terça-feira, 9 de julho de 2024

Querelas pessoais

 

O presidente brasileiro afirmou que seu homólogo argentino deveria pedir desculpas em razão da quantidade de afirmações agressivas feitas sobre o brasileiro, tendo condicionado que conversas entre os dois somente depois do pedido de desculpas.

A autoridade tupiniquim esclareceu, na ocasião, que, durante a reunião do G7, na Itália, há duas semanas, "Não conversei com o presidente da Argentina, porque acho que ele tem que pedir desculpas ao Brasil e a mim. Ele falou muita bobagem. Só quero que ele peça desculpas".

O ressentido brasileiro declarou que "A Argentina é um país que eu gosto muito e é um país muito importante para o Brasil. E o Brasil é muito importante para a Argentina. Não é um presidente da República que vai criar uma cisão. O povo argentino e brasileiro é maior que os seus presidentes. E eles querem viver bem, viver em paz".

Acontece que o presidente argentino rejeitou o pedido de desculpas sugerido pelo brasileiro e, ao invés, de não o fazer, ainda o chamou de "esquerdinha com o ego inflado".

O argentino afirmou que "É preciso colocar-se acima dessas bobagens porque os interesses dos argentinos e dos brasileiros são mais importantes do que o ego inflado de algum esquerdinha", em referência ao pedido de desculpas do brasileiro.

Um assessor da Casa Rosada disse que o argentino "não cometeu nada de que tenha que se arrepender, ao menos por ora", embora, nessa questão, o argentino jamais deveria se intrometer, por questão de civilidade e maturidade políticas.

Na verdade, os atritos entre os dois presidentes vêm de longa data, desde a campanha eleitoral do argentino, quando ele chegou a dizer que não se reuniria com o brasileiro como chefe de Estado e ainda o chamou de comunista e corrupto, além de ter mencionado que o brasileiro esteve na prisão.

O certo é que o brasileiro apoio o adversário do argentino, o candidato do peronismo derrotado.

Como visto, o esforço do brasileiro de obter desculpas formais do argentino foi completamente em vão, com vistas à aproximação de ambos os presidentes, uma vez que o argentino continua entendendo que os atributos negativos do presidente tupiniquim são incompatíveis com o relevante cargo presidencial.

O certo é que, em nível diplomático, o argentino deveria ter se pautado sob os princípios de civilidade, evitando comentar sobre os predicativos nefastos do brasileiro, embora ele apenas teria dito apenas a verdade sobre os fatos julgados na Justiça.

A verdade é que o ex-presidiário não conseguiu comprovar a sua inocência acerca dos fatos irregulares denunciados perante a Justiça brasileira, conforme mostram os autos, no sentido de que ele se beneficiou indevidamente de recursos públicos, se não, do contrário, ele jamais teria sido condenado à prisão, em face da constatação da prática dos crimes imputados à autoria dele.

Não obstante, essas questões não dizem respeito aos interesses senão dos brasileiros, dispensando comentários de outros países ou pessoas deles, à vista da autonomia e da independência institucionalizadas entre as nações.

Ou seja, pouco importa o que aconteça no Brasil ou na Argentina, é de bom tom que ninguém se julgue no direito de criticar as pessoas do país adversário, ante a predominância da regra básica inerente à diplomacia internacional de não interferência nos assuntos dos outros países.

Em conclusão, tem-se que não caberia ao atual presidente da Argentina ter criticado o presidente do Brasil e muito menos o brasileiro querer pedido de desculpas daquele, uma vez que os assuntos estão fora do contexto que interessa aos negócios propriamente das nações, o que vale se afirmar que são questões estritamente pessoais e não de Estado.

Em termos dos interesses dos dois países, importa que as suas relações diplomáticas e negociais progridam em ritmo de normalidade, mantido o respeito entre ambos os países, em padrão de qualidade de nações civilizadas, observados os princípios institucionalizados, inerentes às suas autonomias, à luz do Direito Internacional.      

Brasília, em 9 de julho de 2024

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