Desde a proclamação
do resultado das eleições, os apoiadores do presidente da República esperam o
aparecimento triunfante e energético de quem sempre foi capaz de mobilizar e
atrair as atenções com declarações inflamadas de esperanças, motivadas pelo
otimismo quanto aos objetivos pretendidos de sucesso no seu governo.
Não
obstante, diante da vitória da oposição, anunciada pelo Superior Tribunal
Eleitoral, com a possibilidade do retorno ao poder da esquerda, o presidente do
país se mostra criatura em estado de transe, em verdadeira apatia de extrema
preocupação, precisamente porque, na reta final do governo, ele evidencia distanciado
dos fatos políticos e administrativos, como se já tivesse jogado a toalha e
abandonado todos os seus objetivos pessoais, dando a entender que realmente teria
chegado ao fim da linha, tamanho tem sido o seu momento de indefinição política,
que apenas se lamenta pelos cantos e tem dito palavras ao vento, sem nexo
algum, cujo comportamento tem sido motivo de preocupação, exatamente por destoar
da pessoa altruísta, com enorme capacidade de liderança que se mostra diluída
aos cantos do Palácio da Alvorada.
Essa
assertiva se comprova com a falta de apetite para o trabalho que, a partir do
último turno das eleições, o presidente do país pouco se interessa pelas atividades
presidenciais, contabilizando pouco mais de uma hora de trabalho por dia, conforme
mostra a sua agenda oficial.
A maior
evidência do seu desânimo se comprova nas raras aparições públicas, em que há sinais
de instabilidade, quando se mostra praticamente alheio à gravidade do momento
político.
O
semblante de tristeza do presidente do país fica claro com a sua reclusão à
residência oficial, preferindo ficar isolado, às portas fechadas no Palácio do
Alvorada, em que ele se esconde atrás dos próprios pensamentos e dá sinais de
poucos amigos às pessoas que ainda o visitam.
Em que
pese esse estado de visível apatia, o presidente do país sinaliza sobre
possível flerte ao golpismo, por acreditar
em reviravolta milagrosa que lhe renda a permanência no poder, mas ainda não há
nada consubstanciado nessa direção, salvo se tudo estiver sendo urdido na absoluta
surdina.
A verdade
é que o choque de realidade já chegou à sua presença, ao perceber que a base de
apoio político já vem negociando cargos no novo governo, enquanto aliados que
se elegeram usando o seu prestígio, a exemplo do vice-presidente e o governador
eleito de São Paulo ganharam nova estatura política e abandonam as trincheiras comandas
por ele.
Os
devaneios aparecem visíveis, como na forma do tom enigmático do presidente do
país, em que ele repetiu que é a população quem decide “para onde vão as
Forças Armadas. Eu me responsabilizo pelos meus erros, mas peço a vocês: não
critiquem sem ter certeza absoluta do que está acontecendo”, ou seja, tratam
de frases enigmáticas jogados ao vento, por que sem nenhuma objetividade.
Na
verdade, a paralisia do presidente do país contribui para aumentar e aprofundar
a irritação de apoiadores dele, que fazem ataques ao Supremo Tribunal Federal,
ao Tribunal Superior Eleitoral e ao Congresso Nacional, certamente na esperança
de que alguma medida intervencionista seja adotada por ele, com a finalidade de
reverter o traumático resultado das urnas.
Um
parlamentar da intimidade dele chegou a criticá-lo pela falta de atitude, ao
afirmar, in verbis: “O silêncio do presidente chega a beirar uma
covardia. Serei chamado de traidor pelos que acham que Bolsonaro vai agir, e
eu, olhando na sua câmera, digo: não vai. Não se iludam. Saiam das portas dos
quartéis, vocês serão presos e não haverá ninguém que os defenda”.
A verdade
é que o distanciamento da realidade pelo presidente do país, por ter se
trancado e pondo ao distanciamento até mesmo para antigos e íntimos frequentadores
do Palácio do Alvorada, vem causando enorme decepção para seus fiéis
apoiadores.
As pessoas
que estão na rua fazendo as manifestações esperam, há algum bom tempo, muito ávidas,
pela adoção de medidas realmente enérgicas e expressivas, como forma a
corresponder ao sentimento do líder sempre combativo aos desmandos e à desorganização
na vida pública, como ele sempre demonstrou, com relação às atitudes erráticas dos
outros poderes da República, quanto mais no que se refere ao resultado das
urnas, diante das fortes suspeitas de irregularidades capazes de causar enormes
prejuízos à reeleição dele.
É
compreensível que o presidente do país nunca tivesse experimentado derrota na
vida pública, mas isso faz parte do jogo, cuja situação precisa ser enfrentada com
a cabeça erguida em demonstração de que o combatente nunca se dá por vencido,
mesmo que os planos estratégicos não tenham sido alcançados na forma como objetivados
e pretendidos, sobrelevando-se as questões imponderáveis, que podem também
acontecer.
Em
qualquer disputa, há o ditado que diz que o campeão também se mostra impoluto
diante da derrota, exatamente porque a moeda tem duas faces e somente uma delas
se expõe, que é o lado vitorioso, mesmo que possa haver suspeita de fraudes, que
devem ser motivo de luta para a continuidade das atividades inerentes aos
objetivos políticos.
A verdade
é que não se pode desprezar as dores do presidente da República, porque isso é
mais do que natural, em se tratando de ser humano, mas há importante
ingrediente que não ficou ainda esclarecido, que diz com a avalanche de revelações,
verdadeiras ou não, dando conta da possiblidade de irregularidades no processamento
da votação e isso não pode ficar no esquecimento, uma vez que a legislação brasileira
garante a transparência dos atos da administração pública, ex-vi do disposto no
art. 37 da Lei Maior do país.
Como
ficar calado diante da falta de esclarecimentos e aceitar absurdo como esse em silêncio,
como se isso fosse normal em país que transpira, a luz da Constituição, os ares
da pura democracia, onde o certo é mostrar a regularidade do funcionamento dos
instrumentos eleitorais, de modo que não restem quaisquer dúvidas sobre nada e
que o vitorioso tenha o devido respaldo da legitimidade dos procedimentos
adotados como válidos, em consonância com os princípios democráticos e
civilizados.
Convém
que o presidente do país desperte do transe e da apatia que o dominam, até
mesmo por sentimento pessoal justificável, mas o verdadeiro estadista precisa
se superar diante de seus apoiadores, à vista do vínculo de lealdade recíproco que
foi construído ao longa da sua história política e principalmente porque a vida
pública não tem como se encerrar por causa de eleição que exige muitos
esclarecimentos por parte da Justiça eleitoral, conforme os fatos suspeitos veiculados
pela mídia.
O certo é
que, como estadista, não há justificativa para o silêncio do presidente do país,
porque ele tem a obrigação funcional de exercer as atividades presidenciais normais,
em sintonia com a cartilha inerente ao cargo, pouco importando os antagonismos
próprios decorrentes do seu exercício.
Por fim,
fala-se que o presidente estaria preparando medidas destinadas a obrigar a
recontagem dos votos, com vistas aos devidos esclarecimentos sobre a
regularidade da votação, mas nada passa de pura especulação, uma vez que cada
minuto a menos do governo dele somente conspira contra a busca dos acertos
desejados, o que vale dizer que medidas nesse sentido já deveriam ter sido adotadas
bem antes do término do seu mandato.
Os brasileiros
esperam que o presidente da República amadureça bastante as consequências das
possíveis medidas a serem adotadas, ainda no seu governo, de modo que elas
sejam realmente em consonância com os objetivos que satisfaçam aos interesse da
sociedade.
Brasília, em 23 de
dezembro de 2022
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