quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Cabeça erguida?

 

O presidente eleito à Presidência da República disse que não vai esquecer os acontecimentos que o levaram à prisão em 2018, mas ponderou que não tem direito de "sentar na cadeira com ressentimento" e que isso não está na sua "mesa de governança".

O político acusou o ex-juiz da Operação Lava-Jato, que o jugou e o condenou à prisão, de ter enganado os brasileiros e os meios de comunicação, ou seja, ele que é acusado de ter cometido gravíssimos crimes contra a administração pública entende que a culpa é do magistrado que julgou as ações penais e o condenou pelos crimes atribuídos a ele, em total inversão de valores.

O político disse que "Foram cinco anos, não cinco dias, foram vidas destruídas, e nós estamos aqui de cabeça erguida. E eu tenho certeza que meus acusadores não andam de cabeça erguida como eu ando. Digo isso porque não quero vingança, depois do presente que o povo brasileiro me deu outra vez me elegendo presidente não tenho direito de me sentar na cadeira com esse sentimento".

O político ressaltou também que decidiu ser candidato novamente, após retomar seus direitos políticos, porque seria o único com capacidade para vencer o presidente da República.

É preciso ficar claro que a retomada dos direitos políticos se deu por ajudar exclusiva da Justiça, sem o exame sobre o mérito dos crimes atribuídos a ele, conforme mostram os fatos e isso não significa que ele tenha ganho condições de normalidade política, porque a mácula inerente aos atos irregulares na gestão dele continua existindo como na origem das denúncias à Justiça, o que vale dizer que ele é seguramente verdadeiro ficha suja, que não teve condições de provar a sua lisura na vida pública.

Como se vê, o político se louva em afirmar que se encontra de “Cabeça erguida”, como se ele fosse pessoa de princípios, cultor de conduta ilibada e idoneidade, na vida pública, em que se ele tivesse, ao menos, provado, com base em elementos juridicamente válidos, a sua inocência sobre as brutais irregularidades praticadas no governo dele.

 Não tem como serem ignorados os esquemas criminosos e degradantes, devidamente comprovados por meio de investigações policiais e julgamentos judiciais, mostrando a suntuosidade de recursos públicos desviados de estatais, com destaque para a maior empresa petrolífera brasileira, de onde foram subtraídos bilhões de reais para diversas atividades espúrias, em especial para o financiamento de campanhas milionárias, visando à manutenção no poder, só isso já seria mais do que assombroso para a reprovação dele como político à altura da grandeza do Brasil e dos brasileiros honrados e dignos.

Como falar em vingança, se as ações penais julgadas, cujas sentenças condenatórias à prisão dele, tiveram por base fatos caracterizados como irregulares, cuja autoria realmente foi materialmente atribuída à pessoa dele, que não teve capacidade para contestar as acusações e comprovar a sua inocência, motivo da conclusão pela culpabilidade dele e das sentenças condenatórias à prisão?

Na verdade, o político não pode sequer falar em ressentimento, exatamente porque não há motivo algum para se concluir nesse sentido, uma vez que todos os atos irregulares atribuídos à autoria dele se encontram integralmente registrados e comprovados nos autos, aguardando julgamento, com relação àqueles que ainda não prescreveram, em razão da idade avançada dele, que a lei permite o arquivamento da ação penal pela preclusão de tempo, não por comprovação da inculpabilidade e isso não tem nada a ver com absolvição dos crimes havidos, porque a imaculabilidade dos atos criminosos continua intocável.

É preciso frisar que poderia até se falar em “cabeça erguida” e inexistência de “ressentimento” se o político tivesse comprovado, perante a Justiça e a sociedade, a sua inculpabilidade com relação às denúncias de irregularidades cuja autoria é atribuída a ele, ou até mesmo que tivesse sido constatado que os atos criminosos não tivessem existidos e ainda que não tivesse prova alguma sobre elas.

Não obstante, as provas materiais foram coligidas e serviram de base para as sentenças judiciais, que foram devidamente confirmadas nas segunda e terceira instâncias da Justiça, cujos veredictos da lavra de três desembargadores e cinco ministros foram por unanimidade, confirmando as decisões iniciais.

A verdade é que as aludidas sentenças foram anuladas, sob o argumento artificioso da incompetência de jurisdição, cuja medida não encontra amparo constitucional nem legal, conquanto os atos criminosos subsistiram normalmente, conforme comprovação constante dos autos, tanto que eles vão ser novamente julgados, no caso daqueles que não foram prescritos, por mero decurso de prazo, ficando patente que é vergonhoso se falar em “cabeça erguida” quando nada foi provado em contrário das denúncias, por ocasião dos exames de mérito das ações penais, quanto à inculpabilidade ou não do político.

É preciso ficar muito bem claro que o significado de inocência, à exclusiva luz do comunismo, tem a representatividade de fidelidade, lealdade à causa socialista e isso fica muito evidente quando o político diz que não existe ninguém mais inocente do que ele, dando a entender que isso faz parte da confissão à extrema lealdade ao comunismo, diante da prática de desonestidade que tem o respaldo em nome da causa desse funesto regime, prática esta que tem por finalidade a manutenção no poder, não importando os fins empregados para o atingimento dos meios, exatamente como tudo aconteceu no governo desse político, que, mesmo em plena decadência moral, ainda se acha a imponência da política.

Quem não conhece o currículo sujo do político, na vida pública, e ouve ele dizer que “eu tenho certeza que meus acusadores não andam de cabeça erguida como eu ando.”, vai imaginar que quem praticou crimes de improbidade administrativa foram os acusadores e os julgadores dele e não ele, que, ao contrário, teria a áurea da pureza na gestão pública, quando os fatos mostram que ele não teve a mínima dignidade para assumir a responsabilidade sobre a roubalheira no governo dele e somente admitiu, na campanha eleitoral, que teria havido corrupção quando ele foi presidente do país, porque, segundo, as pessoas confessaram e delataram os desvios de recursos públicos, à época.

Enfim, quem precisariam levantar a cabeça eram os antibrasileiros que perderam a dignidade em votar em político que não se envergonha de se dignar a dizer que anda de “cabeça erguida”, quando já foi condenado à prisão, ante a prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por recebimento de propina, sendo que ele ainda responde a vários processos penais na Justiça, que o impedem de praticar atividades políticas e exercer cargo público, a despeito do entendimento contrário de brasileiros, segundo o resultado informado das urnas, que se encontra sob questionamentos quanto aos procedimentos de votação e pendentes de esclarecimentos por parte da Justiça eleitoral brasileira.

Diante da evidente degeneração de princípios, com dominação explícita no último processo eleitoral, em que não houve o devido cuidado, por parte de eleitores, quanto ao controle da avaliação sobre os critérios da lisura em relação à coisa pública, o resultado das urnas informado pela Justiça eleitoral revela precisamente a confirmação do provérbio segundo o qual o povo tem o governo que merece, em conformidade com a vontade de eleitores, repita-se, em visível promiscuidade quanto aos valores inerentes às atividades de incumbência da administração pública, que se fundam nos salutares princípios da moralidade, da honestidade, da dignidade, entre outros que são os pilares da probidade na gestão pública.  

A ilação permitida sobre todos esses fatos inglórios é a estranheza  e o desalento de o Brasil vir a ser presidido por político com a índole tão deprimente e degenerada de desonestidade, por ter se tornado, por seus deméritos criminais, modelo de completo desprezo aos princípios republicano e democrático, conforme mostram os fatos, à saciedade.         


Brasília, em 15 de dezembro de 2022

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