O primeiro turno da eleição presidencial mostrou
que o candidato petista teve expressiva votação no Nordeste do país, em
possível sentimento de apoio às políticas populistas desenvolvidas naquela
região pelos governos do PT, em demonstração de reconhecimento e gratidão pelo
que pode ter sido uma prova do interesse deles pelos nordestinos.
Não obstante, essa constatação foi o suficiente
para viralizar mensagens de protestos, no mundo virtual e nas redes sociais,
surgidas dos quatro cantos do mundo, demonstrando formas absurdas e
inadmissíveis de preconceito e menosprezo aos nordestinos, por meio de
expressões das mais depreciativas ao sentimento humano.
É evidente que essa forma de tratamento precisa ser
refutada e repudiada, com a maior veemência, diante do sentimento democrático
que todo cidadão tem assegurado no âmbito do Estado Democrático de Direito, em
consonância com a necessidade do respeito recíproco que precisa imperar entre
os cidadãos, sob a compreensão de que ninguém é melhor ou superior do que
ninguém e o pensamento é livre para as suas escolhas políticas e ideológicas,
inclusive no que diz respeito ao exercício da capacidade político-eleitoral.
Não há a menor dúvida de que, com relação ao
nordestino, há a verdade sociológica, que precisa ser respeitada, por força das
circunstâncias históricas regionais brasileiras, uma vez que se trata de região
com menos desenvolvimento socioeconômico, em comparação com as regiões do Sul,
Sudeste e Centro-Oeste, muito mais por força do notório desprezo por parte do
governo federal, que apenas presta socorro quando ocorre o agravamento de
crises e ele se digna, por ser irrecusável, à prestação de imprescindível
ajuda, à exceção da assistência social por meio do programa Bolsa Família, que
ganhou proporção extraordinária a partir do seu turbinamento, por iniciativa do
governo petista.
É
bem provável que a maciça votação ao candidato petista tenha relação com esse
inegável fato, como a justificar a preferência do eleitorado ao presidenciável
do PT, não que isso possa significar qualquer forma de inferioridade humana,
muito embora as pessoas mais pobres que moram mais para o interior do Nordeste
têm muito maior dificuldade para a obtenção de informações precisas sobre os
candidatos, com relação aos predicativos deles e de seus partidos, levando-se
em conta que as capitais dos estados, quase todas, deram vantagem a candidato adversário
do petista, o que pode confirmar essa assertiva.
O que pode ser considerada
pura verdade, sem qualquer sentimento de preconceito nem desprezo ao sentimento
nordestino, por ser fato irrecusável, é a constatação de que as pessoas com
maior nível de informadas percebem mais facilmente - e as menos informadas têm
dificuldade para entender - que a incompetência administrativa e a
desmoralização dos princípios da ética, da dignidade, do decoro, da probidade e
da honorabilidade não condizem com o elevado conceito de gestão pública que é
ansiado para a governança do Brasil.
O sentimento da
imperiosa mudança que se pretende para o Brasil, diante dos indiscutíveis escândalos
acontecidos nos últimos governos, exige que o país nunca mais seja administrado
por estadista sem o menor senso de responsabilidade pública e que o novo
presidente tenha capacidade e condições gerenciais de evitar coalizões ou
alianças espúrias com políticos de reputação questionável; não inchar a máquina
pública para atender conveniência política interesseira; não permitir que seu
partido integre esquemas para desvio de dinheiro público, a exemplo, em especial,
dos mensalão e petrolão; não financiar obras públicas no exterior, com recursos
dos contribuintes; combater, de forma intransigente, a corrupção, por meio de
atos efetivos e não penas com palavras; não negligenciar na prestação dos
serviços públicos; não conduzir o país para dificuldades econômicas; não resistir
às reformas estruturais do Estado, com vistas à sua modernização; recusar o
patrocínio de megas eventos, do tipo Copa do Mundo de Futebol e Olimpíada,
quando o povo padece pela falta ou deficiência da prestação de serviços
públicos; entre outras deformações na administração pública que as pessoas com
pouca informação certamente têm menos condições de avaliar o desempenho dos
governos, que tiveram e ainda têm conceito acima da média certamente em razão da
bondade emanada do pagamento do Bolsa Família e de outras formas de assistência,
que são percebidos mensalmente pelos beneficiários, que estão à distâncias dos
graves problemas que contribuem para o gargalo ao desenvolvimento
socioeconômico.
É preciso que a verdade
seja dita e esclarecida o mais urgentemente possível aos nordestinos de que o
benefício do Bolsa Família faz parte de programa de assistência não de governo,
mas sim de Estado, que conta com recursos oriundos dos contribuintes, não tendo
nada a ver com a filosofia partidária, posto que qualquer governo, não
importando o partido que ele represente.
Melhor exemplo dessa
realidade é o fato de o atual presidente do país, que integra o MDB, ou seja,
diferentemente do PT, vem pagando normalmente o Bolsa Família e assim
sucessivamente, o que vale dizer que não passa de balela essa absurda vinculação
desse programa ao PT, que apenas vem se beneficiando ao longo dos anos, de
forma indiscutivelmente indevida, irregular e irresponsável, dos votos dos
sertanejos, que talvez possam imaginar que existe a necessidade do dever de compensação
com o voto aos candidatos integrantes do PT, conforme o resultado da recente
eleição presidencial, quando o candidato do PT sagrou-se vitorioso em todos os
estados, à exceção do Ceará, por ter um presidenciável daquele estado, enquanto
as outras quatro regiões do país deram vitória ao adversário dele, em clara
demonstração do peso do chamado voto de cabresto, segundo assim entendido pelos
especialistas em sistema político-eleitoral, à vista da vinculação do voto com
os candidatos de determinado partido.
O povo nordestino é bastante inteligente e sabe
muito bem o que quer, mas ainda não percebeu a sua força política para exigir
dos homens públicos a solução das pletoras questões que, reiteradamente, se
avolumam ano a ano, a exemplo das tragédias causadas pelas secas, que são
tratadas de forma apenas paliativa e circunstancial, dando azo aos
aproveitadores de plantão, em especial os inescrupulosos políticos que
transformaram as crises climáticas na indústria mais lucrativa da face da terra,
segundo mostram os fatos do dia a dia.
Salvo melhor juízo, ainda falta aos nordestinos o gosto
pelo dever cívico despertado pela necessidade da exigência, por meio da união
das pessoas em mutirões, para serem cobradas as melhorias tão ansiadas para o
Nordeste, não aceitando mais medidas somente adotadas caso a caso, como forma
de satisfazer os problemas localizados e emergenciais, sendo que muitos dos
quais ficam se arrastando ao sabor da incompetência administrativa, a exemplo
da indispensável e urgente transposição das águas do Rio São Francisco, com
previsão para inauguração para 2012, mas agora foi empurrada para só Deus sabe
quando, sem sopesar a montanha de recursos já despendidos, que saltaram dos 2
bilhões de reais para nada mais nada menos do que 8 bilhões de reais, ou seja,
o valor foi multiplicado por 4.
Compete ao bom e trabalhador povo do Nordeste
exigir mais atenção do governo federal, no sentido de haver investimentos em
programas de desenvolvimentos regionais, a título de incentivos fiscais para os
empresários, para atrair o capital para o interior totalmente desprezado e
desconhecido pelo governo, que somente toma conhecimento da sua existência no
exato momento das apurações das urnas.
A propósito, nesse sentido, enviei crônica para um
candidato, com proposta para a criação de polos de desenvolvimento do Nordeste,
de modo que algumas cidades do interior possam receber uma indústria, cuja
finalidade é levar progresso para a própria cidade e as outras circunvizinhas
dela, além de propiciar dignidade ao nordestino pai de família, que não pode
ficar eternamente dependente do Bolsa Família, que bastante importante, mas a valorização
e a dignificação do nordestino somente será possível com a criação de emprego,
de modo que a região possa se desenvolver, de forma consistente, com a garantia
da produção e do emprego permanentes.
Quanto ao Bolsa Família, trata-se de programa
essencial para os nordestinos, mas a sua continuidade somente deveria acontecer
em casos excepcionais e esporádicos, enquanto o pai ou mãe de família não fosse
encaminhado para o emprego, que poderia ser institucionalizado por meio de
programas de especialização profissional a cargo do governo, até mesmo com
recursos provenientes desse programa.
À toda evidência, o formato do Bolsa Família
precisa ser transformado em programa que tenha por estrutura a possibilidade de
assegurar emprego para os beneficiários, que não podem ficar reféns do
comodismo demagógico do governo que, por falta de iniciativa, permite que esse
programa se mantenha em perene atividade, sempre com o mesmo formato, tão
somente em harmonia com a alimentação do deplorável populista, com o
aproveitamento da ingenuidade da população, que não percebe que isso faz parte
de projeto com forças suficientes para a consecução de projeto pertinente à
conquista do poder e a perenidade nele, no caso de governos socialistas, que
não importam quanto aos fins para o atingimento de seus objetivos.
É
de se lamentar que o povo do Nordeste ainda aceite a antiquada forma de politicagem, respaldada por manipulações e procedimentos
totalmente incompatíveis com a modernidade democrática, as conquistas da
humanidade e, em especial, a grandeza de sua gente, de modo que as suas
lideranças possam reivindicar a implantação de projetos de impacto para a
região, a exemplo do referido polo de desenvolvimento do Nordeste, que precisa
ser aprovado com o máximo de urgência, ante a possibilidade de contribuir, por
meio de medidas concretas e substanciais, para significativo benefício da
população, que não que pode continuar em extrema dependência, como medida
paliativa, provenientes dos benefícios do Bolsa Família, quando essa situação
deprimente já deveria ter sido transformada há muito tempo em amparo
substancial e efetivo, por meio de programas de desenvolvimento que gerem
emprego, em razão do poder e da influência que seu eleitorado dispõe para
exigir tratamento digno dos governantes e dos homens públicos. Acorda,
Nordeste!
Brasília, em 19 de outubro de 2018
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