segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

O silêncio das Forças Armadas

 

Uma deputada federal por São Paulo fez pedido aos generais da ativa que se posicionem sobre o momento político atual e, sem citar o nome, chama o presidente eleito de bandido.

A parlamentar questionou da seguinte forma: “E pergunto aos senhores: Dia 1º de janeiro, senhores generais quatro estrelas, vocês vão querer prestar continência a um bandido ou à nação brasileira?”.

A deputada desafia os generais da ativa a tomarem posição, dizendo que “não é hora de responder com carta se dizendo apartidário, é hora de se posicionar”, em referência à nota divulgada pelo Exército.

A parlamentar perguntou: “De que lado da história vocês vão ficar: do lado da história que quer implantar o comunismo e tirar as nossas liberdades ou do lado dos brasileiros que estão clamando ‘salvem nossas almas’”, em clara alusão ao “povo que está na frente dos quartéis generais pedindo para que os senhores salvem nossas almas”.

Na aludida carta, o Exército afirmou que os militares da ativa “são apartidários em suas condutas”, em resposta ao comentário de jornalista de uma emissora televisiva, que insinuou que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral tem um “espião” dentro do Alto Comando do Exército.

Segundo o comentarista, o chefe do Estado-Maior seria amigo de infância do secretário-geral da presidência do TSE e estaria, juntamente com outros dois generais, comandantes do Nordeste e do Sudeste, atuando contra a reação do Exército ao resultado da eleição presidencial, em contrariedade à posição de militares de patentes inferiores.

A carta do Exército é espécie de desagravo aos generais citados pelo comentarista, quando é feita a seguinte defesa deles: “Os oficiais-generais citados são homens honrados, profissionais dedicados e contam com todo o respeito, a amizade e admiração do Comandante do Exército e de seus pares. São militares ilibados e comprometidos com a ética profissional, comprovada ao longo de mais de 40 anos de profissão. O Exército também lamenta profundamente especulações que só se prestam para inocular a discórdia e que em nada contribuem para a resolução dos problemas vivenciados em nosso País”.

É evidente que a indagação da parlamentar tem por base as precárias e degradantes condições morais representada por aquele homem público, que foi denunciado à Justiça brasileira pela suposta prática de crimes contra a administração pública, entre os quais corrupção passiva e lavagem de dinheiro, já tendo sido julgado e condenado à prisão em dois processos, em razão das robustas provas referentes à autoria sobre a materialidade dos crimes constantes dos autor e, sobretudo, por ele não ter conseguido provar a sua inocência.

É verdade que, depois do cumprimento de parte das condenações, aquelas sentenças foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal, não por exame do mérito das ações penais, mas sim pela interpretação monocrática de ministro da corte, que foi homologada pelo plenário da corte, por maioria, no sentido de que as ações foram julgadas em jurisdição indevida, ou seja, o político deveria ter sido julgado em Brasília.

Com isso, em termos de moralidade e probidade na vida pública, o político ainda se encontra vinculado aos tribunais e somente depende dele para provar a sua inocência, que é condição sine qua non para o exercício de cargo público eletivo.

À toda evidência, o exercício de cargo público, em especial o de presidente da República, exige o preenchimento dos requisito de conduta ilibada e idoneidade moral, que, na condições atuais, o político não satisfaz, salvo se ele conseguir provar a sua inculpabilidade, porque, do contrário, não tem como justificar que cidadão respondendo a processos penais na Justiça, envolvendo denúncias sobre improbidade administrativa possa merecer as bênçãos das Forças Armadas, como se houvesse normalidade nisso, em termos do cumprimento dos princípios republicanos, quando não é o caso.

Que Brasil é este, em que as Forças Amadas silenciem diante de tamanha precariedade, dando a entender que os militares vão prestar continência para o presidente da República que não tem a menor condição de representar a dignidade moral do Estado, porque existe graves denúncias do seu envolvimento com atos irregulares, ou seja, a vida pública dele se encontra maculada por força de gravíssimas denúncias pendentes de julgamento na Justiça?

Em análise mais fria, é o mesmo que se compreender que as Forças Armadas se tornarem cúmplices com a esculhambação implantada na República, sabendo que o seu comandante-em-chefe é pessoa que já foi julgada e condenada à prisão, embora as penas tenham sido anuladas, nas condições, mencionadas acima, mas mesmo assim ainda responde na Justiça a vários processos penais, sob a suspeita da prática de crimes contra a administração pública.

A propósito, é muito importante que os brasileiros saibam sobre a nobreza da destinação das Forças Armadas, à luz do disposto no art. 142 da Constituição Federal, que estabelece que “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, Exército e Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes  e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destina-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais  e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”.

É preciso se compreender que a garantia da lei implica, por certo, que não se deva permitir, em hipótese alguma, que pessoa sem as qualificações morais exigidas, devidamente comprovadas por meio da ficha limpa, quanto aos seus atos de imaculabilidade na vida pública, possa sequer se atrever a se apresentar como representante do povo, quanto mais se habilitar para comandar o Brasil e as Forças Armadas, que são instituições que exigem o máximo de respeito, diante do grau sublime da sua dignidade.

Á toda evidência, cidadão com o currículo manchado de denúncias penais não pode, à luz dos princípios do bom senso e da razoabilidade, comandar as Forças Armadas, em grau máximo, diante da grandeza do seu conceito, no sentido de que “As Forças sempre foram as instituições mais respeitadas.”, sob o seríssimo risco de elas perderem essa honrosa avaliação da sociedade, exatamente por passarem a prestar continência à pessoa extremamente desmoralizada, que somente merece o apoio dos brasileiros igualmente sem moral alguma, diante do resultado das urnas, evidentemente.

Um país com a grandeza do Brasil não merece ser governado por pessoa incapaz de preencher os sagrados requisitos de conduta ilibada e idoneidade moral, bem assim de ter as Forças Armadas subservientes ao comandante-em-chefe sem o mínimo de dignidade moral, obviamente nas condições atuais, porque tudo isso pode mudar se ele conseguir provar a sua inculpabilidade com relação aos fatos denunciados na Justiça.

Apelam-se às Forças Armadas, sob os auspícios dos princípios mais sagradas da República, que revejam, o mais urgente possível, o seu ânimo de sentimento de prestar continência a político que é incapaz de provar a sua inculpabilidade sobre os fatos denunciados na Justiça, de modo que o seu silêncio leva à interpretação que não condiz com a seriedade e o respeito da grandeza do Brasil e do prestígio dos miliares, sob pena de cruel desmoralização de instituições dignas de veneração dos brasileiros honrados.               

Brasília, em 5 de dezembro de 2022

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