quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Grito do povo!

 

Em vídeo que circula nas redes sociais, uma pessoa faz veemente apelo ao presidente da República, no sentido de que ele apareça e lidere o movimento que o povo vem realizando nas ruas, à frente dos quartéis do Exército, pedindo medidas constitucionais contra o abuso de autoridade e a imposição aos brasileiros de votação suspeitas de irregularidades, diante da impossibilidade de fiscalização sobre a sua regularidade.

O aludido apelo tem o seguinte conteúdo, in verbis: “Eu peço que o senhor tome uma atitude de presidente. Tome uma atitude de líder maior, porque eu já tenho motivos para pedir a prisão de (ela cita o nome de um ministro do Supremo Tribunal Federal) e o senhor sabe disso, só falta o senhor agir pelo povo, que sempre defendeu o senhor. O povo brasileiro está na rua acreditando que o senhor tem a solução, que o senhor tome uma atitude, porque vai ficar muito feito o senhor não tomar atitude nenhuma e deixar esse povo lutando sozinho na rua. Eu já perdi a confiança, porque a gente está lutando, a gente  não tem um posicionamento dentro das quatro linhas. O senhor já tem motivos demais, foram muitas atrocidades. Esse povo está roubando descaradamente em todos os segmentos da Justiça eleitoral e a gente não pode fazer nada. Nós estamos na rua e o senhor vai fazer o quê? Vai ficar aí no seu conforto, dormindo, na sua cama quentinha, enquanto esse tanto de brasileiro está na tenda, no meio das estradas, fechando as estradas, lutando pelo país? O povo está na rua, está fazendo o papel dele, presidente. Tá faltando o senhor. Pelo amor de Deus, tome uma atitude. Nós achávamos que o senhor era o cara, que o senhor ia lutar (...) Pelo amor de Deus, dá uma posição para o povo, arregaça a manga. A sua turma tá na rua sem liderança. Cadê o senhor, presidente, onde o senhor está? Vem pra sua lutar com o povo. Dá uma resposta para o povo (...).”.  

Infelizmente, o silêncio do presidente do país mostra algo que muitas pessoas achavam que ele seria absolutamente incapaz, mas a verdade é que ele demonstra, literalmente, que tem dupla face.

Aquela que atendia aos seus propósitos políticos, em tempos de normalidade, quando ele era só alegria, em que ele tinha o controle da situação, na certeza de que a votação seria favorável aos seus planos.

Como houve o revés na votação, ele não teve estrutura humana suficiente para suportar o baque e simplesmente desmoronou, na forma completamente inacreditável e estranha, a ponto de se recolher até mesmo dos contatos com os seus seguidores, inclusive nas redes sociais.

Essa situação se torna bastante complicada, uma vez que a ideia para a interpretação para isso é a de que ele estaria insatisfeito com seus próprios apoiadores, que, ao contrário, vêm demonstrando muito empenho quanto aos movimentos na frente dos quartéis, em condições precaríssimas e adversas, pedindo medidas de socorro, tanto por parte do presidente do país como das Forças Armadas, mas os ouvidos das autoridades ainda estão moucos e insensíveis aos clamores da sociedade.

É verdade que as estratégias são a alma das medidas bem sucedidas e o presidente não pode antecipar, se é o caso, o que pretende implementar, se  é que tem alguma medida em gestação nos gabinetes palacianos, mas é do seu dever, como estadista, dar satisfação aos seus apoiadores não somente para dizer que tem acompanhado a mobilização da sociedade como informar que está sensível aos fatos que estão acontecendo no país, inclusive com relação às suspeitas de irregularidades nas eleições, para o que vem estudando a viabilidade de medidas pertinentes ao aos casos.

O que não se concebe é precisamente esse comportamento de total distanciamento dos seus eleitores, porque isso não condiz com aquela pessoa vibrante, sonhadora e cheia de motivação com todos os assuntos da vida política, que parece que teriam perdido o encanto.

Não obstante, a ideia que se tem é que o presidente do país perdeu, por completo, o prazer pela política e pelo relacionamento com seus seguidores.

Há quem até questione o movimento das pessoas na frente dos quartéis, reivindicando, em especial, por medidas contra o resultado das urnas, o que é pode ser verdade, mas é preciso um pouco de compreensão no sentido de que, caso se permita a verificação da fonte de acesso às urnas, tudo poderia se resolver pacificamente, exatamente em harmonia com o salutar princípio da transparência, por meio do qual é possível se evidenciar a regularidade dos procedimentos adotadas no processo eleitoral.

Aliás, essa forma cristalina de se defender a pureza dos princípios democrático e republicano apenas se harmoniza com a normalidade administrativa, em que todos os atos de incumbência do Estado precisam ser absolutamente transparentes, de modo que não se permita a existência de quaisquer dúvidas acerca de nada que seja da sua incumbência constitucional, como é o caso da operacionalidade do sistema eleitoral, que não pode impedir o acesso aos instrumentos capazes de se permitirem os procedimentos de fiscalização, por quem de direito, aos meandros das urnas eletrônicas, que são invioláveis somente com relação ao sigilo do voto, mas jamais quanto à sua regularidade, que somente se aquilata por meio da devida fiscalização, pari passu, da votação.

É evidente que o povo está nas ruas clamando por transparência sobre o resultado das urnas, no sentido de que se mostre que não existe nada que não possa ser transparente, diante do que se tenha a absoluta certeza de que o jogo político tenha transcorrido exatamente em sintonia com a necessária regularidade que se impõe no caso da escolha dos representantes políticos, sob a égide dos princípios republicano e democrático.

No caso de resistência à disponibilização dos elementos indispensáveis à normal fiscalização, que tem previsão legal para tanto, sempre fica a inafastável suspeita de que algo sujo, errado e inaceitável pode sim existir, evidentemente com a finalidade de acobertamento e beneficiar indevidamente interesses e, ao mesmo tempo, prejudicar outros, em evidente contraponto aos princípios democráticos e de civilidade.  

Enfim, convém que o presidente da República retome o gosto pela política e volte a demonstrar empenho e disposição para os importantes assuntos de interesse nacional, em especial quanto à solução dessa gravíssima crise que vem  prejudicando a normalidade republicana e democrática, observados fielmente, para tanto, os ditames constitucionais. 

Brasília, em 1º de dezembro de 2022

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