quinta-feira, 11 de julho de 2024

Diaconato

Segundo as conclusões do Sínodo aberto em 2021, as mulheres devem desempenhar missão maior na Igreja Católica, mas o diaconato, que foi um dos tema de discussão desse encontro, continua vetado para elas, sem esperança de mudança do status quo.

Vejam-se que a contemplação do diaconato às mulheres seria a permissão do desempenho de atividades inferiores ao sacerdócio, bem menos do que o presbiterato, mas, ainda assim, já se contaria como evolução do pensamento da Igreja Católica.

O referido Sínodo teve por finalidade a realização de ampla consulta iniciada por determinação do papa sobre o futuro da Igreja Católica e a sua doutrina acerca de uma série de assuntos pertinentes a essa instituição, tendo contado com a participação de leigos nas atividades paroquiais, principalmente no que se refere à inserção das mulheres em funções litúrgicas, além de questões relacionadas com o divórcio, a homossexualidade, a pobreza, o individualismo e a poligamia.

Desde que iniciou o comando da Igreja Católica, em 2013, o papa propôs, sem sucesso, reformar e mudar atividades institucionalizadas na sua composição funcional, evidentemente na busca da modernização adequada à evolução da humanidade, como forma da obtenção de mais proximidade dela com os fiéis. 

No âmbito dos debates em paróquias de todo o mundo, na forma prevista no citado Sínodo, foi produzido, em outubro de 2023, o "documento de síntese", com a sinalização dos temas centrais para a discussão sobre o futuro da Igreja, entre os quais constava o lugar das mulheres nela, mas essa questão seguirá causando eternas divisões no seio da instituição, evidentemente sem esperanças para a ala feminista, ante o pragmatismo dos religiosos conservadores.

Em tom muito mais de pura contradição, ante o desfecho sobre o assunto, o Vaticano expediu nota esclarecendo os trabalhos do Sínodo "evidenciaram a necessidade de dar um reconhecimento mais pleno (...) ao papel das mulheres em todos os âmbitos da vida da Igreja", ou seja, é preciso se reconhecer, de forma marota, a importância da participação da mulher, na igreja, sem que ela possa desempenhar missão nobre e relevante dentro da igreja, fato esse que somente mostra, literalmente, a involução e a contradição do posicionamento da instituição.

Vejam só que desculpas mais absurdas e demagógicas, quando bispos "reconhecem que existem muitos âmbitos da vida eclesial abertos à participação das mulheres", no entanto, lamentam que "essas oportunidades de participação muitas vezes não sejam utilizadas", que é o mesmo que se afirmar que não tem espaço para as mulheres dentro da igreja, quando seria muito mais elegante e honesto se afirmar direta e conclusivamente que somente os homens podem fazer tudo na igreja, permitindo-se apenas o auxílio das mulheres.

Esses bispos tiveram a pachorra de sugerir, pasmem, que seja "promovido o conhecimento dessas possibilidades e incentivado seu desenvolvimento subsequente, incluindo cargos de responsabilidade pastoral ou em outras formas ministeriais e pastorais", sem mencionar quais atividades, cujas funções não condizem, em absoluto, com a importância e a dignidade da mulher, que é tratada apenas como serviçal secundária dos homens, em visível humilhação à inteligência delas, aceitando assim que elas possam exercer funções menores daquelas feitas pelos homens, em clara forma de discriminação à dignidade e à capacidade delas.

A verdade precisa ficar escancarada sobre esse tema referente ao papel da mulher, na Igreja Católica, porque ele vem sendo tratado sob o prisma inadequado do machismo, que é muito nítido, por não haver a menor justificativa que impeça que ela não possa participar plena e efetivamente de todos os assuntos eclesiais, salvo o forte preconceito que impera nas inexplicáveis mentes conservadoras da igreja.

À luz do essencial cristianismo, seria da maior importância a ativa participação da mulher nas atividades da igreja, contribuição essa que seria forma de elevação à estrutura dos princípios religiosos, que ressentem do acesso dela ao essencial convívio perante os fiéis, tendo a possibilidade da inserção do emprego de linguagem mais inclusiva, em harmonia com a universalização da religião.

Enfim, à vista do exposto, não precisa de muito esforço para se compreender que a participação das mulheres, na Igreja Católica, tem sido visivelmente relegada às funções menores e marginais, quando elas poderiam exercer funções relevantes e expressivas, como efetiva contribuição ao engrandecimento da importante missão de evangelização, de modo que essa necessária mudança se traduziria na evolução e na modernização tão necessárias da instituição.

            Brasília, em 11 de julho de 2024 

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