quinta-feira, 14 de março de 2013

A bolsa do desperdício


Em consequência das acerbadas críticas sobre problemas que afetam o programa Bolsa Família, alguns ministros se apressaram em defender a sua execução, como o secretário-geral da Presidência da República, que o ressaltou como sendo uma das principais vitrines do PT, apesar de reconhecer a existência de “erros e limitações na tentativa de tirar milhões de brasileiros da miséria.”. Na sua avaliação, a ascensão social de milhares de brasileiros, verificado nos últimos anos, é decorrente da vontade política e da determinação de ser priorizada a assistência aos brasileiros situados na faixa de extrema pobreza. O ministro disse que "Nada disso que está acontecendo no Brasil acontece por alguma ação ou com algum princípio de inércia. É uma vontade política de estar com o povo, mesmo com todos os erros nossos, que nós reconhecemos, mesmo com todas as limitações". Ele admite que haja fraudes na execução desse programa, conforme vem detectando os órgãos de fiscalização e controle, embora não se mostrasse preocupado em erradicá-las, como era de se esperar que o governo se interessasse em manter assistencialismo com total eficiência, em especial quanto à certeza da regularidade dos gastos públicos, que tiveram recente expansão, atingindo a marca de 22 milhões de pessoas, situadas na faixa de extrema pobreza. Como se sabe, as famílias atendidas pelo Bolsa Família terão renda mensal mínima de R$ 70 por pessoa, que é o limite abaixo do qual se configura a miséria. Não há dúvida de que é dever do Estado combater a miséria, mas o conjunto de procedimentos e ações empreendidos não pode menosprezar critérios essenciais de satisfação da regularidade da aplicação de recursos públicos, de modo que haja eficiência no cadastramento dos beneficiários e no pagamento a quem efetivamente se enquadra como carente à assistência oficial. Segundo o resultado de auditorias, foram constatados pagamentos a famílias com renda superior ao teto do benefício e outras por possuírem bens, automóveis ou até manterem negócios, indicando atos irregulares, por constituírem segunda fonte de renda, além de evidenciarem grave falta de controle e desvio de recursos públicos. Das falhas detectadas, as mais graves são a falta de controle de cadastramento e a ausência de critérios que obriguem a frequência dos beneficiários em cursos de alfabetização a jovens e adultos, para que eles se conscientizem quanto às reais condições de cidadania, e de capacitação profissional, como cursos profissionalizantes, a exemplo de pedreiro, marceneiro, padeiro, eletricista, costureira, doceira etc., como instrumento capaz de preparar cidadãos em condições de superar a difícil situação de extrema vulnerabilidade e pobreza, exatamente porque, por sua própria iniciativa, o programa continuará infrutífero e improdutivo, sem valia para a formação de cidadãos dignos e responsáveis por sua autonomia, quanto ao sustento da sua família. Na realidade, o governo se “empenha” e se “sacrifica” em promover o sustento de milhões de brasileiros, mesmo consciente sobre a existência das falhas e deficiências estruturais na execução do programa, porque tem a convicção de que se trata de investimento garantidor de prestígio junto ao eleitorado, potencialmente capaz de marcar presença favorável nos resultados dos pleitos eleitorais dos seus aliados. A sociedade anseia por que o governo se conscientize, com urgência, de que o programa Bolsa Família deve servir como instrumento capaz de dignificar o ser humano, mediante a sua valorização e qualificação profissionais, servindo também como meio essencial para abolir a pobreza intelectual, sem embargo da adoção de controles eficientes da sua execução, como forma de garantir o regular e bom emprego dos recursos públicos, indispensáveis nas despesas do Estado. Acorda, Brasil!    
 

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 

Brasília, em 13 de março de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário