Nos mais tenebrosos momentos da história, os bons exemplos da
população são no sentido de que, diante das piores tragédias, é preciso que prevaleçam
a ordem, a compreensão e a solidariedade com quem mais precisa de ajuda, conforto
e amor cristãos, como importante contribuição à superação e à reconstrução da
vida.
Pensar diferentemente disso, certamente é a pior maneira de lidar
com as dificuldades, porque a ideia de cada um por si e Deus por todos só
demonstra falta de sentimentos e princípios humanitários diante de situação que
precisava de urgente saneamento, para que a vida voltasse à normalidade.
Na realidade, o sentimento prevalente da época da crise, no Brasil,
era o de que os princípios da cooperação
e da solidariedade estavam adormecidos em algum lugar bem distante, porquanto teria
sido mais simpatizante a ideia do pânico e do pior melhor para harmonizar-se
com planos políticos, geralmente alardeado por autoridades públicas,
possivelmente visando lucrar sobre a tragédia que invadia contra o povo, diante
do inafastável pressuposto de que não há mal que não possa piorar, quando a população
se tornava fora de controle.
Diante desse quadro de descontrole social, homens públicos possuídos
pelo poder costumam apelar para a força bruta, com a finalidade de se evitar mal
maior, diante de cenário que somente existe na mentalidade deles e isso pode
resultar em consequências desastrosas para a nação e o seu povo.
O Brasil viveu o terrível pesadelo da pandemia do novo coronavírus
há pouco tempo, que se transformou, mal comparando, na noite dos bombardeios
sobre as cabeças da população, sob intensos e incessantes ataques, sem tempo
para se avaliar a nossa verdadeira capacidade de puder juntar os destroços e
reconstruir o que ainda restava de competência, inteligência e humanidade, ante
à enorme incapacidade de diálogo, consenso e compreensão sobre a real dimensão
dos estragos causados pela Covid-19.
Na realidade, as terríveis bombas em forma de Covid-19 se
potencializam por muito tempo e conseguiram causar imensurável rombo sobre a humanidade
de quase 700 mil mortes, ante a enorme dificuldade para se compreender que faltou
seriedade para combatê-la com a maior intensidade possível, quando se sabe que
se tratava de vírus letal que sofreu mutações e se tornou ainda mais contagioso
e mortífero.
A situação se tornou mais ainda mais grave quando, diante da
tragédia humana, havia insensatas ideias em forma de fingimento de que ela nem existia,
o chamado negativismo, mesmo que seus estragos tivessem sido terrivelmente visíveis
e inevitáveis.
Os fatos mostraram que os alertas sobre a gravidade da crise foram
simplesmente ignorados, permitindo que as variantes se fortalecessem e avançassem
sobre multidões incautas e ingênuas, a despeito de ideias contrárias ao
isolamento, ante a inexistência suficiente de vacinas.
A verdade é que, a doença, na visão do “especialista” palaciano, somente
tinha o condão de ameaçar idosos, pessoas com deficiência ou com comorbidades, devido
à pouca imunidade, conseguiu dizimar multidão de brasileiros produtivos e com
histórico de muitas mortes, agora também já avança sobre crianças e jovens, que
temem pelo seu futuro, diante da falta de perspectiva sobre as aulas presenciais,
que contribuiriam para a verdadeira propagação de infecção dos pais e
responsáveis.
Não há a menor dúvida de que houve evidências de que a condução
errática da crise causada pela pandemia permitiu aglomerações e a consequência
foi a natural e inevitável superlotação nos hospitais de doentes da Covid-19, onde
as pessoas morreram à espera de atendimento, diante da carência de recursos
materiais e humanos para o pronto atendimento, com a necessária presteza, que foram
inexistentes, exatamente diante do sobrecarregamento dos profissionais da saúde,
que trabalhavam muito além do seu limite e da sua capacidade humana.
O cenário se tornou ainda mais
fúnebre diante da aposta pesada, vinda do comando da crise, segundo a qual havia
evidência de pânico, com mais mortes e o surgimento de fome, diante da
possibilidade da implantação, por muito tempo, do isolamento social, quando se temia
pelo pior dos mundos, com automortes, saques generalizados, violência na família,
entre outros transtornos sociais graves, que, felizmente, nada disso aconteceu.
Tudo isso parecia o cenário ideal para servir de pretexto perfeito
para candidatos a regimes ditatoriais, quando antes eles deveriam ser sensíveis
e solidários com os familiares dos brasileiros que perderam a vida, nessa
lamentável situação de muita omissão, incompetência e falta de interesse para
se enxergar a verdadeira dimensão da tragédia, que exigia declaração de desgraça
social, com a devida e inadiável decretação de estado de guerra contra a triste
calamidade humanitária.
Ao contrário disso, a terrível situação foi tratada com absoluta
tranquilidade, a exemplo do que nada é feito pelo principal órgão incumbido de
cuidar, de maneira prioritária, da saúde pública, que ficou sendo dirigido por
estrategista em almoxarifado do Exército, por quase um ano, mesmo diante dos estridentes
e mortais bombardeios caindo, cruel e impiedosamente, nas cabeças da população.
Diante do caos instalada na saúde dos brasileiros, o mandatário do
país se encarregou de povoar a sua mente com os fantasmas do impeachment, por
quem temia ser jogado o seu plano de reeleição no lixo, com a irrecuperável
perda da credibilidade popular, que só despencava por força da inércia administrativa
e insensibilidade humana, demonstradas pela omissão no combate à pandemia, a
ponto do suscitamento da decretação do estado de sítio ou atos institucionais
com o intuito de botar sob rédeas curtas o controle das medidas de isolamento
social, comandadas, ao seu alvitre, pelos governadores estaduais.
A sociedade não tinha motivo algum por esperança sobre a premente
cessação dos bombardeios que atormentam a sua paz, diante da permanente desorientação
que somente tinha capacidade para boicotar as medidas sanitárias contra a
Covid-19, em especial no que se referia ao isolamento social, desde o princípio,
a par da alimentação da paranoia contra ele, o tempo todo, sob alegações de que
“governadores e prefeitos embolsaram os repasses para o combate à pandemia e
lucram com o caos”; “vacina produz morte e invalidez”; “isolamento
é ditadura”, além de tantas afirmações negacionistas que somente contribuíam
para a disseminação de descrédito perante a população, que esperava por atitudes
proativas contra a doença.
Os fatos mostraram absurdos pronunciamentos e argumentos destituídos
de nexo e reais evidências científicas, atribuídos à principal autoridade do
país, como os que o “vírus pega quem está em casa também”; o “isolamento
não funcionou em lugar nenhum do mundo”; a “fila de hospital sempre
existiu, mas agora é explorada por razões políticas”; o “meu primo pegou
e não morreu”; “a fome mata mais”; “estão tratando quem quer
trabalhar como bandido”; e o “decreto inconstitucional não está acima da
minha liberdade de ir, vir, me contaminar e contaminar quem eu quiser”.
Diante da gigantesca dimensão da tragédia humanitária, nada do que
foi dito acima faria o menor sentido, em termos de responsabilidade quanto aos cuidados
da saúde dos brasileiros, como tentativa de justificar a enormidade da incompetência,
da omissão e do desprezo à desgraça que imperava com a força devastadora da
Covid-19.
Na realidade, os desnecessários e prejudiciais ataques contra tudo
apenas alimentavam a extensão da tragédia e contribuíam para desanimar e minar
a esperança de dias melhores para a saúde dos brasileiros, justamente porque eram
evidentes os sinais de desestímulo que partiam da principal autoridade que tinha
a incumbência de dar o grito de guerra contra a Covid-19.
Ao contrário disso, as suas atitudes enveredavam por caminhos não
do saneamento do mal, tendo o cabimento de ideias absurdas de combatê-lo por
meio da decretação de estado de sítio, que ainda contava com o apoio da turba fanática
e enlouquecida, também completamente insensível aos apelos da cessação dos
bombardeios contra a população, por meio de medidas condizentes com os fatos terríveis.
Enfim, a realidade dos fatos mostrara, que a desesperança no
porvir era fruto da total perda de perspectiva, que tinha sido fortalecida com a
vacinação tardia e lenta e mais ainda por força da demonstração de desinteresse
em enxergar a gravidade e a letalidade do coronavírus, fatos estes que
contribuem para a falta da adoção das necessárias e urgentes medidas sanitárias,
ficando cada vez mais difícil manter, ainda que minimamente, fio de esperança à
vista dos efeitos práticos e efetivos da negação que era alimentada pelo deformado
senso de coletividade e solidariedade.
Brasília, em 28 de dezembro de 2022
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