram dos 2 bilhões de reais para nada mais nada menos do que 8 bilhões de reais, ou seja, o valor foi multiplicado por 4.
Compete ao bom e trabalhador povo do Nordeste exigir mais atenção do governo federal, no sentido de haver investimentos em programas de desenvolvimentos regionais, a título de incentivos fiscais para os empresários, para atrair o capital para o interior totalmente desprezado e desconhecido pelo governo, que somente toma conhecimento da sua existência no exato momento das apurações das urnas.
A propósito, nesse sentido, enviei crônica para um candidato, com proposta para a criação de polos de desenvolvimento do Nordeste, de modo que algumas cidades do interior possam receber uma indústria, cuja finalidade é levar progresso para a própria cidade e as outras circunvizinhas dela, além de propiciar dignidade ao nordestino pai de família, que não pode ficar eternamente dependente do Bolsa Família, que bastante importante, mas a valorização e a dignificação do nordestino somente será possível com a criação de emprego, de modo que a região possa se desenvolver, de forma consistente, com a garantia da produção e do emprego permanentes.
Quanto ao Bolsa Família, trata-se de programa essencial para os nordestinos, mas a sua continuidade somente deveria acontecer em casos excepcionais e esporádicos, enquanto o pai ou mãe de família não fosse encaminhado para o emprego, que poderia ser institucionalizado por meio de programas de especialização profissional a cargo do governo, até mesmo com recursos provenientes desse programa.
À toda evidência, o formato do Bolsa Família precisa ser transformado em programa que tenha por estrutura a possibilidade de assegurar emprego para os beneficiários, que não podem ficar reféns do comodismo demagógico do governo que, por falta de iniciativa, permite que esse programa se mantenha em perene atividade, sempre com o mesmo formato, tão somente em harmonia com a alimentação do deplorável populista, com o aproveitamento da ingenuidade da população, que não percebe que isso faz parte de projeto com forças suficientes para a consecução de projeto pertinente à conquista do poder e a perenidade nele, no caso de governos socialistas, que não importam quanto aos fins para o atingimento de seus objetivos.
          É de se lamentar que o povo do Nordeste ainda aceite a antiquada forma  de politicagem, respaldada por manipulações e procedimentos totalmente incompatíveis com a modernidade democrática, as conquistas da humanidade e, em especial, a grandeza de sua gente, de modo que as suas lideranças possam reivindicar a implantação de projetos de impacto para a região, a exemplo do referido polo de desenvolvimento do Nordeste, que precisa ser aprovado com o máximo de urgência, ante a possibilidade de contribuir, por meio de medidas concretas e substanciais, para significativo benefício da população, que não que pode continuar em extrema dependência, como medida paliativa, provenientes dos benefícios do Bolsa Família, quando essa situação deprimente já deveria ter sido transformada há muito tempo em amparo substancial e efetivo, por meio de programas de desenvolvimento que gerem emprego, em razão do poder e da influência que seu eleitorado dispõe para exigir tratamento digno dos governantes e dos homens públicos. Acorda, Nordeste!
Brasília, em 19 de outubro de 2018

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