Em vídeo
que circula nas redes sociais, uma pessoa faz veemente apelo ao presidente da
República, no sentido de que ele apareça e lidere o movimento que o povo vem
realizando nas ruas, à frente dos quartéis do Exército, pedindo medidas
constitucionais contra o abuso de autoridade e a imposição aos brasileiros de votação
suspeitas de irregularidades, diante da impossibilidade de fiscalização sobre a
sua regularidade.
O aludido
apelo tem o seguinte conteúdo, in verbis: “Eu peço que o senhor tome
uma atitude de presidente. Tome uma atitude de líder maior, porque eu já tenho
motivos para pedir a prisão de (ela cita o nome de um ministro do Supremo
Tribunal Federal) e o senhor sabe disso, só falta o senhor agir pelo povo,
que sempre defendeu o senhor. O povo brasileiro está na rua acreditando que o
senhor tem a solução, que o senhor tome uma atitude, porque vai ficar muito
feito o senhor não tomar atitude nenhuma e deixar esse povo lutando sozinho na
rua. Eu já perdi a confiança, porque a gente está lutando, a gente não tem um posicionamento dentro das quatro
linhas. O senhor já tem motivos demais, foram muitas atrocidades. Esse povo
está roubando descaradamente em todos os segmentos da Justiça eleitoral e a
gente não pode fazer nada. Nós estamos na rua e o senhor vai fazer o quê? Vai
ficar aí no seu conforto, dormindo, na sua cama quentinha, enquanto esse tanto
de brasileiro está na tenda, no meio das estradas, fechando as estradas,
lutando pelo país? O povo está na rua, está fazendo o papel dele, presidente.
Tá faltando o senhor. Pelo amor de Deus, tome uma atitude. Nós achávamos que o
senhor era o cara, que o senhor ia lutar (...) Pelo amor de Deus, dá uma
posição para o povo, arregaça a manga. A sua turma tá na rua sem liderança.
Cadê o senhor, presidente, onde o senhor está? Vem pra sua lutar com o povo. Dá
uma resposta para o povo (...).”.
Infelizmente,
o silêncio do presidente do país mostra algo que muitas pessoas achavam que ele
seria absolutamente incapaz, mas a verdade é que ele demonstra, literalmente,
que tem dupla face.
Aquela que
atendia aos seus propósitos políticos, em tempos de normalidade, quando ele era
só alegria, em que ele tinha o controle da situação, na certeza de que a
votação seria favorável aos seus planos.
Como houve
o revés na votação, ele não teve estrutura humana suficiente para suportar o
baque e simplesmente desmoronou, na forma completamente inacreditável e
estranha, a ponto de se recolher até mesmo dos contatos com os seus seguidores,
inclusive nas redes sociais.
Essa
situação se torna bastante complicada, uma vez que a ideia para a interpretação
para isso é a de que ele estaria insatisfeito com seus próprios apoiadores,
que, ao contrário, vêm demonstrando muito empenho quanto aos movimentos na
frente dos quartéis, em condições precaríssimas e adversas, pedindo medidas de
socorro, tanto por parte do presidente do país como das Forças Armadas, mas os
ouvidos das autoridades ainda estão moucos e insensíveis aos clamores da
sociedade.
É verdade
que as estratégias são a alma das medidas bem sucedidas e o presidente não pode
antecipar, se é o caso, o que pretende implementar, se é que tem alguma
medida em gestação nos gabinetes palacianos, mas é do seu dever, como
estadista, dar satisfação aos seus apoiadores não somente para dizer que tem
acompanhado a mobilização da sociedade como informar que está sensível aos
fatos que estão acontecendo no país, inclusive com relação às suspeitas de irregularidades
nas eleições, para o que vem estudando a viabilidade de medidas pertinentes ao
aos casos.
O que não
se concebe é precisamente esse comportamento de total distanciamento dos seus
eleitores, porque isso não condiz com aquela pessoa vibrante, sonhadora e cheia
de motivação com todos os assuntos da vida política, que parece que teriam
perdido o encanto.
Não
obstante, a ideia que se tem é que o presidente do país perdeu, por completo, o
prazer pela política e pelo relacionamento com seus seguidores.
Há quem até
questione o movimento das pessoas na frente dos quartéis, reivindicando, em
especial, por medidas contra o resultado das urnas, o que é pode ser verdade,
mas é preciso um pouco de compreensão no sentido de que, caso se permita a verificação
da fonte de acesso às urnas, tudo poderia se resolver pacificamente, exatamente
em harmonia com o salutar princípio da transparência, por meio do qual é
possível se evidenciar a regularidade dos procedimentos adotadas no processo
eleitoral.
Aliás,
essa forma cristalina de se defender a pureza dos princípios democrático e
republicano apenas se harmoniza com a normalidade administrativa, em que todos
os atos de incumbência do Estado precisam ser absolutamente transparentes, de
modo que não se permita a existência de quaisquer dúvidas acerca de nada que
seja da sua incumbência constitucional, como é o caso da operacionalidade do
sistema eleitoral, que não pode impedir o acesso aos instrumentos capazes de se
permitirem os procedimentos de fiscalização, por quem de direito, aos meandros
das urnas eletrônicas, que são invioláveis somente com relação ao sigilo do
voto, mas jamais quanto à sua regularidade, que somente se aquilata por meio da
devida fiscalização, pari passu, da votação.
É evidente
que o povo está nas ruas clamando por transparência sobre o resultado das
urnas, no sentido de que se mostre que não existe nada que não possa ser
transparente, diante do que se tenha a absoluta certeza de que o jogo político tenha
transcorrido exatamente em sintonia com a necessária regularidade que se impõe no
caso da escolha dos representantes políticos, sob a égide dos princípios
republicano e democrático.
No caso de
resistência à disponibilização dos elementos indispensáveis à normal fiscalização,
que tem previsão legal para tanto, sempre fica a inafastável suspeita de que
algo sujo, errado e inaceitável pode sim existir, evidentemente com a
finalidade de acobertamento e beneficiar indevidamente interesses e, ao mesmo
tempo, prejudicar outros, em evidente contraponto aos princípios democráticos e
de civilidade.
Enfim, convém que o presidente da República retome o gosto pela política e volte a demonstrar empenho e disposição para os importantes assuntos de interesse nacional, em especial quanto à solução dessa gravíssima crise que vem prejudicando a normalidade republicana e democrática, observados fielmente, para tanto, os ditames constitucionais.
Brasília, em 1º de dezembro de
2022
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