segunda-feira, 18 de março de 2013

Todo crime é condenável

Um dos 115 cardeais que recentemente participaram da eleição do papa, que é arcebispo da África do Sul, defendeu a pedofilia como sendo uma "doença psicológica”, ao invés de "uma condição criminal". A sua manifestação provocou indignação entre especialistas e vítimas de abusos de sacerdotes da Igreja Católica. Em entrevista à Radio 5, da BBC, o cardeal disse que, de forma geral, os pedófilos são pessoas que sofreram abusos quando eram crianças e por isso eles precisam ser examinados por médicos especializados, por se tratar de condição psicológica, uma desordem. Ele indagou: "O que você faz com transtornos? Você tem que tentar consertá-los.". E concluiu: "Agora não me diga que essas pessoas (pedófilos) são criminalmente responsáveis, como alguém que escolhe fazer algo assim. Eu não acho que você pode realmente tomar a posição de dizer que a pessoa mereça ser punida. Ele mesmo foi afetado (na infância).". É lamentável que esse religioso invoque o direito de se cometer crime sob a justificativa de ter sido vítima de delito semelhante. Não deixa de ser uma opinião inapropriada e descompassada com o momento em que a Igreja tem suas bases abaladas em virtude dos escândalos de abusos sexuais cometidos por seus sacerdotes. Esses indignos posicionamentos merecem o amplo repúdio da humanidade não somente dos especialistas, vítimas dos padres pedófilos e grupos de defesa dos direitos das crianças. Não há dúvida de que a pedofilia é um desvio mental, uma doença, passível de criminalização como os demais casos que agridem e causam danos ao ser humano. Não se pode mais tolerar, na atualidade, que autoridades católicas continuem protegendo, sob o manto de suas pomposas batinas, os criminosos pedófilos, sem a devida punição, como forma de manter esses delitos sob segredo da Igreja. A maior cretinice dentro da Igreja é a tentativa de defender, de forma injustificada, os crimes que ocorrem sob seu teto, porque bandidagem não combina com os princípios cristãos. Os posicionamentos dessa natureza, ao contrário do preconizado pelo religioso, são altamente prejudiciais ao fortalecimento da Igreja, porque certamente não correspondem aos princípios da sua instituição, que têm como fundamento a pregação de procedimentos moralizadores e edificantes, não condizentes com os desvios comportamentais que vêm ajudando ao afastamento de fiéis dos templos, ante a falta de interesse da cúpula da Igreja de se posicionar na forma compatível com a sua doutrina de seriedade e de transparência, em nome da verdade e da construção da dignidade humana, conforme ensinamento do seu inspirador, o mestre Jesus Cristo. É evidente que os avanços, as modernidades e as conquistas da humanidade devem influenciar igualmente a evolução da Igreja, apenas quanto aos princípios edificantes que devem ser aproveitados em benefícios dos fiéis, que são a razão da sua existência, mas as falhas, os defeitos e desvios de conduta devem ser tratados com a seriedade compatível com preceitos fundamentais da dignidade humana, sob pena de ser acentuado o progressivo afastamento dos seus fiéis seguidores, exatamente pelo descrédito diante da fraqueza ideológica de religiosos como esse sul-africano, que melhor contribuiria para os desígnios da Igreja se não tivesse se manifestado com tamanha infelicidade. No momento em que a Igreja Católica busca um pouco de equilíbrio e de racionalidade no entendimento e equacionamento quanto aos desacertos identificados por parte de seus integrantes, no que diz respeito à disseminação do abominável crime de pedofilia onde jamais deveriam ocorrer, a opinião desse suspeito e despreparado religioso destoa barbaramente do bom senso católico e conspira contra a seriedade que a humanidade espera para o enfrentamento do problema da pedofilia no âmbito da Igreja, que deve ser discutido com conscientização cristã e alta ponderação, sem posicionamento corporativo, que nem sempre contribui para a solução satisfatória das causas discutidas. O simples entendimento do caso como sendo meramente psicológico já mostra a tentativa de passar a mão sobre a gravidade da questão no seu contexto mais amplo, que é a violência contra o ser humano, contrariando os verdadeiros princípios cristãos, que pregam primacialmente o respeito à dignidade humana. A humanidade anseia por que vozes mais abalizadas se manifestem em defesa da verdade sobre a necessidade não somente de punir, mas de banir os criminosos do âmbito da Igreja da Católica, como forma de angariar a confiança e o respeito inspiradores da humanidade por parte de quem é responsável pela disseminação dos belos e puros ensinamentos do mestre Jesus Cristo.
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 17 de março de 2013

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